Por Bruna de Pieri, Terça Livre
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, disse ao votar pela suspeição do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, na última quinta-feira (22), que a Operação Lava Jato provocou “desmantelamento de importantes setores da economia nacional, principalmente da indústria petrolífera”.
“Estima-se que a Lava Jato retirou cerca de 142,6 bilhões da economia brasileira, ou seja, a operação produziu pelo menos três vezes mais prejuízos econômicos do que aquele que ela avalia ter sido desviado com a corrupção”, declarou Lewandowski.
O argumento do magistrado foi retirado de um artigo da professora Rosa Maria Marques, da PUC-SP, baseado em um estudo do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.
O estudo diz o seguinte:
“Importantes setores da economia nacional, principalmente da indústria petrolífera e da sua cadeia de fornecedores, como a construção civil, a metal-mecânica, a indústria naval, a engenharia pesada, além do programa nuclear brasileiro. Apenas em seu primeiro ano, estima-se que a Lava Jato retirou cerca de R$ 142,6 bilhões da economia brasileira. Ou seja: a operação produziu pelo menos três vezes mais prejuízos econômicos do que aquilo que ela avalia ter sido desviado com corrupção”.
A professora e economista mencionada pelo ministro Lewandowski é declaradamente marxista e integrante da coordenação nacional da “Comuna”, organização composta por militantes do PSOL.
De acordo com seu próprio site, a “Comuna” é uma “organização de LGBTs, negros, ecossocialistas, feministas, internacionalistas, antiproibicionistas, abolicionistas, militantes da IV Internacional e do Partido Socialismos e Liberdade – PSOL”.
Em entrevista ao jornalista Gustavo Conde em julho de 2020, a docente declara-se marxista ao relembrar seus tempos acadêmicos. “Eu, que sou marxista, mas da área de economia política, não me sentia um peixe fora d’água”, disse. A docente ainda afirma que teve professores pós-keynesianos. O keynesianismo defende a intervenção do Estado na organização econômica de um país.
Sistema cartelizado
As declarações do ministro Lewandowski sobre o “desmantelamento da economia” foram tema de comentários no Boletim da Manhã da última sexta-feira (23). O analista político Carlos Dias discutiu a tese econômica levantada pelo magistrado na sustentação jurídica.
De acordo com o analista, a Lava Jato não gerou nenhum prejuízo à economia, pelo contrário, revelou o prejuízo gerado por um sistema cartelizado operado pelo Estado, não só de interferência na economia, mas de corrupção.
“O desmantelamento que a Operação Lava Jato fez foi o de apontar que uma estrutura criminosa, produzida pelo Estado — associada a um conjunto de companhias que tinham técnica, engenharia e um pessoal qualificado — operaram no mercado de maneira privilegiada, não só com recursos públicos, mas com financiamentos privilegiados, com taxa baixa de juros, com BNDES envolvido”, disse.
“Esse sistema cartelizado, operado pelo Estado foi o que destruiu a economia, a concorrência e a capacidade de emprego. Ao mesmo tempo, os sistemas de controle do Estado falharam de maneira dolosa. O CADE [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] não operou, a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] não operou”, afirmou Carlos Dias.
“Destruíram a Indústria Naval brasileira. Olha o estado do Rio de Janeiro. Todo sucateado, destruído, sem nenhuma produção industrial. Desemprego imenso. Isso foi gerado porque se descobriu o crime ou porque o Estado planejou organizar todo o controle econômico do País com vontade de roubar para seus interesses políticos de perpetuação no poder?”, questionou.