Brasil e China organizam reunião com países do chamado “Sul global” para promover proposta de paz para Ucrânia

Por Emmanuele Khouri
23/09/2024 20:57 Atualizado: 23/09/2024 20:57

Nesta sexta-feira (27), após a reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, o governo do Brasil e da China estão organizando uma reunião visando divulgar sua proposta conjunta com um plano de paz para a guerra da Ucrânia e obter apoio de outros países para a proposta. 

 Segundo uma lista divulgada pela Folha de São Paulo, foram convidados ao todo 19 países, e todos são países do chamado “Sul global”. Por sua vez, nem Rússia nem Ucrânia foram convidados para o encontro. 

“Sul global” é um termo não oficial usado por esses países para se referir às nações em desenvolvimento. China e Rússia frequentemente usam o termo para quando se referem a construção de um novo bloco de poder que visaria opor os blocos ocidentais tradicionais. 

A Folha teve acesso à lista de países que serão convidados, que segundo eles, se dividem em duas categorias.  

Uma com África do Sul, Arábia Saudita, Egito e Indonésia, que são países mais ativos no processo de preparação. E outra com os Emirados Árabes Unidos, Tailândia, Vietnã, Etiópia, Zâmbia, Nigéria, Senegal, Bolívia, Colômbia, México, Argélia, Cazaquistão, Malásia, Quênia e Azerbaijão.

Muitos desses países convidados são membros do Brics, estão em processo de entrada, ou já demonstraram interesse por ingressar no grupo. O BRICS é um bloco que tem entre seus membros principais Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul e no início deste ano recebeu cinco novos membros.    

Como representantes do Brasil nesse encontro espera-se a presença do chanceler Mauro Vieira e de Celso Amorim, que é assessor para assuntos especiais da presidência, e tem sido um dos principais responsáveis pela organização do encontro entre os países essa semana. 

Além disso, foi Amorim quem assinou em maio deste ano, juntamente com o Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, essa proposta conjunta de Brasil e China para a resolução da guerra na Ucrânia.

  O documento gira em torno de seis recomendações. Entre elas estão, a “desescalada da situação”, a “convocação de uma conferência internacional de paz, que será reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia”, a não utilização de armas de destruição em massa e uma “rejeição da divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados”.

A proposta apesar de ter apoio de países mais ligados a China e Rússia, tem sido criticada por especialistas e rejeitada por países ocidentais como os EUA e pela própria Ucrânia por, segundo eles, favorecer os interesses da Rússia na guerra. 

Entre as críticas feitas está o fato de ser proposto que a resolução seja realizada conjuntamente por Rússia e Ucrânia, já que a Ucrânia estaria em uma posição de fraqueza por ser o país invadido. E outro ponto é que o documento não pedia uma retirada das tropas russas do território ucraniano que foi tomado durante o conflito. 

 A polêmica na época também girou em torno do fato de a proposta ter sido publicada um mês antes da cúpula de paz da Ucrânia que aconteceu na Suíça e visava discutir resoluções para a Guerra.

 À época, o governo brasileiro recusou um convite para participar da cúpula afirmando não demonstrar interesse já que Putin não havia convidado para integrar essas discussões de paz. 

Quem acabou sendo enviada foi a embaixadora do Brasil na Suíça, Cláudia Fonseca Buzzi, e apenas com uma observadora do encontro. A declaração final da conferência de paz também não foi apoiada pelo governo brasileiro. 

Presidente ucraniano critica a proposta

 Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia, voltou a criticar a resolução sino-brasileira, afirmando acreditar que ela não “seja um plano concreto” por não conter ações e fases específicas, que segundo ele poderiam implicar em uma generalização que “esconderia alguma coisa”. 

“Não acredito que seja um plano concreto, porque não vejo quaisquer ações ou fases específicas, apenas uma certa generalização de procedimentos. Uma generalização esconde sempre alguma coisa”, disse Zelensky, na sexta-feira (20). 

 Poucos dias antes ele também já havia afirmado que “A proposta de China e Brasil é destrutiva” e que era apenas uma “declaração política”. E disse acreditar que o governo brasileiro estava apoiando a Rússia. 

Enquanto isso, na quarta-feira (18), o presidente do Brasil, Lula da Silva, esteve ao telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, para, de acordo com o Palácio do Planalto, discutir essa proposta de paz. 

Em uma ocasião passada, o líder russo afirmou também que Índia, Brasil e China — todos membros do Brics  —  são os países com condições para mediar o conflito.