A plataforma de jogos americana Roblox, popular entre crianças e adolescentes, enfrenta uma investigação do Ministério Público do Trabalho de São Paulo (MPT-SP), devido a denúncias que apontam exploração de trabalho infantil.
O inquérito se baseia na rotina de jovens desenvolvedores que passam horas criando jogos e experiências na plataforma, que gera lucros, mas deixa os usuários com pouco ou nenhum retorno financeiro.
Impulsionados pela possibilidade de ganhos financeiros, adolescentes entre 12 e 16 anos começaram a programar jogos. Enquanto uns veem na programação chances de enriquecer, outros transformam sua paixão numa forma de remuneração. Alguns já são remunerados com animações e sonham em usar essa renda para futuramente financiar um curso.
Entretanto, especialistas alertam para a linha tênue entre hobby e trabalho. Adriana Orsini, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), enfatiza que a regularidade na produção de jogos pode configurar trabalho infantil, o que levou o MPT-SP a investigar a empresa, avaliada em US$ 26 bilhões — o equivalente a R$ 147 bilhões.
Em audiência marcada para 17 de outubro, representantes da Roblox no Brasil devem prestar esclarecimentos.
Pedofilia, pornografia e aliciamento
Além das preocupações sobre trabalho infantil, a Roblox também foi acusada de enganar investidores ao inflar números de usuários e engajamento.
Uma denúncia feita pela empresa de investimentos Hindenburg Research qualificou a plataforma como “um cenário infernal de pedófilos, expondo as crianças a aliciamento, pornografia, conteúdo violento e discurso extremamente abusivo”.
No Brasil, também há acusações contra a empresa por apologia ao crime organizado, com jogos simulando compras de armas provenientes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Maioria dos usuários não ganha
A plataforma se destaca pela diversidade de experiências oferecidas, permitindo que os usuários joguem e criem seus próprios jogos. Para monetizar, os desenvolvedores podem vender itens virtuais, como roupas e acessórios, recebendo pagamentos em robux — uma moeda virtual que pode ser convertida em dinheiro real.
Apenas uma fração dos criadores realmente consegue essa conversão, com apenas 16,5 mil de 80 milhões de usuários recebendo pagamentos.
A exploração potencial de jovens desenvolvedores gerou reações diversas. A Coordinfância do MPT afirma que o trabalho infantil não se limita a relações de emprego tradicionais, e que a Roblox se beneficia do trabalho de crianças e adolescentes.
O argumento da plataforma, de que apenas fornece um espaço de criação, foi contestado por especialistas que alertam para o desequilíbrio na relação de lucro.
Enquanto isso, os jovens continuam programando. Embora alguns reconheçam as dificuldades do processo, entendem que vale a pena por paixão e possibilidade de ganho. Com as investigações em andamento, a Roblox deve enfrentar um exame mais rigoroso de sua operação e práticas de monetização que envolvem seus jovens usuários.