O panorama das eleições municipais em São Paulo começa a ganhar contornos definidos, com as convenções partidárias que se iniciaram no último fim de semana. O principal destaque é a polarização entre as duas maiores candidaturas: a do atual prefeito da capital paulista Ricardo Nunes (MDB), apoiado pelo ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e a de Guilherme Boulos (PSOL), endossado pelo atual chefe do Executivo federal, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O traço mais marcante das coligações majoritárias é a escolha dos vices. Em ambos os casos, os partidos dos dois últimos presidentes do Brasil impuseram seus nomes nas respectivas chapas.
Chapa PSol-PT: Boulos com Marta Suplicy e Lula
No sábado (20), ao confirmar Boulos como seu candidato à prefeitura, o PSol também anunciou a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT) como vice. Apesar das desavenças que ela teve com o atual presidente da República, Marta voltou ao partido de Lula após 9 anos – ela foi filiada ao PT de 1981 a 2015.
Nesse ínterim, transitou entre o MDB e o Solidariedade. Chegou a ser secretária municipal de Relações Internacionais na gestão de Bruno Covas, que faleceu em 2021 e tinha como vice o atual prefeito de São Paulo. O presidente esteve presente com Boulos e Marta no evento.
A importância dada pelo governo Lula à eleição em São Paulo é tamanha que, além do petista, seis ministros compareceram à convenção – entre eles, Fernando Haddad (Fazenda). A deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) também discursou no evento.
Chapa MDB-PL: Nunes com Mello Araújo e Bolsonaro
Enquanto isso, o PL oficializou na segunda-feira (22) o nome do coronel Ricardo de Mello Araújo para ser o candidato a vice na chapa de Nunes. Em evento discreto, mas com a presença do atual prefeito, o coronel foi indicado por Bolsonaro ao posto, além de também receber a bênção do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Entre 2017 e 2019, Mello Araújo foi comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) – tropa de choque da Polícia Militar paulista. De 2020 a 2023, foi presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), por indicação de Bolsonaro.
Segundo o ex-comandante da estatal, a empresa era palco de prostituição, corrupção e tráfico de drogas antes de iniciar sua gestão – crimes que ele afirmou combater durante seu tempo à frente do órgão. Na época, foi elogiado reiteradamente por Bolsonaro, motivo pelo qual o ex-presidente indicou o coronel a Nunes.
Prefeito oficializa candidatura no começo de agosto
A convenção partidária do MDB, que irá confirmar a candidatura de Nunes, está marcada para 3 de agosto, às 10h, no estacionamento da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Bolsonaro confirmou presença no evento, ao lado de Mello Araújo.
Segundo a legenda, também estarão presentes lideranças locais e nacionais, além de seguidores do partido e pré-candidatos a vereador de siglas que apoiam a reeleição do emedebista.
Nunes deve ter a maior coligação do pleito para a capital paulista, com onze partidos. Além do MDB e do PL, a expectativa é que se juntem Republicanos, PP, PSD, PP, Solidariedade, Podemos, PRD, Mobiliza, Avante e União Brasil.
Esta última legenda, apesar das divergências internas, tende a confirmar apoio ao prefeito. Nunes tem relação próxima com o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite, que é filiado ao União Brasil.
Já a coligação de Boulos conta com as siglas PDT, PV, Rede, PMB, PCB e PCdoB – somadas às cabeças da chapa, PSol e PT.
Candidaturas menores tentam quebrar polarização
Como terceira opção, principalmente para tentar tomar votos de apoiadores de Bolsonaro, desponta o influenciador e empresário Pablo Marçal (PRTB). Ele fortaleceu sua equipe jurídica para afastar possíveis contestações ao seu nome na disputa eleitoral, que ainda não foi oficializada.
Marçal contará com o apoio dos advogados Gustavo Guedes e Thiago Boverio, ambos com trânsito no meio político. O segundo representa o PSD, de Gilberto Kassab, e atuou em casos do governador Tarcísio. Já o primeiro ajudou a livrar o senador Sergio Moro (União-PR) de perder seu mandato, em processo que apurava suposto abuso de poder econômico. Guedes também é advogado do ex-presidente Michel Temer (MDB).
O Partido Novo oficializou a economista Marina Helena como sua candidata à prefeitura no domingo (21). Seu vice será o coronel da PM Reynaldo Priell Neto, também filiado ao Novo. Helena foi secretária de Desestatização no governo Bolsonaro, e também pode conquistar votos de apoiadores do ex-presidente que seriam direcionados a Nunes.
Pelo outro lado, a deputada federal Tábata Amaral (PSB), filiada ao partido do vice-presidente da República Geraldo Alckmin, anunciou sua pré-candidatura. Porém, assim como a de Marçal, ainda não foi confirmada. A parlamentar pode roubar votos de eleitores de Lula que iriam para Boulos, na disputa paulistana.