A polícia Federal brasileira deflagrou nesta terça-feira (26/11), uma operação chamada Tai-Pan, contra uma organização criminosa chinesa acusada de evasão de divisas e lavagem de dinheiro movimentando quase R$ 6 bilhões nos últimos 5 anos, com a China sendo o principal destino dessas transações de recursos com origem ilícita.
A investigação, que teve início em 2022, traz indícios do envolvimento de grupos criminosos ligados a atividades ilegais como tráfico de drogas, de armas e contrabando.
Segundo a polícia federal seu principal objetivo era movimentar um fluxo constante de dinheiro para a China, mas atendia ainda pessoas que buscavam ocultar capitais, lavar dinheiro ou enviar ou receber dinheiro do exterior.
O caso revelou um sistema bancário paralelo e ilegal, que movimentou bilhões não somente dentro do Brasil mas também nos Estados Unidos, Canadá, Panamá, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Holanda, Inglaterra, Itália, Turquia, Dubai e especialmente Hong Kong e China.
Dezenas de pessoas estavam envolvidas no caso, contando tanto com brasileiros quanto estrangeiros, que exerciam atividades e funções variadas como policiais militares e civis, gerentes de bancos e contadores.
Além das prisões, a Justiça Federal determinou o bloqueio de bens e valores em mais de R$ 10 bilhões de reais, em mais de 200 empresas.
China no centro da crise de fentanil
Dr.Ellis destacou ainda que existem similaridades entre esse caso deflagrado no Brasil e os recentes casos de lavagem de dinheiro coordenados por chineses que aconteceram nos EUA, envolvendo cartéis mexicanos.
Ellis afirmou também que “este é um desafio específico, principalmente porque o acesso técnico que as autoridades locais têm para cooperar com seus colegas chineses e supervisionar contas em bancos chineses, além de outros aspectos do comércio com empresas da RPC, é bastante limitado. Assim, nas sombras, torna-se mais fácil para grupos criminosos se ocultarem.”
Em junho, o Departamento de Justiça (DOJ) revelou que havia descoberto um esquema, envolvendo o cartel méxicano Sinaloa e “bancos clandestinos” administrados por chineses, que ajudou a lavar US$ 50 milhões provenientes do tráfico de drogas entre 2019 e 2023.
Em julho, dois residentes chineses, membros de uma organização chinesa de lavagem de dinheiro (CMLO) sediada nos EUA, e um residente mexicano foram sancionados pelo Departamento do Tesouro.
O trio estava entre as 24 pessoas envolvidas no caso que foram identificadas como associadas do cartel de Sinaloa em Los Angeles.
Já em maio, o Departamento de Justiça prendeu dois homens, um deles chinês, ligados a outro caso de um suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo os cartéis mexicanos de Sinaloa e Jalisco.
Eles foram acusados por promotores americanos de trabalhar para uma organização transnacional de lavagem de dinheiro, conduzindo transações financeiras com lucros derivados da venda de fentanil e outras drogas ilícitas nos Estados Unidos.
Segundo declarações de promotores do caso, as redes bancárias clandestinas chinesas atuam como corretores, operando contas bancárias dentro e fora da China.
Segundo Ellis, uma restrição imposta pelo regime chinês que geralmente restringe pessoas que vivem, trabalham ou investem na China de retirar mais de US$ 50.000 de dentro do país, está sendo utilizada agora por esses grupos de lavagem de dinheiro.
“No México, o que foi observado era um esquema complexo onde representantes de cartéis mexicanos, que possuíam grandes quantias em dinheiro nos Estados Unidos, transferiram esse dinheiro para empresários ricos na China, mantendo a propriedade desse capital nos Estados Unidos, sem a intervenção do governo chinês. Dessa forma, o governo chinês, sem que o dinheiro realmente cruzasse as fronteiras, permitiu que os ricos na China conseguissem, na prática, retirar seu dinheiro para os Estados Unidos.” afirmou Ellis.
Um relatório recente do Brooking Institution aponta ainda que grupos criminosos da China tem expandido tanto seus esquemas de lavagem de dinheiro ao redor do mundo que eles estão até mesmo “substituindo grandes players latinos já estabelecidos no Mercado Negro e se tornando os principais atores para os cartéis mexicanos.”
O relatório identificou também mais de 100 redes criminosas ligadas à China, com estruturas diversas e com envolvimento em várias economias ilegais.
Segundo a Administração de Controle de Drogas (DEA), os cartéis Sinaloa e Jalisco são a fonte de boa parte do fluxo de fentanil que é enviado para os EUA. E são responsáveis não somente pela produção de fentanil, mas também pela prensagem da droga em comprimidos falsos que são muito similares a medicamentos legítimos, como o remédio contra ansiedade Xanax e o analgésico OxyContin.
Já a China é o principal responsável pelo fornecimento dos precursores químicos usados para produção do Fentanil, além das máquinas usadas para a prensagem.
Em um relatório divulgado em junho, Annie Milgram, Administradora na Administração de Repressão às Drogas dos EUA (DEA) afirmando que, “[Os dois cartéis] dependem de empresas químicas e de prensagem de comprimidos na China para fornecer os produtos químicos precursores e as prensas de comprimidos necessárias para fabricar as drogas”.
O regime chinês também foi acusado de financiar a indústria de precursores de Fentanil.
Um relatório publicado em abril, pelo Select Committee on the Chinese Communist Party, trouxe novas evidências de que o governo chinês continua a subsidiar “diretamente” “a fabricação e exportação de fentanil ilícito”.
Negócios ilegais e a aumento de colaboração entre Brasil e China
Em entrevista ao Epoch Times, Robert Evan Ellis, ex-membro da equipe de planejamento de políticas na primeira administração Donald Trump e pesquisador e professor de assuntos de América Latina no U.S. Army War College, do exército dos EUA, afirmou que esse novo esquema descoberto no Brasil seria uma decorrência negativa do fortalecimento de laços financeiros com o regime chinês.
“O que estamos observando no Brasil em grande escala é consistente com a evolução das conexões do crime organizado chinês que se espalham pela região, especialmente com o crescimento do comércio lícito e das relações comerciais entre a China e a América Latina, além da infraestrutura financeira. Naturalmente, as oportunidades para atividades ilícitas também estão se expandindo”.
“Esse é um problema crescente que as autoridades no Brasil, assim como no México e em outros lugares, precisarão enfrentar como uma das consequências indesejadas do aumento das relações comerciais e financeiras legítimas”, afirmou Ellis.
A China hoje é o maior parceiro comercial do Brasil, e no ano passado o comércio bilateral entre os países atingiu um recorde histórico de 157 bilhões de dólares.
Na quarta-feira (20), após a reunião do G20 realizada no Brasil, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com o líder do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping.
Durante o encontro 37 acordos foram firmados entre os dois países em 15 diferentes setores como tecnologia, agricultura, intercâmbio educacional e outros.
No mesmo dia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil assinou um acordo de empréstimo com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB). O empréstimo será o primeiro realizado em moeda chinesa no país, que será de 5 bilhões de Renmimbi, correspondente a cerca de 4 bilhões de reais.
Citando brevemente o acordo feito entre os dois bancos, Ellis pontuou que a operação Tai-Pan “é um lembrete de que essa crescente penetração do sistema financeiro chinês gera vulnerabilidades cada vez mais significativas para o crime organizado e a lavagem de dinheiro”
Durante o encontro entre os dois líderes foi anunciada ainda uma elevação de status das relações bilaterais entre Brasil e China, que passou agora a ser classificada como “Parceria Estratégica Global ao patamar de Comunidade de Futuro Compartilhado por um Mundo mais Justo e um Planeta Sustentável”.
Em uma entrevista ao Epoch Times, Yuan Hongbing, ex-professor de direito da Universidade de Pequim, sediada na Austrália, e antigo conhecido de Xi Jinping da década de 80, afirmou que o líder chinês está determinado a reviver o movimento comunista internacional e dominar o futuro da humanidade em nome do comunismo e que o que Xi Jinping chama de uma “comunidade de destino comum”, estaria em conflito com a proposta de Donald Trump para “tornar a América grande novamente”.