A ex-executiva do grupo Americanas, Anna Christina Ramos Saicali, suspeita de envolvimento no esquema de fraudes fiscais nos balanços da empresa, desembarcou no Brasil nesta segunda (1°). Ela se apresentou à Justiça brasileira em Lisboa, em cooperação com a Interpol, após sua prisão ter sido revogada. Saicali teve seu passaporte apreendido pela Polícia Federal.
Conforme decisão do juiz Márcio Muniz Da Silva Carvalho, da 10.ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Saicali não terá prisão preventiva e viajará sem precisar usar algemas. A determinação ocorreu na sexta-feira (28), após pedido da defesa da ex-executiva.
Apesar de não ser presa, teve o passaporte retido e ficará proibida de deixar o Brasil. Ela viajou para Portugal no dia 15 de junho deste ano.
Deflagrada pela PF na quinta-feira (27), a Operação Disclosure investiga fraudes contábeis nas Americanas que chegaram a R$ 25 bilhões. Foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão contra outros ex-executivos, com bloqueio de R$ 500 milhões em bens. Além de Saicali, o ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, foi alvo de ordem de prisão e considerado foragido.
Iniciadas em janeiro de 2023 após denúncias de inconsistências contábeis na Americanas, as apurações revelaram rombo estimado em R$ 20 bilhões, posteriormente elevado para R$ 43 bilhões. Os crimes identificados são: manipulação de mercado, lavagem de dinheiro, associação criminosa e uso de informação privilegiada. As penas podem chegar até 26 anos de prisão para os envolvidos.
Segundo a PF, a fraude aumentou artificialmente o valor das ações, maquiando os resultados financeiros da empresa. Isso permitiu que os executivos obtivessem bônus e faturassem com a venda das ações manipuladas. Foram realizadas operações como antecipação de pagamentos a fornecedores e contabilização de verbas de propaganda que nunca existiram.
A operação contou com a participação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Ministério Público Federal (MPF). A administração atual das Americanas também colaborou no compartilhamento de dados.
Dois ex-diretores da companhia fizeram acordos de delação premiada. Eles mostraram que a alta cúpula das Americanas criou dois balanços financeiros: o real e o fictício. Este último foi utilizado para o pagamento dos bônus. As provas apresentadas foram conversas e exemplares da contabilidade.
Apontado pela PF como o principal beneficiado pelo esquema, Gutierrez foi preso em Madri, na sexta-feira (28), mas solto um dia depois. Ele deixou o Brasil em 2023, logo após o início da investigação sobre o rombo financeiro da empresa.
O ex-CEO terá que cumprir uma série de obrigações, como se comprometer a não deixar a Espanha, entregar o passaporte às autoridades e comparecer à Justiça espanhola a cada duas semanas.