A farsa por trás da “redução de danos” e a falsa “luta antimanicomial”

A redução de danos traz em sua descrição uma política que visa, supostamente, reduzir danos a usuários que querem continuar usando drogas ilícitas, e não na prevenção ou combate ao uso de drogas; em resumo a redução de danos pregada é a descriminalização de drogas

02/06/2019 14:17 Atualizado: 02/06/2019 14:17

Por Claudio R. Garcia, Terça Livre

Atualmente, fala-se compulsivamente sobre a “luta antimanicomial” e a “redução de danos”.  Nos últimos meses os Conselhos de Psicologia vem agindo para o avanço dessa política no Brasil, porém atrás da atuação esconde os danos causados e as tentativas constantes de sabotar o atual governo, fazendo uso do conhecimento da mente humana como arma para ações militantes!

A Nota Técnica Nº 11/2019, intitulada Nova Saúde Mental, publicada pela Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, é descritiva e clara ao especificar as mudanças que objetivam não só trazer melhorias, mas também ampliar a rede de atendimentos da Saúde Mental, oferecendo o tratamento necessário tanto para o paciente quanto para o seu núcleo familiar, buscando a reintegração do indivíduo no âmbito social; a nota do MS cita que: “A implantação de uma Rede de serviços aos usuários que seja plural, com diferentes graus de complexidade e que promovam assistência integral para diferentes demandas, desde as mais simples às mais complexas/graves. As abordagens e condutas devem ser baseadas em evidências científicas, atualizadas constantemente.”

Contudo, o Conselho de Psicologia, na sua atuação militante, se esforça para distorcer o real conteúdo da mudança, promovendo por exemplo uma “Conferência Livre Retrocessos da ‘Nova” Política de Saúde Mental: Resistir e Avançar’. Contraditoriamente, o mesmo Conselho de Psicologia defende que o usuário deve ser protagonista da vida dele e o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo que, promoveu no carnaval de 2016, atos na cracolândia – chamado de Blocolândia – para fazer resistência e promover ocupação de lugares públicos, ou seja, tornando militantes pessoas que perderam a consciência da realidade e vivem em um estado paralelo devido ao uso de drogas.

Confira a seguir uma nota psicológica que desmascara a militância revestida de profissão!

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) adotou a política de redução de danos (RD) e, atualmente, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo adotou a política antimanicomial, bem como CFP; para entender a farsa nessa causa precisaremos entender como elas se interligam.

Eu já emiti em outra ocasião uma nota de repúdio ao Conselho Regional de Psicologia de Alagoas que distribuiu, durante o carnaval de 2019, uma cartilha de redução de danos ensinando a melhor maneira de usar drogas ilícitas; a partir daí já podemos tratar da redução de danos. A RD traz em sua descrição uma política que visa, supostamente, reduzir danos a usuários que querem continuar usando drogas ilícitas, e não na prevenção ou combate ao uso de drogas; em resumo a redução de danos pregada é a descriminalização de drogas. A política RD afirma que tais usuários não necessitam de tratamento. O Conselho, em publicação oficial, já afirmou que o usuário deve ser protagonista da vida dele e ainda afirma que “muitas vezes o sujeito só quer continuar usando drogas (…) mas que a sociedade moralista não sabe lidar com isso”.

Termos como resistência, retrocesso, antigoverno, desconstrução, militantes, fazem parte da publicidade produzida pelos Conselhos de Psicologia.

Ao entrar na questão manicomial é preciso analisar histórica e imparcialmente o desenvolvimento do processo e a evolução existente nos dias de hoje. Os Conselhos de Psicologia alegam em defesa de causa os abusos praticados a quase cinquenta anos atrás. A palavra manicômio remete a reclusão de pacientes com transtornos graves, psicóticos, pacientes sem controle. No passado, de fato, existiram hospitais que praticavam verdadeiras torturas como o caso do Hospital Colônia em Barbacena MG que traz relatos de internações involuntárias, com pacientes não psiquiátricos, histórico de processos de choque, fome e maus tratos. Porém, temos outros relatos como o relato de um paciente do Hospital Psiquiátrico de Quatis:

A. aos oito (8) anos foi diagnosticado com meningite avançada, após a experiência de quase morte, apresentou um quadro com sequelas irreversíveis que apontaram retardo mental, retardo motor, problemas de visão, crises de epilepsia e hipertensão, além do psicodiagnóstico de agressividade, ansiedade, desequilíbrio emocional.

Com quinze anos (15), A. após uma crise, iniciou tratamento no hospital citado, com internação parcial de segunda a sexta feira. O tratamento incluía acompanhamento multidisciplinar com psiquiatra, neurologista, psicólogos, endocrinologista e arteterapia. Ao longo do tratamento A. desenvolveu atividade motora onde aprendeu a andar de bicicleta, desenvolveu equilíbrio motor em rodas de montagem, aprendeu a contar os dias pelo calendário de parede e a contar hora. Seu desenvolvimento psíquico apresentou melhoras significativas, diminuiu a ansiedade, redução no quadro de agressividade e equilíbrio emocional estável. Foi reduzido a intervenção medicamentosa, uma vez que as crises epilépticas também foram reduzidas.

Porém, após dez anos de tratamento, com a reforma psiquiátrica, A. foi vetado do acompanhamento. Apresentando regressão drástica: aumento progressivo de agressividade, ansiedade, desequilíbrio emocional, falta de atividades, regressão mental e retorno de crises. Nos anos seguintes, acrescentou perda de sentidos básicos, perda total da visão esquerda, desequilíbrio motor e obesidade grau III.

Hoje temos um desenvolvimento na área psiquiátrica, neurológica e psicológica; contamos com maior campo de pesquisas que apresentam dados relevantes que correspondem com uma capacitação atual.

Entre os novos métodos, há pesquisas na eletroconvulsoterapia – a ECT – que demonstram eficácia em casos de depressão grave, casos de resistência a medicações, tratamentos na ideação suicida grave. A ECT é a passagem de fraca corrente elétrica pelo cérebro, no paciente anestesiado, agindo sobre os neurotransmissores cerebrais. As pesquisas apresentam melhorias de 98% com melhora evidente, segundo Sérgio Rigonatti, coordenador do Serviço de Eletroconvulsoterapia do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP¹. A principal indicação do tratamento é para casos de depressão, mas ele pode ser aplicado também para casos psicóticos resistentes à medicação, quadros alucinatórios graves e durante a gravidez, quando o tratamento tradicional, com medicação, poderia ser ‘passada’ pelo feto através da placenta. Atualmente são utilizadas “ondas quadradas”, pequenas quantidades de eletricidade que protegem a memória do paciente, abandonando a corrente elétrica alternada, que trazia maiores malefícios.

Ou seja, um tratamento realizado nos dias atuais por profissionais devidamente capacitados, que além do tratamento eficaz pode trazer uma redução importante no tratamento medicamentoso (indústria farmacológica).

Portanto, precisamos analisar casos como o da “cracolândia” e como esse público será beneficiado dentro do tratamento proposto. A “cracolândia” que tem pessoas de todas as idades, incluindo idosos e crianças, apresenta índices crescentes de:

Vício e dependência química;

Doenças sexualmente transmissíveis dentre outras doenças como hepatite, tuberculose, HIV e outros;

Roubos;

Gravidez.

“Estar grávida e usar crack é sentir a mesma pedra alimentando duas vidas, dois vícios. A criança se mexe muito no ventre durante a tragada e depois ocorrem sangramentos, convulsões e tremedeira. Quando a vontade de usar mais volta, o bebê fica agitado de novo. Ele cobra mais e também sofre abstinência, tem as mesmas fissuras da mãe. Essas são as sensações descritas pelas gestantes que conversaram com o R7 na ‘cracolândia’, região central de São Paulo.”

Ao analisar a condição que os usuários – dependentes químicos – se encontram, podemos constatar que falamos de pacientes em condições psiquiátricas; pessoas que estão fora do modo consciencial, já perderam o modelo de higiene básico e de alimentação, usuários que não tomam banho a meses, que comem o que encontram no lixo, isso quando comem, ou seja, pelo nível de destrutividade em que se encontram fica óbvio a necessidade de uma intervenção, pois são pacientes sem autonomia, sem condições de gerir a própria vida, necessitando de um diagnóstico psiquiátrico preciso, de um acompanhamento multidisciplinar para reabilitação e reintegração desse ser humano.

Os drogadictos que são encaminhados para o tratamento, após longo período de vício, necessitam de acompanhamento regular, na grande maioria das vezes com tratamento medicamentoso, com uso de calmantes e terapias.

Temos como exemplo o AA (Alcoólicos Anônimos) que surgiu no EUA em 1935, fundado por Bill Wilson e Dr. Robert Holbrook Smith, com a proposta de abstinência total da ingestão de bebida alcoólica; e hoje, 84 anos depois, com mais de dois (2) milhões de membros ativos pelo mundo, nos mostra que redução de danos não é o caminho para aqueles que desejam, conscientemente, abandonar o vício. Agora, é preciso traçar metas de tratamento para aqueles que ainda não tem consciência e estão em decadência de vida acarretando danos na saúde, no mental, no emocional.

Diante de situações tão alarmantes, o Conselho Regional de Psicologia – que em 2019 declarou resistência a um falso estado de exceção – resolveu criar em 2016 a “Blocolândia”, um bloco de carnaval que reúne os moradores da região. Parece um voluntariado revestido de psicologia social, mas que esconde uma realidade vergonhosa para a categoria que o Conselho deveria representar que é a saúde mental, uma vez que na verdade recrutam usuários, debilitados, como militantes para ocupação de lugares públicos, trazendo mais uma vez o discurso de resistência quando essas pessoas mal conseguem resistir a própria compulsividade, reforçando a disputa completamente ideológica ao afirmar que essas pessoas sofrem violação de direitos mas violam os direitos delas ao transformá-las em fantoche para militância política. Veja a seguir:

É importante ressaltar que o post sobre a “Blocolândia” foi apagado após eu denunciar nos meus vídeos o abuso acerca dessa atitude impensada!

Já na foto apresentada abaixo podemos comprovar que se trata de mais uma luta ideológica e partidária, quando vemos que o CRP SP usa Michel Foucault em sua luta antimanicomial.

Para conhecimento: Foucault, do Partido Comunista Francês, foi quem levantou a bandeira contra os hospitais psiquiátricos, Porém Foucault é um paciente traumático, filósofo sem formação para compreensão da psique humana; sendo o mesmo que, juntamente com Simone de Beauvoir, assinou uma petição chamada “A Idade da Razão” que visava despenalizar de todas as relações consentidas entre adultos e menores abaixo de 15 anos (idade de consentimento na França), para não haver limite de idade.

Em algumas das descrições bibliográficas, vemos que Michel Foucault teve conflitos internos com a medicina. Filho de um renomado médico cirurgião, Foucault renegou a tradição familiar na área, foi internado para tratamento psiquiátrico após tentativa de suicídio aos 22 anos, com longo histórico em extravagância com drogas diversas e bebidas, uma bibliografia inclusive cita “tentativas de suicídio”, sugerindo que ocorreu mais de uma vez. Algo tão traumático na sua vida que seu primeiro livro traz o título “A História da Loucura”, seguido de outros como “Doença Mental e Psicologia” e “Vigiar e Punir”, o filósofo seguia o movimento de antropologia social, do qual ele se afasta posteriormente.

Michel Foucault encerra seu livro Doença Mental e Psicologia com a frase: “a existência dos ‘psicólogos’ sanciona para o homem contemporâneo o pesado esquecimento”.

Sua morte se deu por problemas neurológicos agravados por HIV/AIDS.

Em contrapartida, o mesmo Conselho não promove discursos sobre Nise da Silveira, a médica psiquiatra e psicoterapeuta que instituiu no Brasil uma verdadeira mudança na área manicomial; Nise iniciou seu trabalho no setor de terapia ocupacional no Pedro II no Rio de Janeiro, junto com o psiquiatra Fábio Sodrá, aplicava terapia ocupacional no tratamento psiquiátrico. Nise observou a arteterapia como comunicação com os pacientes diagnosticados com esquizofrenia grave, ainda inovou ao introduzir gatos e cachorros na rotina dos psicóticos.

Com grande interesse na psicologia analítica de Carl Gustav Jung, Nise o escreveu pedindo ajuda para interpretar as mandalas desenhadas pelos seus pacientes. Em 1957 foi convidada pelo psiquiatra a estudar em Zurique com ele e com sua continuadora Marie Louise Von Franz, teve a oportunidade de expor seu acervo no Museu de Imagens do Inconsciente no II Congresso Internacional de Psiquiatria. Após o período de aprendizado, além do grupo de estudos analíticos, Nise fundou a Casa das Palmeiras, uma clínica voltada a antigos pacientes das instituições psiquiátricas, onde existia uma rotina hospitalar e reintegração à vida social.

Nise, na condição de médica psiquiatra, conduzia tratamentos diagnosticados com pacientes medicalizados, juntamente com terapia, aplicando um trabalho em equipe.

A trajetória de Nise comprova a necessidade de tratamento, a necessidade de uma intervenção que hoje é saudável, evoluída em construções de pesquisas científicas que são capazes de apontar eficácias e ineficácias nos processos que podem diminuir os medicamentos tão invasivos e destrutivos, ao usufruir de áreas desenvolvidas de uma maneira focada e objetiva que não está constituída em métodos de décadas passadas.

Observação: Nise da Silveira somou um total de sete (7) obras publicadas. Seu acervo foi tombado como Memória do Mundo pela Unesco. Suas principais coleções foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Suas obras podem ser vistas no Museu de Imagens do Inconsciente no RJ. Existe em sua homenagem o Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira.

Com toda pesquisa existente na área da psique, é repugnante que existam profissionais da área da saúde mental promovendo informações distorcidas por ideologias próprias e que exista uma política de liberação de drogas quando em nosso país existe um dos piores cenários a céu aberto de danos a dependentes químicos.

Os Conselhos de Psicologia, na atribuição daquilo que lhe é competido, deveria investir na orientação e condução de trabalhos multidisciplinares. Juntando esforços para regulamentar de maneira imparcial e efetiva, contribuindo com instituições de recuperação e reabilitação, compreendendo os danos, desenvolvendo projetos e oficinas terapêuticas, abrindo espaço para atuação psicológica, propagando informação que tragam lucidez da importância do acompanhamento profissional nas internações oferecidas em instituições das mais diversas demandas, no intuito de fortalecer o trabalho em equipe e conseguir suprir a demanda.

Comprova-se que a nota emitida pelo governo especifica quais pacientes a medida atende, ressaltando ainda a importância de uma equipe técnica capacitada e frequentes pesquisas para integridade do processo, afirmando assim o compromisso de promover o melhor tratamento possível, menos danoso, tanto ao paciente  quanto à família e à sociedade como um todo. A finalidade é garantir um tratamento adequado, atendendo as necessidades que a demanda exige, garantindo transparência e eficiência. Reafirmando que são mantidos o SUAS e o RAPS expandindo o atendimento e ampliando a equipe, além de garantir a saúde mental de qualidade, a medida promove empregabilidade.

Assina essa nota: Cláudio R. Garcia.
A Nota Técnica Nº 11/2019 da Nova Saúde Mental, bem como referências podem ser encontradas na íntegra da nota psicológica: https://drive.google.com/file/d/1XJ2eg_jhl8sqJTbevub1M9Zk9GOAVul0/view

Claudio R. Garcia é psicólogo analítico, supervisor, palestrante, atuação em psicodiagnóstico, teólogo, conservador, cristão