Governo brasileiro exige retratação do Carrefour após críticas à carne do Mercosul

Declarações do CEO global do grupo geram suspensão de fornecimento no Brasil e reação diplomática para proteger exportações nacionais.

Por Redação Epoch Times Brasil
26/11/2024 11:36 Atualizado: 26/11/2024 11:36

O governo brasileiro exigiu uma retratação formal do Carrefour após as declarações do CEO global da companhia, Alexandre Bompard, que criticou a qualidade da carne produzida nos países do Mercosul, incluindo o Brasil.

Em comunicado direcionado a produtores franceses, Bompard afirmou que a empresa deixaria de comprar carne da região, alegando questionamentos em relação aos padrões de qualidade do produto.

Em resposta, frigoríficos brasileiros suspenderam o fornecimento de carne ao Carrefour no Brasil.

A medida foi elogiada pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, que afirmou estar “feliz” com a decisão dos produtores brasileiros.

“O movimento de prestigiar os produtores franceses é legítimo. O problema é quando ele fala em não cumprimento de regras sanitárias. Aí não aceitamos. Eles compram a carne brasileira há 40 anos”, disse Fávaro em entrevista ao g1.

A suspensão do fornecimento também foi considerada necessária por membros do Ministério da Agricultura, do Itamaraty e do Palácio do Planalto.

Segundo o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a preocupação principal é proteger a reputação das exportações brasileiras, evitando um possível efeito dominó em que outros países ou blocos comerciais questionem a qualidade da carne brasileira e sul-americana.

Em nota, o Carrefour Brasil lamentou a situação e reafirmou sua “estima e confiança no setor agropecuário brasileiro”.

A empresa destacou que a decisão pela suspensão do fornecimento impacta diretamente os consumidores, que dependem da rede para abastecer suas casas com produtos de qualidade.

Mediação diplomática

Apesar do impasse, a expectativa é que o conflito não evolua para uma crise diplomática mais grave.

De acordo com o Itamaraty, uma reunião está sendo articulada entre representantes do governo brasileiro e do Carrefour, com o apoio da Embaixada da França no Brasil, para tentar uma solução conciliatória.

A Embaixada do Brasil em Paris também se manifestou, criticando as declarações do CEO e afirmando que tais colocações refletem “temores infundados sobre a qualidade e sustentabilidade dos produtos brasileiros”.

“A referida comunicação reflete entendimento e temores infundados sobre a sustentabilidade e a qualidade dos produtos ofertados pela agropecuária brasileira, os quais não se coadunam com a prática de negócios do próprio Carrefour que, diariamente, oferece esses mesmos produtos a seus mais de 2 milhões de consumidores brasileiros”, destacou a Embaixada brasileira.

Conflito de interesses e o papel do Mercosul

No fundo deste conflito está a disputa em torno do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

Oposições vindas de setores agrícolas franceses são baseadas em preocupações sobre competição desleal e padrões sanitários. Embora apenas uma pequena porcentagem da carne consumida na Europa venha do Mercosul.

O governo brasileiro busca, portanto, evitar que essas críticas impactem negativamente as negociações comerciais e prejudiquem a imagem dos produtos agropecuários do Mercosul.

Com a mediação diplomática em andamento, o Brasil espera que o Carrefour global reconsidere sua posição e que o incidente não traga danos às relações comerciais entre os dois países.