China ameaça mercado cativo do Brasil na América do Sul

Avaliação é da Associação de Comércio Exterior do Brasil

01/08/2022 19:58 Atualizado: 01/08/2022 19:58

Por Agência Brasil

Levantamento divulgado hoje (1º) pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) revela que, apesar da retomada dos resultados positivos alcançados a partir de 2021 com a amenização da pandemia da covid-19, o Brasil não pode considerar a América do Sul um mercado cativo para suas exportações. Isso se deve, em grande parte, à presença crescente da China, que começou a tirar do Brasil o lugar de principal fornecedor em alguns países, com destaque para Argentina e Chile. “A China está ocupando todo o espaço. A América do Sul é um terceiro mercado para ela”, disse o presidente-executivo da AEB, José Augusto de Castro.

A pesquisa da AEB mostra que os resultados acumulados em 2019, representados pelas receitas de exportação de US$ 27,8 bilhões, foram afetados em 2020 pela pandemia, caindo para US$ 22,6 bilhões. Com a amenização da crise sanitária, no ano seguinte, as receitas de exportação tiveram rápida recuperação, evoluindo para US$ 33,9 bilhões. Essa retomada continua em 2022, com projeção de receita de exportação para o país na região sul-americana da ordem de US$ 41 bilhões.

Commodities

Ao contrário do que ocorre com as exportações brasileiras para o mercado mundial, lideradas por commodities (produtos agrícolas e minerais), as vendas do Brasil para a América do Sul são representadas por produtos manufaturados, de maior valor agregado. Já nas importações, predominam commodities ou produtos com pequeno beneficiamento.

“O mercado nosso de manufaturados é a América do Sul. Europa e Estados Unidos compram manufaturados [do Brasil], mas muito pouco. Ásia não compra nada”, disse Castro. Segundo ele, isso se explica porque os países da América do Sul exportam commodities e compram manufaturados do Brasil. Nosso país não foge à regra, exporta commodities e compra manufaturados no mercado externo.

O presidente-executivo da AEB avalia que as exportações brasileiras estão crescendo porque as commodities ainda estão com preços em alta no mercado internacional. “Isso gera mais divisas para esses países sul-americanos e mais poder de compra para importação. Com isso, a receita de importação para esses países aumentou para o mundo. Isso está abrindo possibilidade de importar mais produtos de terceiro país. E como o Brasil é o mais próximo, tem custo de logística menor, tem possibilidade de transporte via rodoviária, disponibilidade de container. Com essas facilidades, eles acabam comprando do Brasil, que é mais próximo do que a Europa e Estados Unidos”.

À exceção do Paraguai, devido à importação de energia elétrica, e da Bolívia, em função da importação de gás natural, os dados mostram que o Brasil apresenta superávit comercial com todos demais países da América do Sul. Castro ressaltou também que o poder de negociação de europeus, asiáticos e mesmo norte-americanos, torna os preços de seus produtos mais elevados que os praticados pelo Brasil para a região sul-americana.

Argentina

José Augusto de Castro disse que ainda é cedo para afirmar se a medida cambial recentemente adotada pela Argentina poderá dificultar as importações feitas do Brasil. Ele disse que, se eventualmente, os países sul-americanos deixarem de comprar da Europa e Estados Unidos, eles podem vir a comprar do Brasil, o que não implicará em nenhuma queda para a balança do país. Dentro de dois meses, ele acredita se poderá começar a ter uma sinalização mais clara do que vai acontecer. Isso se deve ao peso grande que tem o transporte rodoviário entre Brasil e Argentina, apontou.

Os principais produtos exportados pelo Brasil para a América do Sul são automóveis (11%) e autopeças (9,6%), para a Argentina; adubos (5%), máquinas agrícolas (4,6%) e automóveis (3,7%), para o Paraguai; automóveis (8,2%), pick-up (6%), carne bovina (4,9%) e carne suína (4,5%), para o Uruguai; petróleo (28%), para o Chile; barras de ferro (10%), para a Bolívia; petróleo (23%), para o Peru; automóveis (16%), para a Colômbia; automóveis (9,1%), laminados (6,9%) e polímeros (5,1%), para o Equador; e açúcar (18%), gorduras e óleos vegetais (17%) e produtos comestíveis (11%), para a Venezuela.

Em contrapartida, os principais produtos adquiridos pelo Brasil da região são pick-up (20%), automóveis (12%), trigo (12%), energia elétrica (8,9%), da Argentina; energia elétrica (32%) e soja (11%), do Paraguai; pick-up (11%), cereais (10%), artigos plásticos (9,6%) e energia elétrica (9%), do Uruguai; cobre (44%) e pescado inteiro (13%), do Chile; gás natural (88%), da Bolívia; cobre (35%) e outros minérios (19%), do Peru; carvão (31%), coque (18%) e polímeros (16%), da Colômbia; chumbo (31%), do Equador; álcoois e fenóis (45%) e adubos (31%), da Venezuela.

 

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