China se envolve em maior reserva de urânio brasileira no Amazonas; negócios com Irã levantam preocupações

O acordo foi registrado simultaneamente nas bolsas de valores de Pequim e Lima.

Por Igor Iuan
27/11/2024 13:56 Atualizado: 27/11/2024 15:56

A China Nonferrous Trade Co. Ltd. (CNT), subsidiária da empresa de mineração e metalurgia China Nonferrous Metal Mining Group Co., adquiriu participações da maior reserva de urânio do Brasil, localizada no estado do Amazonas. As duas companhias pertencem ao regime comandado pelo Partido Comunista Chinês (PCCh).

Situada na mina do Pitinga, em Presidente Figueiredo, região próxima à hidrelétrica de Balbina e a cerca de 107 quilômetros de Manaus, a reserva é considerada uma das mais ricas do Brasil.

O negócio, que envolve a transferência de 100% das ações da Mineração Taboca S.A. para a CNT, foi formalizado na madrugada de terça-feira (26). A venda foi comunicada ao governo do Amazonas pela empresa peruana Minsur S.A., que controla a Taboca.

Restrições dos EUA à estatal chinesa

A companhia estatal chinesa tem um histórico de negócios com o Irã, o que tem gerado preocupações internacionais, principalmente no contexto das relações com os Estados Unidos.

Em 2020, o estado do Mississippi incluiu a China Nonferrous em suas listas de empresas que realizam negócios com os setores nuclear e militar iraniano. Isso resultou em restrições para a empresa em termos de investimentos e contratos estatais.

O regime da República Islâmica do Irã é considerado pelo governo dos Estados Unidos um patrocinador estatal de terrorismo.

O grupo também permaneceu em listas de vigilância de outros estados norte-americanos, como Flórida e Alasca, devido aos seus envolvimentos em projetos no Irã. Uma lista incluindo fontes primárias está disponível no banco de dados sobre sanções Open Sanction (acesse aqui).

Segundo o The Wall Street Journal, uma unidade da China Nonferrous forneceu projeto de engenharia, fornecimento e instalação de equipamentos, construção e serviços de treinamento para uma usina siderúrgica iraniana.

A estatal chinesa dispõe de vários outros projetos no Irã, principalmente auxiliando empresas do país a construir fábricas que produzem alumínio.

Brasil, Venezuela e Guiana

O impacto geopolítico da transação também não passou despercebido. A mina de Pitinga está situada em uma região estratégica, próxima às fronteiras do Brasil com Venezuela e Guiana. Isso aumenta a relevância dessa aquisição para a China, especialmente diante da crescente disputa por recursos minerais pelo mundo.

As consequências para a segurança mundial são amplificadas pelo fato do urânio ser um mineral utilizado em usinas nucleares para gerar energia e, quando enriquecido pode ser  usado em armas nucleares, sendo um recurso estratégico que atrai grandes interesses internacionais. No Brasil, 99% do urânio extraído tem como destino a produção de energia.

O acordo coloca o Brasil em uma posição delicada, dada a crescente presença chinesa em setores estratégicos do país, incluindo o setor energético e de mineração, levantando questões sobre soberania e riscos geopolíticos envolvidos em tais negócios.