Mortes por deslizamento de terra em Petrópolis chegam a 117 e polícia relata 116 desaparecidos

As chuvas foram as piores que Petrópolis presenciou desde 1932

19/02/2022 11:31 Atualizado: 19/02/2022 11:33

Por Associated Press 

PETRÓPOLIS, Brasil— O número de mortos por inundações e deslizamentos de terra que impactaram a montanhosa cidade de Petrópolis subiu para pelo menos 117 na quinta-feira e autoridades locais afirmam que ainda pode aumentar acentuadamente, com mais 116 desaparecidos.

O governo do estado do Rio de Janeiro confirmou a crescente perda de vidas, com muitos soterrados na lama sob a cidade de influência alemã aninhada nas montanhas acima da cidade do Rio de Janeiro.

Torrentes de enchentes e deslizamentos de terra arrastaram carros e casas pelas ruas da cidade na terça-feira durante a chuva mais intensa em décadas. Um vídeo mostrava dois ônibus afundando em um rio cheio enquanto seus passageiros saíam pelas janelas, lutando por segurança. Alguns foram levados pela água, para fora da vista.

Equipes de resgate e moradores procuram vítimas em uma área afetada por deslizamentos de terra em Petrópolis, no Brasil, no dia 16 de fevereiro de 2022 (Silvia Izquierdo/AP Photo
Equipes de resgate e moradores procuram vítimas em uma área afetada por deslizamentos de terra em Petrópolis, no Brasil, no dia 16 de fevereiro de 2022 (Silvia Izquierdo/AP Photo

Sobreviventes cavam pela paisagem em ruínas para encontrar entes queridos, mesmo quando mais deslizamentos de terra pareciam prováveis ​​​​nas encostas da cidade. Um pequeno deslizamento na quinta-feira provocou uma evacuação, mas não causou feridos.

À noite, chuvas fortes voltaram à região, despertando preocupação renovada entre os moradores e equipes de resgate. As autoridades insistiram que aqueles que vivem em áreas de risco deveriam evacuar.

Rosilene Virginia relatou que seu irmão escapou por pouco, e ela considera isso um milagre. Mas um amigo ainda não foi encontrado.

“É muito triste ver pessoas pedindo ajuda e não tendo como ajudar, sem como fazer nada”, declarou Virginia à Associated Press enquanto um homem a confortava. “É desesperador, um sentimento de perda tão grande”.

Enquanto algumas pessoas tentavam limpar a lama, outras começaram a enterrar parentes perdidos, com 17 funerais no cemitério danificado.

A polícia do Rio afirmou em comunicado na quinta-feira que cerca de 200 agentes estavam verificando listas de vivos, mortos e desaparecidos visitando postos de controle e abrigos, bem como o necrotério da cidade. Eles declararam que conseguiram remover três pessoas de uma lista de desaparecidos depois de encontrá-los vivos em uma escola local.

“Cada detalhe é importante para que possamos rastrear as pessoas”, afirmou a investigadora da polícia do Rio, Elen Souto. “Precisamos que as pessoas informem o nome completo da pessoa desaparecida, sua identidade, características físicas e as roupas que essa pessoa estava vestindo”.

Petrópolis, batizada com o nome de um ex-líder da realeza brasileira, tem sido um refúgio para pessoas que fogem do calor do verão e turistas ansiosos para explorar a chamada “Cidade Imperial”.

Sua prosperidade também atraiu moradores das regiões mais pobres do Rio e a população cresceu desordenadamente, subindo encostas de montanhas agora cobertas de pequenas residências amontoadas, muitas vezes em áreas mais vulneráveis ​​pelo desmatamento e drenagem inadequada.

O corpo de bombeiros do estado afirmou que 25,8 centímetros de chuva caíram em três horas na terça-feira – quase tanto quanto durante os 30 dias anteriores combinados. O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, afirmou em uma coletiva de imprensa que as chuvas foram as piores que Petrópolis presenciou desde 1932.

“Ninguém poderia prever uma chuva tão forte quanto esta”, declarou Castro. A previsão é de mais chuva para o resto da semana, de acordo com os meteorologistas.

Castro acrescentou que quase 400 pessoas ficaram desabrigadas e 24 pessoas foram recuperadas vivas. Eles tiveram sorte, e foram poucos.

Equipes de resgate carregam o corpo de uma vítima de deslizamento de terra em Petrópolis, no Brasil, no dia 16 de fevereiro de 2022 (Silvia Izquierdo/AP Photo)
Equipes de resgate carregam o corpo de uma vítima de deslizamento de terra em Petrópolis, no Brasil, no dia 16 de fevereiro de 2022 (Silvia Izquierdo/AP Photo)

 

Lisa Torres Machado, de 64 anos, afirmou que “a mão de Deus” poupou sua família da tragédia.

“Deixou um quartinho na casa da minha mãe e ela se escondeu lá com minhas duas irmãs e meu irmão”, declarou Machado, moradora de Petrópolis há três décadas, à AP. “Não consigo dormir. Ainda não consigo acreditar no que está acontecendo. Perdemos todos os nossos amigos”.

A região montanhosa atingida passou por catástrofes semelhantes nas últimas décadas, incluindo uma que causou mais de 900 mortes. Nos anos seguintes, Petrópolis apresentou um plano para reduzir os riscos de deslizamentos, mas as obras avançaram lentamente. O plano, apresentado em 2017, foi baseado em análises que determinaram que 18% do território da cidade apresentava alto risco de deslizamentos e inundações.

As autoridades locais afirmam que mais de 180 moradores que vivem em áreas de risco estavam abrigados em escolas. Espera-se que mais equipamentos e mão de obra ajudem os esforços de resgate.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, expressou solidariedade durante uma viagem à Rússia. A prefeitura de Petrópolis decretou três dias de luto pela tragédia.

O sudeste do Brasil foi punido com fortes chuvas desde o início do ano, com mais de 40 mortes registradas entre incidentes no estado de Minas Gerais, no início de janeiro, e no estado de São Paulo, no final do mesmo mês.

Por Mauricio Savarese e Diarlei Rodrigues

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