Uma pesquisa do Sebrae revelou que as micro e pequenas empresas (MPEs) ainda resistem à adoção das diretrizes ESG (sigla inglesa para Ambiental, Social e Governança), focadas em práticas de sustentabilidade e ações sociais. Embora o tema ganhe espaço no meio corporativo, ele segue distante das prioridades desse segmento.
Especialistas apontam que o modelo ESG enfrenta críticas pela falta de padronização e pelo risco de “greenwashing” — uma espécie de “verniz verde” que busca atrair consumidores preocupados com o meio ambiente, mas muitas vezes não reflete mudanças concretas nas operações da empresa.
Práticas ESG ainda não são uma prioridade
A pesquisa mostra que apenas 48% das micro e pequenas empresas adotam “práticas de integridade”, como um código de ética ou canal de denúncias. Além disso, 59% não possuem políticas escritas contra trabalho infantil ou escravo.
A implementação de práticas sustentáveis continua sendo um desafio para essas empresas. Apenas 18% fazem gestão da cadeia de fornecedores para evitar práticas de exploração. Sobre a adoção de critérios de sustentabilidade para compras, 29,88% buscam materiais mais sustentáveis, mas apenas se não forem mais caros.
Importância da sustentabilidade em queda
A pesquisa mostra uma queda significativa na importância atribuída à sustentabilidade pelas empresas. Em 2018, 63% consideravam a sustentabilidade “muito importante”, enquanto agora apenas 29% mantêm essa percepção. O total de empresas que vêem a sustentabilidade como “importante” ou “muito importante” caiu de 97% para 71%.
Por outro lado, aquelas que consideram a sustentabilidade “pouco importante” ou “sem importância” subiram de 2% para 25%. Esse cenário pode indicar falta de interesse e crença sobre supostos benefícios de longo prazo das práticas sustentáveis, como redução de custos e melhora da reputação.
Desafios na adoção de boas práticas de governança
A pesquisa mostra que apenas 14,19% das pequenas empresas possuem políticas sobre boas práticas ambientais e sociais. Além disso, 41% têm códigos contra discriminação e 55% políticas de privacidade de dados pessoais.
A falta de engajamento com ESG e a baixa valorização da sustentabilidade mostram resistência do setor em se adaptar às demandas políticas por supostas práticas mais responsáveis social e ambientalmente.
Críticas ao ESG
As críticas ao ESG têm se intensificado nos últimos anos, e várias delas se concentram em aspectos como falta de padronização, inconsistências e o risco de greenwashing.
Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) um dos principais problemas é a falta de critérios claros e iguais para avaliar as empresas. Isso significa que cada empresa ou avaliador pode usar diferentes métodos, o que torna difícil comparar uma empresa com outra.
Em outras palavras, como cada um mede o ESG de forma diferente, fica complicado saber quem realmente está indo bem nessas práticas e comparar empresas de forma justa.
Além disso, o ESG tem sido acusado de facilitar a prática de greenwashing, onde empresas destacam suas iniciativas ambientais e sociais por meio de campanhas de marketing, mas muitas vezes não fazem mudanças substanciais em suas operações. Isso tem sido visto como uma forma de enganar investidores e consumidores.
O CEO da BlackRock, Larry Fink, declarou que deixou de usar o termo “ESG” devido à crescente politização do conceito, especialmente nos Estados Unidos. Ele propôs utilizar a expressão “sustentabilidade empresarial” para descrever práticas focadas em questões de descarbonização e governança corporativa.
Kenneth P. Pucker, professor na Fletcher School da Universidade Tufts e ex-diretor de operações da Timberland e Andrew King, professor de Gestão, Estratégia e Inovação na Universidade de Boston, em um artigo da Harvard Business Review criticam o investimento ESG por não focar em problemas relevantes.
Segundo eles, a ESG visa maximizar lucros dos acionistas, e não promover impacto ambiental positivo. Segundo eles, a ideia de que o ESG “salva o planeta” é equivocada.