Por Agência EFE
Exportadores e importadores brasileiros acompanham com a cautela a escalada do conflito comercial e diplomático entre Turquia e Estados Unidos, analisam que algumas oportunidades podem surgir a partir das recentes sanções impostas pelo governo de Donald Trump ao país euroasiático, mas temem os efeitos da desvalorização da lira sobre outros mercados emergentes.
Especialistas ouvidos pela Agência Efe apontaram que, apesar do agravamento da crise econômica provocada pela abrupta queda da moeda local em relação ao dólar, os embarques de produtos que dominam a pauta de importações de produtos do Brasil pela Turquia, como soja, animais vivos e algodão, não devem ser abalados pelas tensões. Por outro lado, possíveis benefícios para importadores brasileiros dependem de como o real vai reagir às oscilações cambiais externas e internas.
De janeiro até agosto de 2018, a Turquia importou US$ 1,56 bilhão em soja do Brasil, de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), quase igualando a receita total dos embarques brasileiros ao país no ano passado, que foi de US$ 1,82 bilhão.
A crise turca, porém, não preocupa o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Furlan, que projeta que o setor escapará quase ileso dos embates entre Trump e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
“A Turquia, apesar do crescimento (das exportações), não é um mercado vital para a soja brasileira como a China, por exemplo. Além disso, quando um país reduz importações, normalmente ele corta produtos considerados supérfluos. O impacto na compra de alimentos, como a soja, não deve ser muito grande”, previu Furlan.
Uma análise similar é feita por Clemens Nunes, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que ressaltou que as sanções trocadas entre turcos e americanos não incluem produtos-chave da economia brasileira. Para ele, outras brigas compradas por Trump devem influenciar mais a resultado comercial do Brasil neste ano.
“O efeito não deve ser tão grande quanto o causado pelas tarifas chinesas sobre a soja americana. Com a crise econômica turca e a desvalorização do câmbio, as exportações diretas devem cair, embora os efeitos de uma crise comercial global sejam muito mais significativos”, argumentou.
Doutor em História Econômica e professor do Insper, Vinícius Müller também acredita que as tensões comerciais entre Estados Unidos e Turquia podem gerar oportunidades e desafios para o comércio exterior brasileiro.
“Ao mesmo tempo em que a crise pode ampliar a participação do Brasil no mercado internacional devido às tarifas impostas a outros países, essa guerra comercial pode não ser estrita a algumas nações, mas sim se generalizar, atingindo o nosso país”, afirmou.
No sentido contrário, os especialistas ressaltam que a valorização do dólar em relação a moedas de países emergentes, como a própria lira e o real, que ultrapassou a casa dos US$ 4 nesta semana, o maior patamar desde 2016, praticamente eliminam os possíveis benefícios que os embates entre Washington e Ancara poderiam trazer para as importações brasileiras.
No ano passado, segundo o Mdic, o Brasil comprou US$ 469 milhões em produtos turcos, essencialmente frutas secas e componentes ligados às indústrias química e automobilística.
“Com a instabilidade (da guerra comercial), os investidores passam a exigir um retorno maior para investir em países emergentes, o que desencadeia aumento de juros, desvalorização da moeda e redução de crédito”, explicou Nunes.
“Se a recuperação da economia turca se concretizar, não deve haver uma variação significativa, pela sazonalidade do problema. Caso contrário, as relações comerciais devem ser comprometidas no longo prazo”, concluiu o especialista do Insper.