Mercado estabiliza expectativas para inflação após nova alta na expectativa da taxa de juros

Banco Central defende nova política contracionista para impedir mais aumento dos preços.

Por Matheus de Andrade
30/09/2024 14:24 Atualizado: 30/09/2024 14:24

Após dez semanas consecutivas de alta nas projeções do mercado para a inflação, o mercado não previu novos aumentos para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A principal razão para essa estabilização foi a expectativa de um novo aumento na Selic, que vem registrando altas consecutivas.

Segundo o Relatório Focus, as expectativas do mercado para o IPCA em 2024 se mantiveram estáveis em 4,37%, enquanto a previsão para 2025 ficou em 3,97%. Apesar da inflação elevada, o mercado considera eficazes as medidas de controle, especialmente a política monetária.

Alta da Selic

O relatório mostra que o mercado financeiro ajustou suas projeções para a Selic, indicando uma elevação de 11,50% para 11,75% ao ano. Este é o segundo aumento consecutivo nas expectativas para a taxa básica de juros.

A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação, e a elevação da taxa busca reduzir a pressão inflacionária, tornando o crédito mais caro e desestimulando o consumo e os investimentos no curto prazo.

O aumento nas expectativas para a Selic reflete as preocupações com as persistentes pressões inflacionárias, especialmente em setores como serviços e alimentos, que resistem à desaceleração. A recente desvalorização cambial também tem elevado os preços de importados, aumentando a inflação.

Riscos Inflacionários

Mesmo com a estabilização das expectativas para o IPCA, o Relatório Trimestral da Inflação ressalta que o cenário ainda está longe de ser confortável.

Os riscos relacionados à inflação seguem altos. Um dos principais é a desancoragem das expectativas de longo prazo, que pode impactar negativamente a economia. Se os agentes econômicos duvidarem da capacidade do Banco Central de cumprir a meta, as pressões inflacionárias aumentam, levando a reajustes automáticos de preços e salários.

Outro risco importante é o câmbio. A desvalorização do real frente ao dólar eleva o custo dos produtos importados, aumentando os preços internos. Esse efeito, somado a possíveis altas nos preços internacionais de commodities, como alimentos e energia, pode intensificar a inflação no Brasil.

Política monetária contracionista

Diante desses riscos, o Banco Central mantém uma política monetária contracionista, elevando a Selic para conter a inflação. O aumento dos juros busca controlar as expectativas e impedir que a inflação fuja ao controle.

O impacto de uma política monetária rígida não é imediato, pois as medidas do Banco Central levam meses para afetar a economia. A expectativa é que os efeitos da alta da Selic apareçam nos próximos trimestres, com desaceleração gradual da atividade econômica e da inflação.

Para o próximo ano, o mercado espera que a taxa Selic continue em níveis elevados, com projeções que indicam um patamar de 10,75% em 2025. Isso mostra que o cenário de juros altos deve persistir enquanto houver a necessidade de conter as pressões inflacionárias.