Por Eduardo Davis, Agência EFE
O Brasil aposta em um acordo que negocia com os Estados Unidos para retomar seu programa espacial e entrar no clube “de nações” com capacidade de colocar satélites em órbita, um mercado de cerca de US$ 330 bilhões anuais.
As negociações com os Estados Unidos, que se aceleraram neste ano, apontam para um acordo de salvaguardas tecnológicas que permita ao Brasil utilizar a Base de Alcântara, no Maranhão, cuja posição geográfica privilegiada gera uma grande economia de combustível em cada lançamento.
O brigadeiro Luiz Fernando de Aguiar, presidente da comissão que coordena os programas espaciais do Brasil, disse aos jornalistas durante uma visita à base que o acordo negociado com os norte-americanos pode ser a porta de entrada do país no negócio global de lançamento de satélites.
“Os Estados Unidos dominam plenamente a área espacial e fabricam muitos componentes que outros países usam na construção de seus satélites, que poderiam ser lançados a partir de Alcântara se for assinado o acordo de salvaguardas tecnológicas”, explicou Aguiar.
“A preocupação dos Estados Unidos é que toda sua tecnologia seja protegida, uma condição que as autoridades brasileiras aceitam e compartilham”, disse à Agência EFE Aguiar, que se mostrou convencido de que o acordo pode ser assinado antes do fim do ano, embora o mesmo só entraria em vigor depois de aprovado pelo Congresso.
No entanto, o país está em pleno processo eleitoral, o que pode atrasar a aprovação.
Mesmo assim, segundo Aguiar, apesar da dificuldade política representada pelo processo eleitoral, “não existe presidente e nem parlamentar que possa ser eleito sem dar a devida importância ao espaço”.
Aguiar acrescentou, além disso, que as autoridades do programa espacial já trataram sobre o assunto com os principais candidatos à presidência e garantiu que “a maioria” apoia as negociações com os Estados Unidos.
Uma das grandes vantagens da base brasileira é a posição geográfica, na latitude 2°18′ sul, próxima à Linha do Equador, o que permite uma economia de quase 30% de combustível diante de lançamentos feitos do Cabo Canaveral.
Aguiar explicou que se o acordo sobre salvaguardas tecnológicas for confirmado, já existe interesse de empresas privadas dos Estados Unidos, Europa e Ásia nas instalações de Alcântara, pelo menos para o lançamento de microssatélites.
O programa espacial brasileiro, que data dos anos 80, foi interrompido abruptamente em 2003, quando a explosão de um foguete pouco antes de seu lançamento matou 21 engenheiros que trabalhavam na montagem do mesmo na base de Alcântara.
A partir de então, a estrutura dessas instalações recebeu fortes investimentos que modernizaram os equipamentos e também a segurança em todo o complexo espacial, que abrange uma área de 9.256 hectares.
No entanto, desde 2003, em Alcântara somente foram lançados foguetes suborbitais. Aguiar garantiu à EFE que as instalações dessa base têm a capacidade de enviar ao espaço projéteis de grandes dimensões.
“Só seria necessário adaptar a torre ao foguete em questão”, disse Aguiar, convencido de que o Brasil tem capacidade de entrar para o clube “de nações” capazes de colocar em órbita um satélite, ao qual até hoje só pertencem Estados Unidos, China, França, Índia, Israel, Japão, Rússia e Ucrânia.
“Não sonhamos com todo o mercado, mas pelo menos uma pequena parte podemos ocupar”, disse Aguiar, calculando que o negócio global de lançamentos espaciais movimenta hoje cerca de US$ 330 bilhões e cresce à proporção de 5% ao ano.