O governo federal suspendeu a publicação de boletins sobre óbitos e doenças no território Yanomami após constatação de aumento no número de mortes entre os indígenas. Desde fevereiro, o Ministério da Saúde não divulgou novas informações sobre os casos em 2024 – o último relatório apresenta dados apenas até 31 de dezembro de 2023.
Os boletins eram atualizados semanalmente e, a partir de agosto, passaram a ser mensais. No entanto, após o acréscimo das mortes, o ritmo de publicação dos informes foi reduzido drasticamente.
Em 2023, o número de mortes entre os yanomamis aumentou 5,8% em relação ao ano anterior. O boletim mais recente da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) relatou 363 óbitos, comparados a 343 em 2022. Os dados ainda estão sujeitos a alterações devido a investigações em andamento, bem como dificuldades na coleta de informações no território.
O Ministério da Saúde atribui a subnotificação de casos ao governo anterior. A alegação da pasta é que teria ocorrido uma precarização dos serviços e sistemas, resultando na falta de registros precisos.
O governo federal prometeu que publicará em breve um balanço com dados atualizados. O Ministério da Saúde alega que acompanha a situação Yanomami ininterruptamente e tem implementado ações para “aumentar a assistência em saúde e o bem-estar indígena”. Além disso, argumenta que tem atuado de forma transversal com outras pastas para “garantir o direito ao território indígena e o restabelecimento pleno da cultura Yanomami”.
Os indígenas Yanomami habitam a região fronteiriça entre o Brasil e a Venezuela, no norte da Floresta Amazônica. Do lado brasileiro, as terras ocupam uma área de 9,6 milhões de hectares.
Localizada entre os estados de Roraima e Amazonas, o território Yanomami foi demarcado há mais de 30 anos, e abrange aproximadamente 30 mil pessoas, segundo estimativas.
Líderes indígenas denunciam subnutrição e malária
Segundo representantes yanomamis, doenças graves como a malária e a subnutrição afetam cada vez mais as comunidades indígenas. O presidente da Associação Urihi, Júnior Hekurari Yanomami, descreve a situação da malária como “estarrecedora”, com taxa altíssima de mortalidade entre crianças. Ele revela que a enfermidade persiste em áreas desmatadas e alagadas, favorecendo a proliferação do mosquito transmissor.
Na mesma linha, o representante das aldeias de Auaris, Matheus Sanöma, confirma que os óbitos por malária, diarreia e pneumonia ocorrem progressivamente. Ele observa que muitas aldeias ainda dependem de cestas básicas, enquanto a agricultura tradicional permanece prejudicada.
Júnior Yanomami afirma que é necessário um plano robusto para recuperar a produção agrícola e minimizar os impactos da malária na população. De acordo com ele, muitos pacientes não terminam os tratamentos pela falta de alimentação, sendo que o medicamento usado é muito forte, pois atinge bastante o fígado – fator decisivo em parte dos óbitos.