A Polícia Federal (PF) intimidou o brasileiro Alexandre Kunz, que reside na Inglaterra há dez anos a prestar depoimento virtual nesta terça-feira (2). A intimação decorre de questionamentos que o brasileiro fez ao ministro Luís Roberto Barroso durante uma palestra na Universidade de Oxford em junho de 2022.
Em um vídeo divulgado em suas redes sociais, Kunz afirmou não saber o motivo para ter sido intimado.
“Será que eles vão me investigar agora por eu discordar do ministro Barroso quando ele veio aqui em Oxford falar que os votos seriam contados manualmente [se o projeto do voto impresso auditável fosse aprovado]? Ou por que eu falei para ele que a grande maioria da população estava indignada com tudo o que ele e alguns ministros estavam fazendo com o Brasil?”, disse.
Com um tom de indignação evidente, ele acrescentou que, nos dias de hoje, expressar desacordo com o governo ou com certos ministros do STF pode resultar em intimações semelhantes a que ele recebeu.
“Minha pergunta é: será que a polícia que vai me investigar é a que está investigando se Bolsonaro importunou uma baleia? É a polícia que está perseguindo a direita no Brasil? Porque se você é de oposição, se você não concorda com esse governo, ou com alguns ministros, provavelmente você irá receber uma carta dessas. Se não, você não está sendo oposição o suficiente. Essa democracia relativa brasileira. Ou será que é a polícia que está atrás de bandidos, criminosos, assaltantes? Qual é a polícia que está me intimando, eis a questão”, completou.
Entenda o caso
O evento em questão, o Fórum Brazil UK, foi organizado por estudantes das universidades de Oxford e London School of Economics and Political Science, no Reino Unido. Durante a palestra, Barroso abordou os “desafios enfrentados” durante sua presidência no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em determinado momento, Kunz, presente na audiência, questionou o ministro, expressando: “Como vamos confiar nas urnas, se o indivíduo que vai presidir foi o mesmo que liberou o maior ladrão?”, referindo-se ao ministro Edson Fachin, que estava programado para ser o próximo presidente do TSE.
Diante dos questionamentos, Barroso atribuiu as observações de Kunz a um “déficit de civilidade”. “Esse é um dos problemas que nós estamos vivendo no Brasil, um deficit imenso de civilidade. Precisamos resgatar a capacidade de divergir com respeito, viramos um país de ofensas”, disse.
O brasileiro, eventualmente expulso do evento, compartilhou um vídeo em suas redes sociais expressando: “Tenho a satisfação de poder externar o que está entalado na garganta de mais de 55 milhões de brasileiros”.