Brasil assume a presidência rotativa do BRICS pela 4ª Vez

Entre os desafios de Lula, estão a articulação com novos membros e a continuidade da desdolarização do comércio, diante da ameaça de Donald Trump com um “tarifaço" de 100%.

Por Redação Epoch Times Brasil
02/01/2025 11:25 Atualizado: 02/01/2025 11:25

O Brasil assumiu nesta quarta-feira (1º) a presidência rotativa do BRICS em um momento de expansão do bloco. Além da Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo agora conta também com a presença da Etiópia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã, formando um total de 10 membros plenos, além da perspectiva de novas adesões. 

Em um comunicado, o governo brasileiro apresentou sua nova gestão com o lema: “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global por uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. A presidência do Brasil no BRICS termina em 31 de dezembro de 2025.

Esta é a quarta vez que o país assume a presidência do BRICS, desde que o bloco foi criado em 2009. Com isso, após o G20 ocorrido em novembro no Rio de Janeiro, o Brasil voltará a ser anfitrião de um evento com importantes chefes de Estado, sendo sede das próximas cúpulas do grupo, que costumam ser realizadas no segundo semestre.

A cúpula deste ano deverá acontecer em julho, inicialmente no Rio de Janeiro. De acordo com o governo federal, a previsão é que mais de 100 reuniões paralelas ocorram em Brasília entre fevereiro e julho.

Em 2024, com a Rússia na presidência, a cúpula foi realizada na cidade russa de Kazan. Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de forma virtual, após sofrer uma queda no banheiro da residência oficial e ser impedido pelos médicos de viajar.

Mais 13 países

Durante a cúpula na Rússia, o BRICS formalizou o convite para a adesão de mais 13 países. De acordo com a agência russa Tass, ao menos 9 deles ingressaram como membros. São eles: Cuba, Bolívia, Indonésia, Belarus, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.

Entretanto, o Itamaraty ainda não confirmou se esses países ingressaram na condição de parceiros (com presença nas reuniões, mas sem direito a voto) ou membros efetivos (com poder de voto ou veto nas decisões).

O BRICS ainda aguarda a confirmação da Turquia, Argélia, Vietnã e Nigéria ao convite para integrar o grupo.

Conheça as prioridades estabelecidas pelo Brasil para a presidência em 2025

  • Facilitação do comércio e investimentos entre os países do agrupamento, por meio do desenvolvimento de meios de pagamento;
  • Promoção da governança inclusiva e responsável da Inteligência Artificial (IA) para o desenvolvimento;
  • Aprimoramento das estruturas de financiamento para enfrentar as mudanças climáticas, em diálogo com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30);
  • Estímulo aos projetos de cooperação entre países do Sul Global, com foco em saúde pública;
  • Fortalecimento institucional dos BRICS.

Os desafios do Brasil 

Além da articulação com novos membros, muitos dos quais têm regimes ditatoriais, outro desafio do Brasil na presidência do bloco é dar continuidade à desdolarização, com a construção de um sistema de pagamento com moedas locais nas transações comerciais, em substituição à moeda norte-americana.

A ameaça de Trump 

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, do Partido Republicano, que assumirá o comando da nação mais poderosa do mundo em 20 de janeiro, já fez críticas e um alerta ao BRICS. 

Diante das iniciativas do bloco para desdolarizar o comércio internacional, medida defendida principalmente pelo presidente Lula, Trump ameaçou impor tarifas de 100% sobre os países do grupo, caso eles criem uma nova moeda para rivalizar com o dólar norte-americano.

“Exigimos um compromisso desses países de que não criarão uma nova moeda do BRICS nem apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar [norte] americano, ou eles enfrentarão tarifas de 100% e devem esperar dizer adeus à venda para a maravilhosa economia dos EUA”, afirmou Trump no final de novembro através de sua rede social, a Truth Social. 

A desdolarização não é uma posição unânime dentro do BRICS. Alguns países temem as consequências de romper com os EUA e outras nações ocidentais ao se afastarem do dólar norte-americano, que ainda é a base do sistema financeiro global.

Se uma tarifa de 100% for imposta sobre os produtos dos países do BRICS para entrarem nos EUA, isso elevaria significativamente os custos desses bens e causaria a desestabilização dos fluxos comerciais internacionais. 

Entretanto, para o professor de direito internacional da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Borba Casella, ouvido pela Agência Brasil, vinculada ao governo petista, Trump não tem condições de impor tarifas a todos os países do BRICS sem prejudicar a economia dos EUA, com aumento da inflação.

Casella, que faz parte do Grupo de Estudos sobre os BRICS (Gebrics) da USP, acredita que Trump esteja blefando.

“Ele joga para o eleitorado interno, tentando mostrar uma posição, mas é uma bobagem, porque o sistema internacional não funciona apenas com ameaças”, disse Casella. “Pode ser a vocação dos BRICS se contrapor a um discurso bastante mesquinho e grosseiro do ponto de vista das relações internacionais, como o estilo Trump.”

Em breve, o mundo saberá se Trump estava apenas mantendo um discurso para agradar seus apoiadores ou se manterá o “tarifaço”, caso o BRICS insista na desdolarização. Até lá, a fala do republicano se mantém firme.

“Eles podem procurar outro otário”, acrescentou Trump em sua ameaça. “Não há chance de que o BRICS substitua o dólar americano no comércio internacional, e qualquer país que tentar deve se despedir da América. A ideia de que os países do BRICS estão tentando se afastar do dólar enquanto ficamos aqui assistindo acabou.”