Por Marcos Schotgues
Nesta semana a Folha de São Paulo publicou uma reportagem de ampla circulação noticiando que a China ignorou em duas ocasiões pedidos do presidente Jair Bolsonaro e do chanceler Ernesto Araújo pela troca de Yang Wanming, o embaixador chinês no Brasil.
Segundo a matéria, a medida teria sido tomada em abril e reiterada em novembro do ano passado, decorrendo de desentendimentos entre a embaixada chinesa e o deputado federal Eduardo Bolsonaro por comentários primeiramente sobre a pandemia e posteriormente sobre as acusações de espionagem chinesa através de equipamentos 5G.
De acordo com a Folha, que teria tido acesso a documentos e interlocutores envolvidos no caso, houve um rompimento das relações entre Araújo e Yang e as portas do Itamaraty foram fechadas ao diplomata mandarim.
O jornal paulistano seguiu, informando que por meios não oficiais teria chegado ao conhecimento das autoridades brasileiras que Yang Wanming é quadro respeitado no Partido Comunista, sendo inviável sua substituição.
Os ministros Eduardo Pazuello, Tereza Cristina e Fábio Faria estariam realizando as intermediações com a China, dada a falta de diálogo do Itamaraty com o maior parceiro comercial do Brasil.
Não há, até o momento, outras fontes corroborando a reportagem. Sendo ou não autêntica, ocorre que casos do tipo não são incomuns nas relações exteriores da China. Polêmicas devido a declarações explosivas em meios extraoficiais por parte de enviados de Pequim são ocorrência amplamente observada mundo afora, como na Suécia, onde partidos políticos pediram a expulsão do embaixador da China no país devido a críticas em tom coercitivo proferidas por ele na mídia local, como quando disse que, “para nossos inimigos, nós temos escopetas”.
A diretiva para o modus operandi viria do próprio Partido Comunista Chinês, com orientações de “responder à altura” críticas feitas à China.
Especialistas apontam que uma abordagem mais enérgica às relações internacionais é uma prioridade de Xi Jinping. O orçamento da diplomacia chinesa dobrou durante os primeiros anos do atual governante, segundo a Hong Kong Free Press. Na China e nos EUA, esta forma de atuar vem recebendo o apelido de “diplomacia do guerreiro lobo” ou “Zhanlang Waijao” nos últimos anos.
Observando a carreira diplomática de Yang na América Latina, pode-se observar: ele seguiu à risca a cartilha do partido comunista.
O jornalista Leonardo Coutinho relatou na Gazeta do Povo um encontro de Wanming, que já ocupou 5 postos no continente e lidera as relações regionais do PCC, com Maurício Macri.
Na ocasião, em 2016, o ex-presidente argentino era recém-empossado e indagou sobre a perda da soberania do território nacional, sendo proibido por um contrato que cidadãos e autoridades locais visitassem as obras de uma base de satélites chinesa no deserto da Patagônia, um projeto que ele herdou da gestão anterior.
Wanming trouxe então à atenção de Macri algumas cláusulas do acordo. Revisar aquele contrato implicaria em revisar absolutamente todos os contratos entre os dois países, pondo em risco bilhões de dólares em investimentos e empréstimos. Macri não teve opção a não ser o silêncio.
Quanto ao Brasil, o próprio Coutinho comentou que o envio de Wanming ao país não foi mera casualidade dizendo: “Ele chegou ao país na largada do governo Bolsonaro e com uma missão. […] Enviou generais chineses para tentar convencer seus pares brasileiros sobre a necessidade de “escolher um lado” no mundo. Chegou a prometer um acordo de cooperação militar com o Brasil em troca do rompimento com os Estados Unidos e replicou o modelo de diplomacia que adotou na Argentina: a cooptação de elites.”
Outros comentaristas, como Augusto Nunes, corroboram o parecer, afirmando que “A missão do embaixador é transformar o Brasil em um dócil aliado da China.”.
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