Análise de notícias
O Banco Central do Brasil divulgou dados na sexta-feira (26) que apontam para um aumento no volume de papel-moeda em circulação e uma redução nas reservas bancárias. Em junho, a base monetária totalizou R$ 436,9 bilhões, representando um crescimento de 8,4% nos últimos doze meses. O volume de papel-moeda em circulação subiu 1,8%, enquanto as reservas bancárias diminuíram 6,1%.
Há mais moedas em circulação e menos em poupanças e investimentos bancários, o que deveria diminuir a quantidade de empréstimos, porém não é o que se vê:
Crédito Ampliado ao Setor Não Financeiro:
O saldo total alcançou R$17,4 trilhões em junho, um aumento de 2,2% em relação ao mês anterior e 13,6% em relação ao ano anterior.
O crédito para empresas cresceu 3,3% no mês e 14,6% no ano.
O crédito para famílias cresceu 0,6% no mês e 11,5% no ano.
Operações de Crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN):
O estoque total de crédito do SFN aumentou 1,2% no mês, com um crescimento de 2,2% para empresas e 0,6% para famílias.
Em termos anuais, o crescimento foi de 9,9%, com crédito para pessoas jurídicas aumentando 7,7% e para pessoas físicas 11,4%.
Esses dados indicam um crescimento geral nos empréstimos, refletindo uma expansão monetária para empresas e famílias.
Estímulo à Economia
O aumento da circulação de dinheiro pode inicialmente estimular a atividade econômica.
Com mais moeda disponível, os consumidores tendem a gastar mais, e as empresas podem investir em expansão. Esse aumento no consumo e no investimento pode reduzir o desemprego e acelerar o crescimento econômico.
É uma estratégia frequentemente utilizada em tempos de recessão para estimular a economia, oferecendo um impulso imediato ao consumo e ao investimento.
Contudo, Ludwig von Mises explica em sua obra “Ação Humana”, que essa estratégia de expansão monetária sem um aumento correspondente na produção de bens e serviços pode levar à inflação.
Riscos de Inflação
Mises explica que a inflação ocorre quando há mais dinheiro competindo por menos bens, resultando em um aumento generalizado nos preços.
A inflação é uma das principais preocupações associadas ao aumento da circulação de dinheiro. Quando a quantidade de dinheiro na economia cresce mais rapidamente do que a produção de bens e serviços, os preços tendem a subir. Isso pode erodir o poder de compra dos consumidores, especialmente daqueles com renda fixa, como aposentados e trabalhadores com salários estáticos.
Exemplificando: um vendedor tem uma maçã e vende essa fruta no máximo por R$ 1,00 devido aos consumidores possuírem apenas R$ 5,00 para comprar frutas. Caso o vendedor continue com apenas uma maçã e os consumidores por algum motivo agora possuírem R$ 10,00 para comprar frutas, isso libera o proprietário da fruta a aumentar o preço para R$ 2,00 ou mais para produzir mais maçãs. Caso o dono da maçã tivesse mais maçãs, esse aumento de preço não aconteceria, na verdade cairia, já que teria maior oferta por parte de um produto.
Mises destaca que, em casos extremos, isso pode culminar em um “crack-up boom“, onde a moeda perde tanto seu valor que as pessoas começam a se desfazer de dinheiro em favor de bens reais, antecipando uma desvalorização ainda maior do dinheiro: uma corrida às compras, o que vai aumentar ainda mais o preço dos produtos podendo causar desabastecimento.
Ilusão monetária
Murray Rothbard, em sua obra “Homem, Economia e Estado”, discute o conceito de “ilusão monetária”, onde as pessoas acreditam estar mais ricas porque possuem mais dinheiro, sem perceber que o valor real desse dinheiro está diminuindo.
Rothbard alerta que a inflação pode criar uma redistribuição de riqueza, beneficiando aqueles que recebem o novo dinheiro primeiro — geralmente o governo e o setor bancário — em detrimento daqueles que o recebem por último, como trabalhadores e poupadores.
A inflação também pode ter um efeito cascata na economia, levando a um ciclo vicioso de aumento de preços e salários. Isso pode acontecer quando os trabalhadores demandam salários mais altos para compensar o aumento do custo de vida, o que, por sua vez, levam as empresas a aumentarem
os preços para cobrir os custos salariais mais elevados.
Esse processo pode resultar em uma espiral inflacionária, onde os preços e os salários continuam a subir de forma descontrolada gerando também desemprego e pobreza.
Possibilidade de crises econômicas
Além do risco de inflação, a diminuição das reservas bancárias pode aumentar a vulnerabilidade do sistema financeiro a crises de liquidez. Com menos reservas, os bancos ficam mais expostos a choques econômicos e a corridas bancárias, onde muitos depositantes tentam sacar seus fundos ao mesmo tempo. Isso pode levar a uma crise financeira, agravando a instabilidade econômica.
Rothbard argumenta que a prática de empréstimos excessivos por parte dos bancos, com base em reservas fracionárias, pode criar ciclos econômicos de boom e bust (expansão e retração). Durante o boom, há uma expansão econômica alimentada por crédito fácil, mas essa expansão é frequentemente insustentável.
Quando os investimentos financiados pelo crédito fácil se mostram inviáveis, a economia pode entrar em uma fase de retração, caracterizada por falências, desemprego e queda na produção.
Dados complementares e implicações
Os dados do Banco Central também mostram um aumento no endividamento das famílias, que atingiu 47,5% em maio, com o comprometimento de renda chegando a 25,7%. Isso sugere que uma parte significativa do aumento na circulação de dinheiro pode estar sendo usada para consumo e financiamento pessoal para gerar dívidas e prejuízo, em vez de investimentos produtivos.
Este padrão de gasto pode exacerbar o problema inflacionário e aumentar a vulnerabilidade econômica das famílias, especialmente se houver uma desaceleração econômica ou aumento nas taxas de juros.
As teorias de Mises e Rothbard fornecem uma estrutura para entender essas dinâmicas dentro de um contexto mais amplo de economia de mercado e política monetária. Eles enfatizam a importância de uma gestão cuidadosa da oferta monetária para evitar desequilíbrios econômicos e sociais que podem surgir de uma expansão monetária descontrolada.
A história econômica oferece inúmeros exemplos de crises inflacionárias, como a hiperinflação na Alemanha em 1923, que demonstram os perigos de políticas monetárias irresponsáveis.
Isso não significa que amanhã entraremos em uma crise, mas o aumento da circulação de dinheiro e a redução das reservas bancárias no Brasil exigem uma análise cuidadosa e uma abordagem prudente para garantir a estabilidade econômica. As autoridades monetárias devem equilibrar a necessidade de estimular a economia com a responsabilidade de manter a estabilidade financeira e o poder de compra da moeda.
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times