Quatro pessoas foram presas preventivamente nesta quarta-feira (11) por adulteração de leite com soda cáustica e água sanitária em uma fábrica da Dielat, em Taquara, na região metropolitana de Porto Alegre. A operação faz parte da 13ª fase da Operação Leite Condensado, conduzida pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS).
Cerca de 110 agentes participaram da operação, que teve início às 6h40 da manhã, durante a troca de turno. Ao todo, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em empresas e residências nas cidades de Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé, além de São Paulo.
Os agentes identificaram a utilização de soda cáustica e água oxigenada no leite UHT, leite em pó e compostos lácteos, usados para reprocessar produtos vencidos e recuperar itens deteriorados.
Além disso, foram encontrados “pelos indefinidos” nos produtos e pontos de sujeira dentro das embalagens.
“Mago do leite” já esteve preso antes
Entre os presos está o engenheiro químico Sérgio Alberto Seewasd, conhecido como o “mago do leite” ou “alquimista”, contratado pela empresa para orientar o processo da mistura. Ele já havia sido preso há 11 anos por fraudes identificadas em outras fases da operação.
“Com a denúncia de 2024 se confirmou um novo risco e, para nossa surpresa, lá estava o ‘alquimista’ – ou ‘mago do leite’”, disse o promotor de Justiça Mauro Rockenbach. “Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele da [Operaçao] Leite 5.”
“Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, acrescentou o promotor.
Rockenbach também ressaltou que as substâncias representam sérios riscos à saúde, incluindo potencial carcinogênico.
Os outros presos nesta quarta-feira são Antônio Ricardo Colombo Sader, sócio-proprietário da Dielat, Tales Bardo Laurindo, diretor, e Gustavo Lauck, supervisor.
Licitações públicas e exportação
Segundo o MP, a fábrica possui uma ampla rede de distribuição no Brasil e exporta seus produtos para a Venezuela, onde são comercializados sob a marca Tigo. No mercado brasileiro, as marcas da Dielat incluem Megalac, Mega Milk, Tentação e Cootall.
A Dielat tem vencido licitações públicas em diversas regiões do Brasil, incluindo uma cidade do interior de São Paulo, para fornecer laticínios às escolas.
No Rio Grande do Sul, conforme o Tribunal de Contas do Estado (TCE), pelo menos sete cidades receberam leite da empresa para a merenda escolar: Alvorada (2023), Canela (2020), Gravataí (2020), Ivoti (2019), Taquara (2022), Viamão (2019) e Porto Alegre (2023).
O MPRS aponta que as fórmulas fraudulentas estão ficando mais sofisticadas, o que possibilita que substâncias como soda cáustica e água oxigenada escapem das primeiras detecções realizadas pela fiscalização dos órgãos ligados ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Agora, o órgão aguarda os resultados dos exames mais detalhados para identificar quais lotes estão contaminados.