Crise: 100 mil lojas fechadas em 2015

08/04/2016 15:19 Atualizado: 08/04/2016 15:19

Com o país atravessando a maior recessão desde 1931, consumidores brasileiros apertam o cinto e em consequência o varejo registra o fechamento de quase 100 mil lojas em 2015, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), reunidos pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

A análise revela que houve o fechamento de 95,4 mil lojas com vínculo empregatício no ano passado. Esse resultado corresponde a uma redução de 13,4% no número total de estabelecimentos comerciais que contratam no mínimo um funcionário. Entre as grandes lojas do varejo esse resultado é ainda pior, onde os encerramentos atingiram 14,8% dos estabelecimentos, segundo pesquisa da CNC. “O número de lojas diminuiu de 713 mil ao fim de 2014 para 617 mil ao fim de 2015. É uma queda muito forte, o primeiro recuo anual da série histórica iniciada em 2005”.

De acordo com a Confederação, o encerramento das lojas é produto da conjuntura macroeconômica, que levou ao declínio no montante das vendas, e é também um sinal de que o momento mais preocupante da crise econômica no país ainda não chegou. O quadro de 2016, de inflação e juros ainda altos, desvalorização do real, taxa de desemprego elevado e queda na confiança de empresários e consumidores, obriga os proprietários de redes varejistas a serem cautelosos e concentrarem o foco nas lojas mais lucrativas.

“O levantamento deixa claro o tamanho da crise no varejo, que prejudicou todos os setores, incluindo os grandes, que, teoricamente, têm mais condições de encarar o cenário recessivo. Além do mais, salta aos olhos porque ela está presente praticamente no país inteiro”, observa Fabio Bentes, economista da CNC.

Péssimo para os hipermercados

Todos os segmentos do varejo apontaram queda no número de lojas. Em termos absolutos, os hipermercados, os supermercados e as mercearias foram os mais atingidos, com o fechamento do número mais elevado de lojas em relação a 2014 – 25,6 mil no total. Assim como as lojas de vestuário e calçados (14%), o setor foi responsável por quase metade (45%) das lojas fora de operação. Os números estão baseados nas informações de dezembro de 2015 do CAGED.

Em termos relativos, os setores mais sujeitos às condições de crédito tiveram maior prejuízo, especificamente o setor de material de construção, cujo índice de retração foi maior (18,3%), depois o segmento de informática e comunicação (queda de 16,6%), o ramo de móveis e eletrodomésticos (encolhimento de 15%) e automóveis (-14,9%).

Varejo em seu pior momento

O Wal-Mart, maior varejista do mundo, fechou 60 lojas no Brasil no início deste ano. O varejo ampliado, que abarca o ramo automotivo e material de construção, concentra queda de 8,4% de janeiro a novembro de 2015, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

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Resultado foi trazido pela diminuição das vendas no varejo, que possivelmente registrou no ano passado o pior nível dos últimos 15 anos.

“Foi uma crise generalizada, que não poupou ninguém no ano passado, e que deixa uma herança negativa para 2016. Porque, começando o ano com 95 mil lojas a menos, a chance de ter uma recuperação das vendas é muito remota”, disse o economista Fabio Bentes, da Divisão Econômica da CNC.

Veja informações das lojas e marcas mais conhecidas:

Rhodia

Fábrica têxtil em Jacareí (SP), interrompeu a produção e demitiu 129 funcionários. A empresa informou que tomou a decisão de concentrar sua produção na unidade de Santo André (SP) após diminuição no consumo de produtos, avaliada como consequência da crise econômica.

Alcoa

Uma das maiores produtoras mundiais de alumínio, sediada nos EUA, anunciou mais um corte de produção no Brasil e a demissão de 650 funcionários na unidade de São Luís, no Maranhão. Desta forma, a empresa não produzirá mais no país o alumínio primário, elemento base para produtos como esquadrias para construção civil e insumos de automóveis.

Amplimatic

Fabricante de peças de alumínio, anunciou a demissão de 57 funcionários e a paralisação da produção em sua unidade de São José dos Campos. “Estamos vivendo uma grande dificuldade por causa da crise. Tivemos até nosso gás e luz cortados. Por isso suspendemos as atividades”, disse o advogado da empresa, Sérgio Tarcha.

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Souza Cruz

Fábrica de cigarros subsidiária do grupo British American Tobacco (BAT), anunciou o fechamento da fábrica no Rio Grande do Sul, no município de Cachoerinha. A produção da unidade é de 12 bilhões de cigarros ao ano, aproximadamente 25% do total de 50 bilhões produzidos no Brasil. “Não é uma decisão tomada por vontade própria, mas pela existência de uma escalada expressiva no aumento de impostos, que vem prejudicando o consumo”, disse o diretor financeiro da empresa, Leonardo Senra, entrevistado pela revista Valor Econômico.

Azul

Apresentando corte de 7% na quantidade de assentos ofertados em 2016 e com prejuízo de R$ 267 milhões até setembro de 2015 — valor oito vezes maior que a a perda registrada em igual período no ano anterior —, a empresa pretende devolver 20 dos 140 aviões de sua frota. Do total, 15 passarão para a portuguesa TAP, inclusive nove jatos da Embraer e seis turbohélices ATR, conforme informado pela fonte da aérea. A Azul, assim como as demais empresas, está sendo muito afetada pela alta do dólar, que já ultrapassou a barreira dos R$ 4. Aproximadamente 70% dos custos das aéreas são em dólar (combustível, leasing de aviões e manutenção de peças).

Mabe

As unidades localizadas em Campinas e Hortolândia fabricam geladeiras e fogões das marcas Dako e Continental. Apesar de receber incentivos do governo federal, como a redução no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e o financiamento de eletrodomésticos, a empresa assumiu insuficiência para honrar os contratos. A multinacional tem dívidas no Brasil que somam ao menos R$ 24 milhões. Em 2013, foi feito pedido de recuperação judicial, porém não foi suficiente e em dezembro último a empresa pediu à Justiça a decretação de falência.

Walmart Brasil

Terceiro maior grupo supermercadista do país anunciou no início de 2016 o fechamento de 60 lojas no país e a troca de presidente. A quantidade de unidades encerradas representa o dobro do que foi divulgado no fim de dezembro. Na época, o Walmart Brasil pretendia fechar 5% de 544 supermercados, aproximadamente 30 unidades.

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O Boticário

A franquia de cosméticos e perfumes fechou dez lojas no Vale do Aço, sendo sete em Ipatinga e três em Coronel Fabriciano em Minas Gerais.

Lojas Leader

Seu controlador, o banco de investimentos BTG Pactual, anunciou falência da rede varejista. O pedido foi feito pela família Furlan, proprietária da rede de lojas paulista Seller, adquirida pela Leader em 2013, que reclama atraso no pagamento de R$ 9 milhões na Justiça.