A educação no Brasil enfrenta uma crise com sucessivos cortes de investimento e má gestão dos recursos, aponta a OCDE. Em entrevista exclusiva com o Epoch Times Brasil, Letícia Jacintho, presidente da organização De Olho no Material Escolar, explicou o que esses números revelam e como a educação brasileira pode ser salva.
Jacintho destacou os problemas revelados pelo relatório da OCDE, que coloca o Brasil na contramão dos países desenvolvidos, onde o investimento na educação tem crescido de forma consistente.
Segundo dados do relatório, o Brasil investe cerca de US$ 3,6 mil por aluno nos anos iniciais do ensino, mais de três vezes menos que a média dos países da OCDE, que gira em torno de US$ 10 mil.
A líder criticou a priorização de verbas para o ensino superior, enquanto a educação básica sofre com baixos investimentos, afetando diretamente a qualidade da formação das crianças.
“Estamos preparando mal nossas crianças para as etapas seguintes da aprendizagem, o que resulta em evasão escolar e alunos despreparados para o mercado de trabalho”, disse Letícia.
A executiva também apontou que os cortes sucessivos no orçamento educacional afetam diretamente a infraestrutura das escolas e a qualidade dos materiais didáticos, um problema que sua organização tem se esforçado para combater.
A organização De Olho no Material Escolar busca melhorar a qualidade dos conteúdos escolares, com foco no agronegócio. Jacintho, apontou que uma análise da USP revelou que apenas 3,7% das informações sobre o agronegócio nos livros didáticos são baseadas em fontes científicas.
“Não podemos permitir que esse material escolar esteja tão distante da ciência”. Ela defendeu que o novo Plano Nacional de Educação (PNE) aborde a qualidade dos materiais didáticos de maneira mais eficaz, garantindo que o ensino esteja alinhado com a realidade científica e econômica do país.
Falhas na gestão e monitoramento do PNE
Outro ponto criticado por Letícia Jacintho é a ineficiência na gestão e monitoramento do Plano Nacional de Educação (PNE). Segundo ela, o Brasil cumpriu apenas 20% das metas estabelecidas no PNE 2014-2024, o que evidencia falhas na governança.
“Falhamos na gestão, no monitoramento e no controle. Os governos precisam enxergar o PNE para além de uma ação protocolar exigida por lei, ele deve ser visto como um instrumento de desenvolvimento de nossa educação”, destacou Letícia.
Para que isso aconteça, ela defende que a sociedade tenha mais acesso aos dados de monitoramento da educação, e que o governo adote uma postura mais transparente em relação à aplicação dos recursos.
A entrevistada também propôs uma reestruturação no PNE, sugerindo que ele incorpore exames internacionais para medir a qualidade da educação no Brasil e que seja mais focado na alfabetização e na qualificação contínua dos professores. Para ela, é essencial que o plano também fortaleça a ligação entre a educação e as necessidades do mercado de trabalho, especialmente em um momento em que muitos setores enfrentam dificuldade para preencher vagas devido à falta de qualificação.
Valorização dos professores como solução
Além de propor ajustes na estrutura do PNE, Letícia destacou a importância de valorizar o corpo docente como uma medida urgente para reverter o cenário educacional no país.
“A valorização do corpo docente é o caminho mais rápido para mudar a realidade da educação brasileira”, afirmou.
Ela destacou que o reconhecimento dos educadores vai além de melhorias salariais, defendendo também o investimento contínuo na qualificação desses profissionais para que possam acompanhar a evolução do conhecimento e das tecnologias. Cingapura, por exemplo, que hoje lidera o ranking global de educação, investiu pesadamente na qualificação dos seus professores, disse Jacintho, ao destacar a importância de uma formação robusta para os educadores.
“Precisamos manter nossos educadores sempre estimulados a aprender mais para ensinar mais. Como se faz isso? Pelo reconhecimento e pela qualificação”, explicou ela.
Ações para reduzir os “nem-nem”
Com o reconhecimento e qualificação dos docentes, o ambiente escolar tende a se tornar mais atrativos aos alunos, reduzindo a crescente população de jovens que nem estudam, nem trabalham — os chamados “nem-nem”. Ela sugere que o ensino técnico e profissional ganhe mais espaço nas escolas, conectado às demandas do mercado de trabalho.
“O ensino técnico e profissional deve, portanto, ganhar mais espaço na pauta educacional brasileira, mas ancorada nas necessidades e tendências do mercado de trabalho”, ressaltou Jacintho.
Ela também reafirmou a importância de uma boa gestão, transparência e monitoramento dos recursos para garantir que a educação se torne novamente interessante e atrativa para os jovens brasileiros.
“Boa gestão, transparência e monitoramento, valorização do profissional de educação, qualidade do conteúdo ofertado nas escolas, boa infraestrutura: isso é o mínimo para tornar o ensino novamente interessante aos nossos jovens”, finalizou Letícia.