Órgãos transplantados com HIV: após investigação policial, Justiça mantém presos quatro funcionários no RJ

Por Redação Epoch Times Brasil
20/10/2024 00:10 Atualizado: 20/10/2024 00:10

A Polícia Civil do Rio de Janeiro concluiu a primeira fase da investigação sobre os exames de transplante com resultados equivocados, que detectaram HIV em órgãos e tiveram como consequência a contaminação do vírus em seis pacientes

Na sexta-feira (18), a Justiça decidiu manter a prisão temporária de quatro funcionários do laboratório PCS Saleme, implicados no caso.

Entre os presos, o biólogo aposentado Cleber de Oliveira Santos afirmou em depoimento que sua contratação foi verbal. Além disso, disse que foi substituído em 20 de janeiro de 2024, dias antes da realização do primeiro exame com resultado falso negativo, ocorrido em 23 de janeiro.

Cleber declarou que, enquanto coordenador, sempre exigiu o controle de qualidade diário dos equipamentos.

Outros depoimentos, como o dos técnicos de laboratório Jacqueline Bacellar e Ivanílson Fernandes dos Santos, ambos também presos, relataram ter recebido ordens para economizar no controle de qualidade dos exames.

Segundo Bacellar, a ordem veio diretamente de Walter Vieira, dono da clínica, que também está preso. O proprietário determinou que a calibração dos aparelhos, que deve ser diária, fosse realizada apenas uma vez por semana, de acordo com ela — comprometendo a segurança dos resultados.

Bacellar ainda revelou que os funcionários foram informados previamente sobre uma fiscalização da Vigilância Sanitária, realizada no Instituto Estadual de Cardiologia (Iecac). Ela disse que foi alertada num grupo de WhatsApp, no dia 5 de outubro, e ajustes foram feitos para assegurar à fiscalização uma boa impressão da sala.

A coordenadora técnica do laboratório e substituta de Cleber, Adriana Vargas, não foi presa, mas também depôs. Em seu testemunho, ela negou ter ordenado qualquer mudança nos protocolos referentes ao controle de qualidade, e afirmou que sua função era apenas supervisionar os técnicos.

Matheus Vieira, filho de Walter e também sócio do laboratório, inicialmente manteve silêncio durante seu depoimento, mas depois se manifestou, negando que houvesse redução na frequência do controle de qualidade. Matheus, que também está preso, também contestou que o laboratório soubesse antecipadamente sobre a fiscalização.

O Ministério Público (MP) enviou novas acusações à Justiça, apontando que o PCS Saleme já emitiu diversos laudos com resultados falsos positivos e negativos para HIV, afetando até crianças. 

Nas palavras do MP, “os erros nos laudos representam total desrespeito à vida, movida pela ganância e pelo lucro, algo sem precedentes no Brasil”.

Os promotores acrescentam que, tanto o laboratório quanto os investigados, respondem a inúmeras ações indenizatórias por danos morais e materiais.