O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recomendou na quinta-feira (19) ao governo federal a retomada do horário de verão no Brasil. A sugestão busca melhorar a eficiência energética, aproveitando a luz natural para reduzir o consumo de eletricidade nos horários de pico, mas a eficácia da medida ainda é questionada.
O ONS coordena e controla a geração e transmissão de energia no Brasil. Regulamentado pela ANEEL, o ONS atua junto a empresas do setor elétrico para equilibrar a oferta e demanda de energia, especialmente em crises como a hídrica.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, informou que a decisão será tomada nos próximos dias, após análise dos impactos econômicos e sociais. A expectativa é que, se adotada, a medida ajude a equilibrar o consumo de energia nos meses mais críticos.
Apoio da população
Além dos aspectos técnicos, a medida tem apoio da maioria da população. Uma pesquisa do Reclame AQUI e Abrasel mostra que 54,9% dos brasileiros apoiam o retorno do horário de verão, com maior adesão no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde o aproveitamento da luz solar é maior, especialmente no fim da tarde, quando o consumo de energia cresce.
A pesquisa mostrou maior adesão ao horário de verão em áreas urbanas, onde a mudança favorece o consumo doméstico e setores como comércio e turismo. Bares e restaurantes tendem a registrar aumento no movimento e nas receitas com mais horas de luz.
Por outro lado, uma parte significativa da população se opõe ao horário de verão, especialmente no Norte e Nordeste, onde a economia de energia é menos perceptível. Também há preocupações com os efeitos da medida na saúde.
Impactos positivos da medida
A pesquisa mostra que o horário de verão impacta positivamente a saúde para parte da população. Dos que percebem mudanças, 36,1% afirmam melhora, 22,8% relatam efeitos negativos, 35,5% não notam diferença e 5,6% não souberam opinar.
“Lógico que qualquer economia, mesmo que pequena, é bem-vinda. Mas o impacto benéfico acontece também no comércio, no turismo, na saúde, na segurança pública, em diversas outras áreas. Não à toa, a mudança nos relógios é adotada em 70 países do mundo”, afirma Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.
O estudo também aponta benefícios para lazer e atividades físicas: 47,9% dos entrevistados dizem ter mais tempo para lazer, e 46,1% relatam mais disposição para exercícios no horário de verão.
Críticas à medida
Estudos mostram que, com mudanças no consumo de energia e o aumento do uso de aparelhos como ar-condicionado, a economia de eletricidade hoje é menor do que no passado, reduzindo os benefícios da medida, explica o portal de economia Eu Quero Investir.
De acordo com a BBC News, a mudança no horário altera o ritmo biológico, afetando hormônios como melatonina e cortisol. Um estudo de 2017 mostrou que 45,43% não sentem desconforto, mas 25% relatam incômodo. Adolescentes e crianças pequenas são mais sensíveis por dificuldade em ajustar o sono.
Críticos destacam impactos no setor agropecuário, com bovinos podendo ter a produção de leite afetada pela mudança de horário.
“Os bovinos são animais de hábito, todos os dias eles se alimentam num mesmo horário, são animais de rotina. Se os horários mudam repentinamente, isso causa um estresse no animal. No caso da vaca de lactação, pode inclusive diminuir o leite”, disse José Carlos Ribeiro, da Boi Saúde, consultoria especializada em saúde bovina, em entrevista com a BBC.