Por Pedro do Coutto, Tribuna da Internet
Dez entidades que representam os diversos setores industriais do país propuseram a Onyx Lorenzoni, encarregado da transição entre os governos Temer e Jair Bolsonaro, a criação de um Ministério que reúna tanto o capital quanto o trabalho. O Ministério seria Indústria, Comércio e Trabalho. Reportagem de Igor Ribeiro, Stella Fontes, Denise Heuman e Marli Olmos, manchete principal da edição de ontem do Valor, destaca a iniciativa.
As entidades industriais partem do princípio legítimo de que a produção, comercialização e o trabalho representam uma ampla frente de produção e de comercialização. Trata-se, a meu ver, de uma iniciativa tão lógica quanto indispensável na tentativa de harmonizar o capital e o trabalho. Essa tentativa, aliás, atravessa as décadas e até os séculos da história universal.
Duas matrizes
Trata-se de dividir os resultados que as duas fortes matrizes conseguem obter. Não me refiro à divisão igualitária dos resultados. Porque divisão não quer dizer em partes iguais. Também é válida, é lógico, a divisão em partes desiguais, seguindo a presença parcial das duas fontes de desenvolvimento econômico.
Onyx Lorenzoni recebeu o documento e anunciou que vai levá-lo ao presidente Bolsonaro. O documento também propõe um pacto entre o capital e o trabalho. Ambos os setores enfrentam a influência da inflação. Só que os preços da indústria e do comércio não são fixados pelo governo. Ao contrário, apenas as reposições inflacionárias para os assalariados seguem os princípios governamentais. Além disso, as reposições dos salários nos índices encontrados pelo IBGE sucedem as taxas de inflação, não antecedendo a ela. Portanto, quando uma categoria profissional ganha um reajuste é para compensar os doze meses anteriores a ela. Ressalto também que a partir do mês em que os salários são alterados, inicia-se uma corrida contra o efeito inflacionário.
Sempre perdendo
Sob este aspecto a massa salarial está sempre perdendo a corrida contra os preços, encontrando-se sempre atrás da parcela de 1/12 do índice que mede a desvalorização da moeda. Harmonizar as duas frentes de produção econômica é um desafio mundial, e que no Brasil tornou-se um sonho de planejadores como Celso Furtado e Hélio Beltrão. Houve fases em que se registraram avanços, mas logo depois em pouco tempo houve sucessivos recuos, principalmente no longo período em que Delfim Neto ocupou o Ministério da Fazenda e do Planejamento, em governos diferentes, no caso dos mandatos de Emílio Médici e João Figueiredo.
Estabelecer um denominador comum capaz de assegurar os princípios mais sólidos do processo social foi no passado, é no presente e na minha visão será no futuro uma forma de tornar mais justa a distribuição da renda nacional. Nem que seja na base de 90% para o capital e 10% para o trabalho, incluindo os reflexos produzidos pelo sistema tributário. É preciso distribuir melhor a renda.