Por Marina Dalila, Epoch Times
BELO HORIZONTE — A capital de Minas Gerais encerra a controversa exposição ‘O Fantástico Corpo Humano’ neste dia 26 de novembro. Mais do que ensinar sobre anatomia humana, a exposição que já correu o mundo levanta questões polêmicas que parecem ter saído de um filme de terror ou ficção científica.
A exposição exibe corpos humanos reais, plastinados (processo lento de preservação no qual todos os fluidos do corpo são repostos por polímeros). Isso causou controvérsia por falta de documentação da fonte dos corpos e consentimentos do falecido ou seus parentes em relação à exibição pública póstuma com fins lucrativos.
Em setembro de 2014 um grupo de direitos humanos com sede em Toronto chamado Choose Humanity, solicitou uma investigação sobre a origem dos corpos usados na exibição que ocorria no Canadá naquela época. O Choose Humanity informou que o exibidor poderia estar explorando corpos de cidadãos chineses sem o consentimento deles, e terem sido assassinados por autoridades chinesas.
Esta afirmação foi feita devido ao fato do grupo ter integrantes que tiveram membros de suas famílias assassinados na China pelo governo chinês por terem crenças religiosas ou políticas.
De acordo com o livro ‘State Organs: Transplant abuse in China‘, prisioneiros de consciência, incluindo praticantes do Falun Gong, são assassinados na China para suprirem uma lucrativa demanda por órgãos na indústria de transplantes, e as instituições do Estado estão envolvidas neste abuso.
Em 20 de julho de 1999 o então líder do Partido Comunista Chinês (PCC) Jiang Zemin lançou uma campanha para erradicar a prática espiritual do Falun Gong da China, e milhares de praticantes do Falun Gong foram presos e encarcerados em prisões de larga escala e campos de trabalho forçado.
O Epoch Times publicou em reportagens anteriores que Gu Kailai, a esposa do político chinês Bo Xilai, estaria conectada com a venda de corpos para plastinação. Bo Xilai foi o prefeito de Dalian, cidade portuária da província de Liaoning, onde existem várias fábricas de plastinação de corpos humanos.
Curiosamente Gunther von Hagens, o criador da técnica de plastinar cadáveres, processo inventado por ele nos anos 70, abriu sua primeira fábrica de plastinação para corpos humanos em agosto de 1999 em Dalian.
Von Hagens contou ao New York Times que ele estabeleceu a fábrica em Dalian devido ao fato de ter encontrado mão de obra barata, estudantes entusiasmados, poucas restrições governamentais, e fácil acesso aos corpos chineses, no qual ele disse que a princípio usaria para experimentos e pesquisas médicas, não para suas exibições. “Quando vim para cá, [Sui Hongjin] disse que não teríamos nenhum problema com os corpos chineses. Ele disse que poderíamos usar os corpos não reclamados. Agora é difícil, mas naquele tempo não havia qualquer problema”, afirmou ele.
No entanto, Von Hagens e seus concorrentes realizaram exibições ao redor do mundo e atraíram um público de dezenas de milhões de pessoas lucrando centenas de milhões de dólares.
Sui Hongjin foi o ex-aprendiz de von Hagens que se separou das operações de von Hagens em 2002 e começou a operar sua própria fábrica de plasticização, abastecendo, entre outros, a empresa de exibição de corpos plasticizados chamada ‘Corpos: A Exposição’. Enquanto von Hagens afirma não mais usar prisioneiros chineses executados, a ‘Corpos: A Exposição’ traz um aviso dizendo que alguns de seus corpos vieram da polícia chinesa.
Chinês procura parente na exibição
Toda vez que Huang Wanqing vê um cartaz da exposição com corpos chineses plastinados ele se pergunta se o corpo mutilado seria de seu irmão ao olhar para os cartazes. O irmão de Huang, Huang Xiong, foi perseguido pelas autoridades comunistas na China por suas crenças. Ele foi mantido em um campo de trabalho e monitorado após sua libertação. Em 2003, ele desapareceu em Xangai. Huang acredita que seu irmão foi sequestrado pelo regime e provavelmente morreu em custódia. Huang Xiong praticou Falun Gong na China durante a década de 1990, período em que a prática foi muito elogiada pelas autoridades por seus benefícios para a saúde. Em 1999, cerca de 70 a 100 milhões praticavam o Falun Dafa, como também é chamada, com base nas estimativas do governo na época e muitos deles não revelaram seus nomes para protegerem suas famílias da perseguição do Regime Chinês. Desta forma, os presos sem nome se tornaram alvos vulneráveis para o Estado, que fez o que bem entendesse com eles.
Em 2012, von Hagens foi desafiado a fornecer amostras de DNA dos espécimes em exibição no Museu de História Natural (Naturhistorisches) de Viena, Áustria. Ethan Gutmann, um jornalista investigativo que tem escrito extensivamente sobre a colheita forçada de órgãos na China, em que prisioneiros de consciência — principalmente praticantes do Falun Gong, mas que também incluem tibetanos, uigures e cristãos domésticos — são sistematicamente mortos por seus órgãos, disse que a exposição que estava em turnê poderia muito bem fornecer o DNA de prisioneiros de consciência assassinados.
Proibição
A exposição chamada ‘Nosso corpo, corpo aberto’, que foi exibida na França por Pascal Bernardin, possuía 17 cadáveres plastinados chineses, abertos e dissecados, e foi proibida em 21 de abril de 2009. Em 2010, o Supremo Tribunal afirmou que “a exposição de cadáveres humanos com fins comerciais em exibição é contrária à decência e, desse modo, é ilegal na França”.
Em 9 de outubro de 2012, a Suprema Corte de Israel ordenou o fechamento de ‘Corpos: A exposição’, que polemicamente utilizou corpos humanos plastinados. Ativistas comemoraram a decisão, embora exigiam o fechamento imediato do evento devido ao fato de a data determinada pelo tribunal ser muito próxima ao encerramento da exposição, que seria no dia 21 de outubro. “Estes corpos têm de ser enterrados respeitosamente e deve ser eliminado este terrível fenômeno, a negociação de pessoas, o comércio de corpos, como podemos ver aqui”, disse Michael Ben Ari, um membro do Parlamento israelense.
Fetos à venda
Embora o comércio de fetos seja ilegal na China, eles estão disponíveis no site Alibaba.com, equivalente do Ebay na China, no valor que varia entre US$ 10.000 a US$ 12.000. A companhia pode oferecer 5.000 fetos por ano, de acordo com o anúncio do site. Embora o diretor da empresa Chen Guoxin afirme que os fetos não estariam de fato à venda, ele disse que o valor é aceito sob a veste de doações.
Os fetos estão disponíveis em conjuntos de 5, de 12 a 20 semanas de idade. Aqueles que precisam também podem comprar um conjunto de embriões (que decorrem de 4 a 8 semanas de gestação) completos, com placenta e cordão umbilical. O Sr. Chen foi tímido sobre as condições de como os fetos são obtidos. Ele disse que eles vieram de hospitais, mas não conseguiram explicar por que tantos estavam disponíveis.
A taxa de abortos e abortos forçados na China é conhecida por ser extremamente alta, devido às políticas de controle de natalidade do Partido Comunista Chinês, que normalmente restringia as famílias a uma criança, e recentemente mudou para duas mediante uma série de condições. O resultado é um número documentado e enorme de abortos: uma média de 7 milhões por ano, de acordo com dados oficiais. Os hospitais são conhecidos por afogarem ou estrangularem bebês na frente de seus pais, e em um caso que agitou a indignação pública em 2012, um feto morto aos sete meses de desenvolvimento foi simplesmente colocado em uma cama de hospital ao lado de sua mãe perturbada. É provável que fetos deste tipo também entrem nas filas dos plastinados.
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