Bolsonaro assina acordo de defesa com Comando Sul dos EUA

08/03/2020 23:15 Atualizado: 08/03/2020 23:23

Por Agência EFE

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, participou neste domingo em Miami da assinatura de um acordo militar com os Estados Unidos que, segundo o chefe do Comando Sul (Southcom), Craig Faller, ajudará a enfrentar ameaças regionais como a crise da Venezuela.

“É um acordo histórico”, disse Faller, que recebeu Bolsonaro na sede da Southcom em Doral, cidade perto de Miami habitada por muitos venezuelanos.

Bolsonaro, que se reuniu com o presidente dos EUA, Donald Trump, em Palm Beach, no sábado, a cerca de 160 quilômetros ao norte de Miami, é o primeiro presidente do Brasil a visitar a Southcom, a instituição responsável pelas operações militares dos EUA na América Latina e no Caribe.

Na cerimônia, quem falou em nome do governo brasileiro foi o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que também assinou o Acordo de Pesquisa, Desenvolvimento, Teste e Avaliação (RDT & E).

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, juntamente com o comandante do Comando Sul dos Estados Unidos, almirante Craig Faller, em Miami, Flórida, em 8 de março de 2020 (GASTÓN DE CÁRDENAS / AFP via Getty Images)

Bolsonaro e Azevedo se reuniram com Faller e outros militares dos EUA antes de assinarem para discutir “oportunidades e ameaças regionais” e “como trabalhar juntos”.

O RDT & E assinado hoje, que deve ser ratificado pelos Congressos dos dois países para sua entrada em vigor, facilitará a abertura do maior mercado de defesa do mundo para a indústria brasileira.

O novo acordo, segundo o Ministério da Defesa do Brasil, pode ampliar o acesso ao mercado norte-americano, bem como a formalização de outros acordos no setor de defesa, reduzindo processos burocráticos no comércio de produtos desse setor entre Brasil e Estados Unidos.

O tratado estava sendo estudado pelo governo de Michel Temer (2016-2018) e as negociações se aceleraram sob o mandato de Bolsonaro, um militar aposentado que encontrou um amigo comercial e militar em Trump.

Trump anunciou em 2019 ao Congresso dos EUA seu interesse em declarar o Brasil como um aliado estratégico dos EUA fora da OTAN, que aprofundará a cooperação em defesa com o gigante sul-americano, o segundo país do continente que alcançaria esse status especial, depois da Argentina.

Essa classificação, um passo fundamental para viabilizar a RDT & E, abre as portas para o excesso de artigos de defesa e a organização de manobras conjuntas com os Estados Unidos.

O Ministério da Defesa do Brasil disse em comunicado hoje que, além de expandir a penetração brasileira no mercado dos EUA, o RDT & E poderia facilitar a entrada de produtos brasileiros em 28 outros países membros da OTAN, a maioria dos quais tem acesso ao fundo de Defesa americana.

Um relatório do Atlantic Council, um centro de estudos com sede em Washington, destacou na quinta-feira o recente aprofundamento de ambas as nações, a maior economia da região, nos setores aeroespacial, energia, turismo, saúde, infraestrutura e automotivo, além de defesa e segurança.

Ele destacou, a esse respeito, o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas entre as duas nações, que permite o lançamento de naves espaciais e satélites dos EUA a partir da base espacial de Alcântara, na Amazônia brasileira.

O acordo foi aprovado pelo Congresso Brasileiro em novembro de 2019 e os lançamentos devem começar em 2021.

Bolsonaro voltou a Miami na noite passada depois de participar de um jantar de trabalho com Trump no clube Mar-a-Lago em Palm Beach, com uma agenda na qual, segundo fontes da Casa Branca, foram tratados assuntos comerciais, militares e , principalmente, a sobre a crise venezuelana.

“O Brasil o ama e os Estados Unidos o amam”, disse Trump quando o recebeu em sua mansão e ao mesmo tempo em um clube particular em Palm Beach.

Um alto funcionário da Casa Branca antecipou à imprensa no sábado que os dois líderes abordariam a “maximização” da pressão sobre o “Estado narco” de Nicolás Maduro.

Segundo essa fonte, a pressão é de “cerca de 60%” e aumentará em março para o “máximo” em aliança com o governo da Colômbia e os demais membros do Grupo Lima “para alcançar a democracia” em Venezuela.

“Nos próximos dias e semanas, haverá uma escalada em direção à pressão máxima que estamos procurando”, enfatizou.

A Southcom, por sua vez, indicou em várias ocasiões que mantém um “leque de opções” para enfrentar a ameaça regional representada pela Venezuela, incluindo o trabalho com seus parceiros na região, o compartilhamento de informações e a preparação para assistência humanitária.

Bolsonaro deve se reunir na segunda-feira com os senadores republicanos Marco Rubio e Rick Scott, aliados e conselheiros do presidente Trump para tratar de questões de pressões comerciais e sanções contra as ditaduras da Venezuela e Cuba.

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