De acordo com o Sebrae, até o início de abril, pelo menos 600 mil micro e pequenas empresas fecharam as portas e 9 milhões de funcionários foram demitidos.
Ainda segundo a pesquisa:
10,1 milhões de empresas pararam de funcionar durante a pandemia, sendo 2,1 milhões por decisão da empresa, enquanto a paralisação de 8 milhões de companhias foi determinada pelo governo. Empresas podem ficar em média 23 dias fechadas e ainda assim ter capital para pagar as contas. […]
Mais da metade (55%) dos micro e pequenos empresários terão que pedir empréstimos para manter os negócios funcionando sem gerar demissões.
Esta foi a inevitável consequência do fechamento da economia imposto por prefeitos e governadores em decorrência da pandemia da Covid-19.
Ao redor do país, o isolamento vertical e os decretos estaduais e municipais ordenando que o comércio fosse fechado, o setor de serviços fosse interrompido, e as pessoas fossem proibidas de empreender e produzir simplesmente acabaram com os planos dos empreendedores e de toda a mão-de-obra empregada por estes empreendedores.
Por si sós, os números do Sebrae apenas comprovam o óbvio: quanto mais tempo esse desligamento da economia perdurar, menor a probabilidade de que os micro e pequenos empreendedores terão capital suficiente para se recuperar.
E aqueles que conseguirem sobreviver dificilmente irão querer se endividar apenas para recontratar seus empregados. Estando com o capital destruído, sem fluxo de caixa e sem grandes perspectivas econômicas, endividar-se para manter a mão-de-obra original, em um cenário de economia em profunda recessão, não é economicamente sensato.
A lógica é direta: esta destruição da oferta gerada pelo desligamento econômico (imposto por políticos) irá inevitavelmente afetar a renda. Quem não trabalha e não produz não aufere renda. Sem renda, não há demanda. Sem demanda, não há por que micro e pequenos empresários se endividarem para manter o mesmo nível de emprego de fevereiro de 2020.
Na melhor das hipóteses, as perspectivas também são ruins
Fazendo uma estimativa extremamente conservadora, baseando-se nos números da Sebrae, se o desligamento da economia, ainda que apenas parcial, for mantido por todo o mês de maio, é seguro dizer que pelo menos um terço destas empresas não irão reabrir. Isso é especialmente válido para restaurantes. Trata-se de um negócio não tem muito dinheiro em reserva.
Aquelas pessoas mais otimistas que acreditam em uma rápida recuperação (a chamada recuperação em formato de V) estão partindo do princípio de que as pequenas empresas que hoje estão fechadas irão rapidamente reabrir tão logo o isolamento horizontal for relaxado. Mas isso é devaneio.
Quem é do ramo sabe que, como já dito, pequenas empresas não possuem grandes reservas financeiras. Elas não terão o capital para recomeçar como se ainda estivessem em fevereiro.
E, no entanto, essas empresas são responsáveis por 27% do PIB do país e respondem por 80% dos postos de trabalho.
É por isso que os números do desemprego, que serão astronômicos, não irão cair tão rápido quanto subirão.
Mesmo porque, ainda que por algum motivo a economia seja reaberta, não faz sentido crer que todas as pessoas sairão por aí gastando no mesmo nível de fevereiro. As pessoas mais velhas não irão viajar de ônibus ou de avião. Com efeito, a própria demanda por viagens aéreas tende a ser afetada, pois agora estamos entrando no inverno, época de gripes e resfriados.
Também é difícil visualizar uma rápida recuperação dos restaurantes, principalmente os self-service. Muitos já fecharam e não há garantia de que haverá suficiente tráfego de consumidores para reabri-los.
A frequência em salões de beleza, cabeleireiros, academias de ginástica, salas de cinema, aulas de dança, cursos de idiomas estrangeiros e qualquer estabelecimento que traga alguma aglomeração tende a cair.
As pessoas seguem amedrontadas (a mídia fez um ótimo trabalho neste quesito) e trancadas em suas casas, estão sem emprego, sem renda e, consequentemente, não sairão gastando a rodo caso a economia seja reaberta, e nem entrarão em espaços mais confinados.
Por causa do desligamento, o povo foi obrigado a cortar seus gastos. O orçamento das famílias foi completamente destroçado por esta recessão artificialmente criada. Levará tempo para o reajuste. Após toda essa campanha de medo, leva-se tempo para que a confiança volte.
Ademais, sabemos que o isolamento horizontal não será revogado da noite para o dia, em todas as cidades, ao mesmo tempo.
As pessoas não sairão para jantar só porque um restaurante reabriu. (Os restaurantes que se adaptaram e que ainda seguem operando via delivery certamente já demitiram seus garçons, e não há motivos para crer que estes serão recontratados.)
As pessoas não sairão comprando passagens aéreas normalmente (até porque a tendencia é que nem haja as férias de julho). Hotéis não vivenciarão nenhuma retomada forte de demanda.
Muitas pessoas nem sequer voltarão ao trabalho. E pouquíssimas voltarão ao mesmo volume de gastos de fevereiro.
Neste ínterim, a economia continuará afundando. Há simplesmente muita incerteza.
Todas as pessoas empregadas em todos estes setores serão as grandes perdedores. Na melhor das hipóteses, tudo dando certo, serão necessários muitos meses para que essas pessoas sejam recontratadas.
E agora vem a verdade politicamente incorreta: as pessoas que trabalham nestes setores (com a exceção dos pilotos de avião e comissários de bordo) estão na metade de baixo da renda. E elas ficarão sem empregos por mais tempo do que as pessoas que detêm ocupações de classe média. E R$ 600 por mês dificilmente irão manter seu padrão de vida. A desigualdade, tão vituperada pela esquerda, irá aumentar ainda mais — em decorrência de uma política estatal que declarou que tais setores não são essenciais.
Como bem disse Daniel Lacalle, “com uma só canetada, milhões de empreendedores e trabalhadores foram humilhados pelo estado, o qual, além de proibi-los de auferirem seu ganha-pão no livre mercado, ainda afirmou arrogantemente que suas atividades não são essenciais para ninguém. Um golpe duplo.
A contração da divisão do trabalho e a oligopolização
Essa política de desligamento da economia imposta por governadores e prefeitos contraiu a divisão do trabalho a um ritmo muito mais veloz do que o de qualquer outro episódio da história moderna. Isso terá severas consequências na produtividade da economia. É inevitável.
Mas, estranhamente, as pessoas acreditam que essa contração da divisão do trabalho será resolvida quando os governos permitirem a volta ao trabalho.
O fator-chave em uma depressão econômica é exatamente este: a contração da divisão do trabalho. Não é uma eventual queda de preços. Não é uma eventual redução de gastos. O que define uma depressão é a contração na divisão do trabalho.
A produção econômica e a criação de riqueza caem porque a produção de cada indivíduo (empreendedores, trabalhadores e investidores) cai. Empreendedores não vislumbram um futuro promissor, investidores ficam retraídos e as pessoas não encontram emprego.
O novo coronavírus, por si só, já teria sido um grave revés para os trabalhadores de baixa renda. O confinamento intensificou enormemente o problema. É realmente delicada a situação destas pessoas. Quanto mais tempo o desligamento da economia continuar, pior será a situação delas.
Vale ressaltar o óbvio: o colapso econômico não foi causado pelo novo coronavírus. Foi causado por prefeitos, governadores e legisladores que ordenaram o fechamento da economia. Foi o estado quem fez isso, e não o coronavírus (e esta é uma afirmação meramente factual, sem qualquer juízo de valor).
Por tudo isso que já foi exposto, é difícil crer em uma retomada em V. Até mesmo uma retomada em U é improvável. O mais provável é realmente uma recuperação em L. Não é desarrazoado imaginar uma economia parada por mais de dois anos.
E, caso isso se concretize, será realmente uma tragédia para os trabalhadores de menor renda. Seus atuais empregos realmente tendem a desaparecer.
Mais ainda: há uma tendência de consolidação e oligopolização da economia. Pequenas empresas ou quebrarão ou serão compradas por concorrentes maiores. A livre concorrência tende a ser restringida ainda mais. Mas é inevitável. É isso o que a atual recessão artificialmente imposta pede.
Os proprietários de pequenos restaurantes, por exemplo, caso queiram realmente sobreviver, fariam bem em se unirem como sócios e transformarem todos os seus restaurantes em um único. Seria uma saída racional. Só que a burocracia para isso é tanta (envolve o fechamento de vários CNPJs, a rescisão de vários contratos de trabalho e o quitamento de várias dívidas pendentes), que se torna melhor simplesmente vender tudo para um concorrente maior e mais capitalizado.
E isso irá ocorrer por toda a economia. Grandes redes varejistas que já operam online (Magazine Luiza, Casas Bahia e Ponto Frio, por exemplo) irão continuar. Pequenas lojas que dependem da frequência física de consumidores dificilmente irão sobreviver.
Criando dinheiro para resolver tudo
A solução dos políticos para o desastre que eles próprios criaram é a tradicional: aumentar gastos do governo (o que requer maior endividamento) e, complementarmente, colocar o Banco Central para criar dinheiro.
A ideia é que, se o governo repassar dinheiro para os trabalhadores, eles irão gastar esse dinheiro e isso automaticamente reavivará toda a economia.
Mas eis aquela incômoda pergunta que, sozinha, aniquila todas as promessas keynesianas: de onde virá o dinheiro?
Ele só pode vir da tributação, do endividamento do governo ou da criação de dígitos eletrônicos pelo Banco Central. Não há outra fonte. E nenhuma dessas três fontes é produtiva. Nenhuma delas tem o poder de criar riqueza. Nenhuma delas aumenta a oferta de bens e serviços. Logo, nenhuma delas resolve esse choque de oferta que estamos vivenciando.
Redistribuir dinheiro é, por definição, uma política de demanda. Políticas de demanda em um ambiente de oferta profundamente reduzida não irá aumentar a oferta. Se uma pessoa está com fome e você dá a ela dinheiro, ela conseguirá comprar o estoque de comida já existente. Mas ela não conseguirá criar mais oferta futura de comida. Para isso, são necessárias políticas de oferta.
Mas a política de redistribuição ou criação de dinheiro é ainda pior. Ela é destrutiva para aquele que é o mais importante recurso de uma sociedade livre: preços corretos gerados pela oferta e pela demanda.
Estes preços são a baliza que os empreendedores utilizam para decidir quanto pagar por bens de capital, fatores de produção (como mão-de-obra) e serviços, na expectativa de obter uma maior renda no futuro com a venda do serviço e do bem de consumo final.
Mas o sistema de preços está sendo destruído pelas políticas de déficits e criação de dinheiro. A ausência de poupança foi mascarada pela criação de dinheiro. A forte queda observada nas taxas de juros de longo prazo precifica isso: o dinheiro criado pelo Banco Central está fazendo parecer que há uma abundância de poupança disponível para bancar novos projetos.
Logo, o que está realmente sendo dito por aqueles que preveem uma recuperação rápida é: “Informações erradas são essenciais para a recuperação econômica. Sem a completa distorção do sistema de preços por meio de aumento de gastos, déficits orçamentários e criação de dinheiro, estaríamos em depressão.”
Em outras palavras, as atuais condições de oferta e demanda gerarão um depressão. E a única maneira de a depressão ser evitada, e a plena prosperidade ser recuperada em um ano, é essa: sinais de preço falsificados criados pela intervenção governamental.
Ou seja, falando no popular, fake news é a base necessária para uma recuperação econômica real.
É óbvio que não tem como dar certo. Tais políticas, repetindo, apenas fazem com que os preços na economia não mais reflitam as condições de oferta e demanda. Isso significa que os empreendedores passam a receber informações erradas. E eles tomarão suas decisões baseando-se nessas informações erradas. Isso irá gerar perdas. Empreendedores que acreditam em informações erradas e que investem segundo estas informações erradas terão perdas no futuro.
Se não sabemos quanto algo custo em termos das atuais condições de oferta e demanda, não sabemos qual é o seu real valor na economia. Consequentemente, não é possível estimar que será o seu valor daqui a um ano. Criação de dinheiro pelo Banco Central e um maciço aumento de gastos feito por meio de redistribuição de renda (dos pagadores de impostos para o governo) não geram alocação racional de capital. Ao contrário: geram alocação irracional de capital.
No final, é disso que se tratam os pacotes de socorro, principalmente a impressão de dinheiro feita pelo Banco Central: a crença de que preços falsificados e alocação irracional geram retomada econômica.
Para concluir
Os otimistas estão errados. Sem nenhum exagero, a psicologia de toda a população foi transformada por algo que nunca aconteceu na história do país (pandemia seguida de confinamento). Esta pandemia será para sempre lembrada por todos os adultos.
Um grande número de pessoas desempregadas manterá a economia economicamente deprimida. Também manterá a economia psicologicamente deprimida.
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Os jovens sem experiência que estão entrando atualmente no mercado de trabalho terão um longo período de decepção pela frente. Estão entrando no mercado no pior momento possível. Eles não conseguirão bons empregos. Não construirão capital. Dificilmente terão condições de sair da casa dos pais.
E os poucos que conseguirem empregos não conseguirão os mesmos salários vigentes em fevereiro. Ou mesmo os vigentes em maio do ano passado. Eles viverão assim por pelo menos cinco anos. (O próprio governo estima uma queda de 5% do PIB. Em dólares, é capaz de voltarmos para 2009. E essa é uma hipótese otimista).
E aqueles que entrarem no mercado depois destes irão rapidamente superá-los.
As opiniões expressas neste artigo são pontos de vistas do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
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