O Brasil está diante de outro recorde negativo na saúde em 2024. O país enfrenta o mais grave surto de febre oropouche já registrado na história. A doença é transmitida pelo inseto culicoides paraensis (maruim), imune a repelentes e a muitos inseticidas.
Até julho, foram diagnosticados cerca de 7,5 mil casos da doença, conforme dados do Ministério da Saúde, liderado pela socióloga Nísia Trindade. O baixo acesso aos exames levanta suspeitas de subnotificação.
No início de agosto, foram confirmadas três mortes relacionadas à doença, todas no estado da Bahia. As vítimas são duas mulheres com menos de 30 anos e um recém-nascido com quadro de microcefalia que não resistiu a oropouche.
De acordo com as autoridades locais, as mulheres apresentaram sintomas iniciais que incluíam mal-estar, febre súbita e náuseas, semelhantes aos da dengue, mas evoluíram para queda de pressão e sangramentos extensos.
Estes dados marcam os primeiros óbitos causados pela febre oropouche conhecidos no mundo.
Morte fetal
De acordo com os especialistas, a febre oropouche também pode causar morte fetal. Em Pernambuco, foi identificado o primeiro em decorrência da doença, com outras três mortes de fetos sob investigação. As mães afetadas estão clinicamente bem e já receberam alta hospitalar.
Elas chegaram ao hospital com febre, dor de cabeça e, uma delas, com manchas pelo corpo.
O Ministério da Saúde está analisando ao menos oito casos de possível transmissão de gestante para feto no país.
Oropouche se espalha
No ano passado, a febre oropouche estava restrita à região amazônica, afetando apenas os estados do Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia e Pará (este último com apenas um caso registrado). Em 2024 a doença se expandiu para 22 estados e o Distrito Federal.
O aumento dos casos é quase nove vezes superior em relação a 2023.
Em entrevista ao jornal O Globo, o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Julio Croda, apontou a causa provável.
“Esse aumento não está ocorrendo porque ampliamos nossa capacidade de testagem no país”, disse, “mas porque o vírus sofreu mutações e ganhou capacidade de replicar-se. Houve uma modificação genética do vírus que deu a ele vantagens, mais habilidade em sua transmissão além da região amazônica.”
Na semana passada, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) emitiu um alerta epidemiológico sobre o avanço do vírus. De acordo com o órgão, além do Brasil, a febre oropouche também se espalhou na Bolívia, Peru, Colômbia e Cuba.
Sintomas da doença
De difícil diagnóstico, os sintomas da febre oropouche são parecidos com os da dengue, embora o vírus seja bastante diferente, conforme especialistas da Fiocruz.
Os sintomas incluem febre, mal-estar, fadiga, dores musculares e desconfortos intestinais. Em casos raros, pode evoluir para meningite ou febre hemorrágica.
Conheça o maruim
O vetor da doença, o Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, até recentemente não era uma preocupação significativa.
Com cerca de 1,5 mm de comprimento, o maruim, caracterizado por suas asas com pontos brancos, é menor que o Aedes aegypti (7 mm), transmissor da dengue, zika e chikungunya, e o pernilongo comum (entre 3 e 4 mm).
Este inseto não se alimenta de sangue com frequência e só o faz durante a reprodução. Sua picada é mais dolorosa, podendo ser sentida na pele.
Sua presença é difícil de evitar, já que ele passa facilmente por redes de proteção, e é resistente a repelentes e muitos inseticidas.
A proliferação do maruim acontece, especialmente, em ambientes com zonas de mata, mangues e brejos. Restos de alimentos também favorecem a proliferação do pequeno inseto.
Como evitar
Para evitar picadas de maruim, a nota técnica da Fiocruz recomenda o uso de telas com malhas finas, como o tecido voil.
Além disso, os especialistas aconselham usar roupas longas ao entardecer e aplicar óleo corporal, que adere ao pequeno inseto e impede seu voo.