Por Ross McKitrick, Instituto Mises Brasil
No último sábado, dia 31 de março, ativistas ambientalistas ao redor do mundo celebraram a Hora do Planeta (veja como foi no Brasil).
Em um período de 60 minutos, governos, empresas e a população de todo o mundo foram convidados a apagar as luzes e a não utilizar nenhum aparelho elétrico para demonstrar “sua preocupação com as mudanças climáticas” e “seu comprometimento com o Planeta Terra”.
Sendo uma pessoa racional, posso apenas abominar esse comportamento. E meus motivos passam longe de ser uma mera birra contra ambientalistas: o grande problema é que a Hora do Planeta é uma apologia ao atraso e ao primitivismo.
Contra o progresso
Eletricidade abundante e barata foi a maior fonte de libertação do ser humano no século XX. Todos os avanços materiais e sociais ocorridos no século XX dependeram da proliferação de eletricidade confiável e acessível.
As mulheres só conquistaram a liberdade de poder trabalhar fora de casa porque a disponibilidade de eletricidade permitiu a massificação do uso de aparelhos domésticos eletroeletrônicos, os quais reduziram enormemente o tempo dedicado às tarefas da casa, bem como o fardo físico exigido por tais tarefas. (A simples invenção da máquina de lavar — que depende de eletricidade — gerou uma cascata de efeitos positivos impossíveis de serem corretamente mensurados).
As crianças só puderam parar de fazer trabalhos pesados, e passar a se dedicar aos estudos, porque a disponibilidade de eletricidade permitiu um aumento na produtividade da mão-de-obra dos adultos (uma serra elétrica é mais produtiva que um serrote) e, consequentemente, uma diminuição no número de pessoas necessárias para realizar uma mesma função (libertando as crianças). Adicionalmente, foi a eletricidade que permitiu que as crianças pudessem ler e estudar da maneira segura dentro de ambientes fechados.
O desenvolvimento e a oferta de serviços modernos de saúde são absolutamente impossíveis sem eletricidade. A expansão da oferta de alimentos e a promoção de hábitos de higiene e de nutrição só ocorreram porque nos tornamos capazes de irrigar campos, refrigerar e cozinhar alimentos, e ter um contínuo fluxo de água quente em nossas casas.
As populações mais pobres do mundo ainda sofrem brutais condições ambientais dentro de suas casas por causa de necessidade de cozinhar alimentos e de iluminar suas casas fazendo fogo com galhos e estrume. Essa ausência de eletricidade, além de causar desmatamento local, ainda causa a proliferação de doenças pulmonares.
Qualquer pessoa que realmente queira melhorar as condições de vida do terceiro mundo deveria deixar a ideologia de lado e se dar conta da importância de ter acesso à eletricidade barata gerada pela queima de combustíveis fósseis em estações geradoras. Afinal, foi assim que o Ocidente se desenvolveu.
Toda a mentalidade em torno da Hora do Planeta é uma mentalidade que demoniza a eletricidade. Isso, sinceramente, é inaceitável. Eu celebro a eletricidade por tudo aquilo que ela propiciou à humanidade. A Hora do Planeta celebra a ignorância, a pobreza e o atraso. Ao repudiar o maior propulsor da libertação humana, a Hora do Planeta se transforma em uma hora dedicada ao anti-humanismo e ao obscurantismo. Os adeptos da Hora do Planeta fazem o gesto hipócrita de desligar aparelhos elétricos triviais, durante um período de tempo trivial, em deferência a uma abstração mal definida chamada “o Planeta”, ao mesmo tempo em que têm a segurança de que continuarão se beneficiando de uma oferta de eletricidade contínua e segura. Apenas pessoas acostumadas a todos os confortos fornecidos pela eletricidade podem se dar ao luxo desse gesto farisaico.
Pessoas que veem virtude em ficar sem eletricidade deveriam, por coerência, desligar suas geladeiras, fogões, fornos micro-ondas, computadores, ar-condicionado, chuveiro elétrico, lâmpadas, televisões e todos os outros aparelhos elétricos (inclusive smartphones e tablets) por um mês, e não por apenas uma hora. E deveriam ir a todas as unidades cardíacas dos hospitais e desligar a eletricidade de lá também.
Já eu não quero voltar a um estado brutal da natureza. Vá a uma região atingida por terremotos, enchentes e furacões, e você verá o que é retroceder ao estado natural do ser humano. Para seres humanos, viver em condições “naturais” significaria uma vida extremamente curta marcada pela violência, pela doença e pela ignorância.
Pessoas que genuinamente querem ver o fim da pobreza e uma redução drástica das doenças são exatamente aquelas que lutam contra essa condição “natural” da vida na terra. Espero que essas sempre deixem suas luzes acessas.
Aqui em Ontário, onde moro, por meio do uso de tecnologias de controle de poluição e de engenharia avançada, a qualidade do nosso ar melhorou dramaticamente desde a década de 1960, não obstante a grande expansão da indústria e da oferta de energias elétrica, mineral e derivada de combustíveis fósseis.
Se, após tudo isso, formos aceitar a ideia de que as emissões remanescentes são maiores do que todos os benefícios da eletricidade, e que por isso temos de nos envergonhar e nos punirmos ficando uma hora no escuro, como crianças de castigo por terem feito estripulias, então estaremos dizendo que a natureza imaculada é um ideal absoluto e transcendental, que está muito acima de todas as outras obrigações éticas e humanas.
Não, obrigado. Gosto de visitar a natureza e observá-la, mas não quero viver no meio dela. E me recuso a aceitar a ideia de que a civilização, não obstante todos os seus defeitos, é algo de que devemos nos envergonhar.
Conclusão
É impossível querer reduzir a produção de eletricidade (e de combustíveis fósseis) e acreditar que isso será positivo para a humanidade.
Além de todas as invenções humanitárias possibilitadas pela eletricidade, vale enfatizar o básico: para que haja progresso humano e redução da pobreza, é necessário haver um contínuo aumento na produtividade da mão-de-obra, o que aumentaria a oferta de bens e serviços para todos. Só que esse aumento da produtividade só é possível se houver um constante aumento na quantidade de energia disponível per capita. Caso contrário, para compensar este não aumento da energia disponível, cada trabalhador terá de aumentar sua carga de trabalho muscular caso queira continuar produzindo mais e melhores bens e serviços. E isso seria um ataque direto ao nosso padrão de vida. Afinal, nossa qualidade de vida depende primordialmente de um fato: nossa força muscular, que é bastante modesta, tem de ser continuamente auxiliada por quantidades cada vez maiores de energia elétrica e mecânica, na forma de máquinas e motores alimentados por combustíveis fósseis ou eletricidade.
Por isso, esse obscurantismo anti-eletricidade é uma apologia do atraso e do retrocesso a um estilo de vida primitivo e selvagem.
Neste ano, assim como no ano passado e em todos os outros anos anteriores desde 2007 (ano em que o evento foi criado), o vencedor da Hora do Planeta foi a Coreia do Norte. Ironicamente, este é o modelo de civilização a que aspiram os ativistas.
O que eu fiz durante a Hora do Planeta? Enquanto os obscurantistas exigiam escuridão, fiz questão de acender absolutamente todas as luzes da minha casa, dentro e fora, para celebrar a civilização humana.
Ross McKitrick é professor de economia na Universidade de Guelph, Ontário, Canadá
O conteúdo desta matéria é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Epoch Times