Embaixador da China se reúne com representante do agro brasileiro para tratar sobre investimentos no agronegócio e logística

Reunião discute ampliação das relações comerciais e projetos de infraestrutura, com destaque para o potencial brasileiro no fornecimento de alimentos e exportação de produtos agrícolas.

Por Matheus de Andrade
23/10/2024 17:51 Atualizado: 23/10/2024 17:51

O embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, se reuniu na terça-feira (22) com o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins. O objetivo foi discutir o aprofundamento das relações comerciais e os futuros investimentos chineses no setor agropecuário e logístico do país.

O encontro faz parte de uma série de ações de diplomacia econômica. entre Brasil e China. Essas ações buscam fortalecer a cooperação bilateral em diversos setores, incluindo ciência, tecnologia e desenvolvimento rural. O encontro também coincidiu com a comemoração dos 50 anos de relações diplomáticas entre os dois países.

Durante a reunião, Zhu Qingqiao destacou o potencial brasileiro no fornecimento de alimentos. Ele ressaltou a importância do fortalecimento das relações para garantir a segurança alimentar da China.

O embaixador reafirmou o compromisso chinês em apoiar projetos de infraestrutura no Brasil, com especial atenção para o setor logístico. Este é um dos grandes gargalos enfrentados pelo agronegócio brasileiro.

João Martins, por sua vez, destacou o projeto Agro.BR, que busca fomentar a exportação de produtos de maior valor agregado pelos pequenos e médios produtores. Ele vê isso como um dos elementos importantes para diversificar e aumentar a presença brasileira no mercado chinês.

“Um cinturão, uma rota”

Esse encontro prepara terreno para uma agenda ainda mais ampla entre os dois países, com a visita do líder chinês Xi Jinping ao Brasil, prevista para novembro deste ano.

A pauta principal será a adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota, um controverso projeto que é uma das maiores apostas da diplomacia e política externa chinesa,  sobretudo em países em desenvolvimento. 

Através desse projeto, o regime busca financiar e construir infraestruturas que integrem mercados globais, como ferrovias, portos e rodovias. Elementos cruciais para o crescimento do agronegócio e da indústria.

Para a China, a presença mais ampla do Brasil na iniciativa é uma oportunidade de assegurar o abastecimento de recursos primários. Isso inclui produtos agrícolas e minerais, além de reforçar sua influência na América Latina.

“Diplomacia da dívida”

A proposta, no entanto, vem acompanhada de preocupações por conta do histórico problemático do projeto. 

A China tem utilizado o financiamento de infraestrutura como uma estratégia para expandir sua influência em países em desenvolvimento.

Essa prática já foi observada em diversos países que aderiram à Iniciativa Cinturão e Rota, como Sri Lanka, Paquistão e Djibouti que acabaram sobrecarregados com dívidas que não conseguiram pagar. Obrigando esses países a ceder controle sobre infraestruturas estratégicas para a China, como portos e ferrovias.

No Sri Lanka, após o país não conseguir arcar com as dívidas dos empréstimos, o governo foi obrigado a conceder, por 99 anos, seu Porto de Hambantota à China.  

Djibouti também cedeu uma de suas bases militares, enquanto o Paquistão enfrentou problemas financeiros devido ao projeto do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), levando o país a uma crescente dependência financeira da China e impondo pressão sobre suas finanças, o que comprometeu sua autonomia econômica.

Esse tipo de endividamento é frequentemente visto como uma forma de “diplomacia da dívida”. O país financiado se torna dependente do capital chinês, cedendo, por vezes, parte de sua autonomia econômica e política.

Nos bastidores, a diplomacia brasileira se mostra dividida. De um lado, parte do governo vê na iniciativa uma oportunidade para alavancar o desenvolvimento de infraestrutura essencial, sobretudo diante da limitação de recursos públicos.

Por outro lado, existem preocupações quanto à dependência em relação aos financiamentos chineses e aos termos dos acordos que podem ser firmados.

A visita de Xi Jinping promete ser um evento decisivo para definir o papel do Brasil no Cinturão e Rota. As conversas bilaterais tendem a envolver também setores do empresariado e outras lideranças políticas.

A intensificação dessas relações, especialmente por meio de um projeto tão ambicioso como a Iniciativa Cinturão e Rota, pode moldar a economia brasileira nas próximas décadas. Os termos e as condições para a entrada do Brasil nesse projeto e como ele poderá ser conciliado com os interesses nacionais em termos de desenvolvimento e soberania continua desconhecido.