A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou, por unanimidade, a indicação de Gabriel Galípolo para presidir o Banco Central (BC) entre 2025 e 2029. A votação ocorreu na terça-feira (8), com 26 votos a favor e nenhum contra, após sabatina de quatro horas.
O nome de Galípolo, economista e atual diretor de Política Econômica do BC, foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Durante a sabatina, o indicado enfatizou sua intenção de combater a inflação e elogiou tanto Lula quanto o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, que deixará o cargo em 31 de dezembro. Galípolo participou das equipes de campanha e transição do atual governo, além de ter atuado no Ministério da Fazenda.
A indicação segue para o plenário do Senado, onde também deve ser aprovada ainda nesta terça. Ele substituirá o indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Roberto Campos Neto, cuja gestão foi alvo de críticas por parte de Lula, que chegou a descrevê-lo como um “adversário político”.
Galípolo já havia sido aprovado anteriormente no Senado, para a diretoria de Política Monetária do BC em 2023, na qual obteve 39 votos favoráveis e 12 contrários. Veja algumas frases dele durante a sabatina, separadas por temas:
Juros altos
A gente vai encontrar diversos dados que sugerem uma economia que não está em um processo de desaceleração, está pujante. Não é ruim, mas a bola que o BC tem que estar com o olho é a inflação. O que isso sugere? Que a gente deve assistir um processo de desinflação mais lento e mais custoso.
Ao BC não cabe correr risco. A função dele é ser conservador, com a taxa de juros no patamar necessário para atingir a meta definida.
Banco Central e autonomia
O Banco Central tem autonomia operacional para buscar as metas que foram estabelecidas pelo poder democraticamente eleito. A gente só pode até a adolescência achar que a gente faz o que entende do jeito que a gente bem entende, depois não dá para pensar isso.
Eu sou relativamente novo na vida pública, mas eu aprendi que nos debates da vida pública existem palavras que são quase gatilho. Aprendi que autonomia é uma palavra que é uma dessas. Eu costumo brincar que a gente precisa de quase um rebranding, precisa reexplicar a ideia de autonomia do Banco Central.
Eu sou daqueles que defende que o Banco Central não devia nem votar meta de inflação dentro do CMN. Pensando numa corporação, é muito estranho que quem vai ter de perseguir a meta vote para estabelecer a meta que tem que perseguir.
Risco fiscal e inflação
O papel do Banco Central é menos avaliar efetivamente, do ponto de vista de uma análise própria, a função fiscal, e muito mais reforçar sua função de reação, tanto do ponto de observância como de ações, ao fato que o fiscal pode impactar tanto a inflação corrente como expectativas.
Impactos da reforma tributária
Esse é um tema debatido de forma constante por nós no Banco Central, qual o impacto nos preços e de que forma se dará essa distribuição dos impostos entre os setores. É uma atenção que temos, precisamos de estudos para reunir informações sobre esses futuros impactos.
Inflação após COVID-19
É um grande debate global o quanto aquele processo inflacionário correspondia a um choque de oferta pela desarticulação das cadeias produtivas e dificuldade de produzir, e o quanto correspondia a uma questão de demanda decorrente dos programas de transferência de renda e socorro por causa da pandemia.
A minha posição, eu recorro sempre a uma frase do Churchill: a verdade é uma adúltera, nunca está com uma pessoa só.
Lula e Roberto Campos Neto
Eu sinto que gerei uma grande frustração na expectativa de que existia que, ao entrar no BC, eu iria começar um grande reality show, com disputas e brigas ali dentro. Infelizmente, tenho uma informação chata para dar a todos: a minha relação com o presidente é a melhor possível, com o presidente Lula e o presidente Roberto.
Apostas online
O Banco Central não tem qualquer atribuição ou papel sobre a regulamentação das bets — é importante deixar isso claro — mas sim sobre qual é o impacto no consumo e endividamento das famílias. Dialogamos com bancos e instituições financeiras para obter os dados e os números realmente impressionam.