O Brasil enfrenta a possibilidade de voltar a importar petróleo até 2034, caso não consiga explorar a margem equatorial, uma área do litoral norte do país considerada o “novo pré-sal”. A afirmação foi feita por Sylvia Anjos, diretora de Exploração e Produção da Petrobras, durante uma palestra na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
De acordo com Sylvia, o pré-sal atualmente representa 81% da produção nacional, e deve sofrer uma queda significativa nos próximos cinco a seis anos. Ela participou de uma aula aberta no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da UFRJ.
“O tempo está sendo muito crítico, em cinco, seis anos tem uma caída da produção do pré-sal e, com isso, a gente pode voltar a ser importador de petróleo em 2034, 2035, se a gente não tiver descobertas”, declarou a diretora no evento.
A Petrobras possui 16 poços na nova fronteira exploratória, mas enfrenta restrições. Atualmente, a estatal tem licença para perfurar apenas dois poços na costa do Rio Grande do Norte.
No entanto, a solicitação de licença para explorar outras áreas, incluindo a Bacia da Foz do Amazonas, foi negada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que alegou preocupações ambientais.
Sylvia enfatizou a urgência da situação, ressaltando que o Brasil, autossuficiente em petróleo desde 2006, pode perder essa condição sem novas descobertas.
A petrolífera pediu ao Ibama uma reconsideração de sua negativa e aguarda uma resposta, mas ainda não há previsão de quando isso ocorrerá.
A Petrobras também solicitou à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a suspensão do prazo de concessão, para evitar perda de tempo.
Mesmo sem licença, estatal obedeceu imposições
A diretora comentou que a empresa já atendeu a diversas exigências do Ibama, como a criação de um centro para acolhimento de animais em caso de derramamento de óleo, bem como garantias sobre a capacidade do Aeroporto de Oiapoque, no Amapá.
Ela também contestou informações sobre a presença de corais na foz do rio Amazonas, afirmando que os estudos não comprovam essa alegação, a qual chamou de “fake news científica”.
Sylvia expressou frustração com a demora na concessão das licenças, mas se mostrou otimista sobre as chances de obter a autorização em breve.
Mesmo que a licença fosse concedida, a perfuração não começaria antes de 2024, devido à necessidade de preparação logística.
Prejuízo, parcerias com petroleiras e carbono
A falta de licença representa um prejuízo operacional para a Petrobras, que tem enfrentado custos elevados com a manutenção de sondas paradas, segundo a diretora. Ela também mencionou o interesse de grandes petroleiras em parcerias, dependendo do sucesso das explorações na região.
“Todas as empresas estão de olho no Brasil, porém, elas perderam a esperança com a questão da licença. Então, [se a Petrobras conseguir] todo mundo volta a ter interesse”, disse Sylvia.
A especialista afirmou que a exploração em questão não é incompatível com a política ambiental do país, pois a Petrobras busca produzir petróleo com menor emissão de carbono, e chegará à meta de zero emissões líquidas até 2050.
“Qual petróleo que estará presente? Aquele que é menos emissor. Nesse sentido, a emissão do pré-sal chega a ser de sete a nove quilos de CO2 por barril. A média no mundo é 17 kg, e alguns campos imensos, mais de 20 kg”, completou.