Ministro da Defesa diz que morte de músico alvejado por militares no Rio será apurada “até as últimas consequências”

Caso ocorreu no domingo (7), em Guadalupe, na Zona Norte do Rio

11/04/2019 20:15 Atualizado: 11/04/2019 20:15

Por Luiz Felipe Barbiéri, Defesanet

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, classificou como um “lamentável incidente” a morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, no Rio de Janeiro, por militares do Exército. O carro em que Evaldo estava com a família foi alvo de mais de 80 tiros.

Segundo perícia da Polícia Civil, “tudo indica” que os militares confundiram o carro da família com o de assaltantes. O ministro participou de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados para apresentar programas e prioridade da pasta.

“Lamentável incidente. Agora, foi um incidente, vamos apurar e cortar na própria carne, como estamos fazendo agora”, disse Azevedo e Silva. “Foi um acidente lamentável, triste, mas foi um fato isolado no contexto das operações que os militares brasileiros foram envolvidos até agora, e será apurado até as últimas consequências”, completou o ministro.

O ministro ressaltou que as tropas brasileiras em missões de paz pelo mundo são reconhecidas pelo zelo no cumprimento das “regras de engajamento”. “Eu fui chefe de operações no Haiti. Peguei o contingente no início. Fazíamos um esforço para seguir as regras de engajamento ao máximo para não ter alguma perda civil, particularmente de jovens, crianças, mulheres, e por trezes anos não aconteceu nada. A missão de paz nossa em todos os lugares é muito elogiada exatamente por esse item”, declarou.

“Nós não tivemos nenhum caso de assédio, dano à população local e eu faço também as mesmas coisas no GLO (Garantia da Lei e da Ordem) nosso. Infelizmente no Rio de Janeiro aconteceu”, disse o ministro. A morte de Evaldo é investigada pelo Exército.

Na segunda-feira (8), dez militares foram presos. As cinco pessoas que estavam no carro iam para um chá de bebê: Evaldo, a esposa, o filho de 7 anos, o sogro de Evaldo (padrasto da esposa) e outra mulher. O caso ocorreu no domingo (7), em Guadalupe, na Zona Norte do Rio.

O sogro, Sérgio, foi baleado nos glúteos. A esposa, o filho de 7 anos e a amiga não se feriram. Um pedestre que passava no local também ficou ferido ao tentar ajudar. Fernando Azevedo e Silva disse ainda que a Justiça Militar é célere e vai tratar o caso com a rapidez necessária.

“Estão sendo investigados e vai se chegar [a um resultado]. Porque não seguiram as regras. 80 tiros não é normal. Mas não posso dizer se foi A, se foi B, se foi C, se não está conclusa a investigação”, afirmou.

“Tem um civil morto. Não estou escondendo isso. Acho que nós fomos muito rápidos e muito precisos em ouvir todos em uma noite. Falei com o presidente isso e o presidente disse: ‘Apure o que tem de ser apurado’ “, disse Azevedo e Silva.

Milícias e intervenção no Rio

Na comissão, o ministro da Defesa foi questionado sobre atuação das milícias no Rio. O ministro disse que elas surgiram com a intenção de “proteger a comunidade”. Em resposta, a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) afirmou que se tratam de grupos que mantêm “domínio armado sobre territórios, com corrupção vinculada à polícia e aos militares”.

O ministro afirmou que a deputada tinha razão. “A origem que eu digo são nos meus tempos de tenente-capitão, há muito tempo. Mas desvirtuou, você tem razão. São bandos armados”, declarou Azevedo e Silva.

O ministro afirmou que as milícias foram mapeadas durante a intervenção federal na segurança pública do Rio e que os dados foram entregues ao setor de segurança pública do estado.

Ainda sobre a intervenção no Rio, o ministro disse considerar a estrutura montada pelo plano estratégico de segurança pública o maior legado da operação. “Foi uma atenção maior à polícia militar, polícia civil, à secretaria de segurança à época. A polícia do Rio de Janeiro vai ficar com outra estrutura”, afirmou.