Trabalhadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizaram uma greve de 24 horas na terça-feira (15), em protesto contra decisões administrativas consideradas autoritárias pela categoria.
A paralisação, que teve início à meia-noite de terça, afetou principalmente a Unidade Chile, situada no centro do Rio de Janeiro. Os trabalhadores se mobilizaram contra a transferência para o prédio do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), localizado no bairro do Horto.
A convocação foi feita pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (AssIBGE), que critica não apenas a mudança de localização, mas também a criação da fundação pública de direito privado denominada “IBGE+”.
O sindicato argumenta que a nova fundação compromete a autonomia do instituto, permitindo que ele venda pesquisas para o mercado privado.
“Fomos avisados que essa fundação foi criada 2 meses depois de ter sido registrada em cartório, de forma totalmente sigilosa, sem conversar com ninguém. (…) É um processo de privatização, porque a fundação pode vender pesquisas para o setor privado”, afirma o diretor do sindicato, Bruno Perez.
O sindicalista argumentou que a nova fundação contratará funcionários por Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), diferentemente do que ocorre hoje com os funcionários estatutários, e isso afetaria a confiabilidade das estatísticas produzidas pelo IBGE.
“A estabilidade é necessária para produção de dados confiáveis. Produzimos dados que podem incomodar os governos, como taxas de desemprego e inflação. É necessária a estabilidade para não sofrer pressão política. Essa fundação coloca em risco a produção de estatísticas que guiam a aplicação de políticas públicas no Brasil”, diz Perez.
Além da transferência da unidade e criação da nova fundação, o sindicato também reivindica a discussão sobre mudanças no estatuto do IBGE, que, segundo os trabalhadores, poderiam afetar negativamente suas condições de trabalho.
As reclamações incluem a falta de diálogo por parte da presidência do IBGE, ocupada por Marcio Pochmann, economista nomeado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em agosto de 2023.
Pochmann foi presidente do Instituto Lula, bem como da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Também chefiou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Sua gestão foi criticada internamente por fazer uma administração mais ideológica e supostamente aparelhar o órgão.
Em postagem recente nas redes sociais, o sindicato convocou todos os funcionários a se unirem: “Não podemos permitir que decisões que impactam profundamente nossas vidas sejam tomadas sem diálogo! Precisamos de todes lá, firmes, unidos e prontos para lutar pelo que é justo”.
O uso da palavra “todes” é uma adaptação de “todos” na denominada linguagem neutra, com o objetivo de não diferenciar gêneros.
IBGE diz não ter sido informado sobre greve
A direção do IBGE, por sua vez, disse não ter sido informada oficialmente sobre a greve, citando a Lei de Greve, que exige um aviso prévio de 72 horas.
Em resposta às críticas sobre a nova fundação, o instituto declarou que a reorganização das relações público-privadas é necessária, devido a limitações orçamentárias. Além disso, alegou que a fundação permitirá a captação de recursos para projetos em parceria com ministérios e bancos públicos.
Diante do clima de insatisfação, os funcionários já sinalizaram que, caso não haja abertura para o diálogo com a presidência do IBGE, poderão convocar novas paralisações e até uma greve por tempo indeterminado, a ser decidida em assembleia na próxima semana.