A demanda por produtos industriais no Brasil, apesar de uma queda mensal de 4,0% em comparação com junho, se manteve em patamar elevado em julho, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No acumulado de 12 meses, a demanda já se aproximou do nível de oferta, gerando preocupação sobre a sustentabilidade desse crescimento.
Essa alta na demanda é causada principalmente por políticas de estímulos ao crédito e recuperação pós-pandemia. Entretanto, o crescimento atual não é sustentável a longo prazo. O aumento da inflação, aliado à falta de expansão da capacidade produtiva, pode gerar instabilidade e comprometer a recuperação econômica.
O relatório do Ipea destaca que a produção industrial, medida pela Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresceu 2,2% no acumulado de 12 meses, enquanto a demanda avançou 2,1%, quase empatando com a oferta de bens industriais.
O descompasso é mais evidente no acumulado do ano. A demanda subiu 5,3%, enquanto a produção industrial aumentou 3,2%. Esse desajuste reforça o cenário de pressão sobre preços e desafios para a economia crescer de forma equilibrada.
Em julho, a queda de 4,0% no consumo aparente de bens industriais foi causada por uma retração de 2,9% na produção doméstica e uma redução de 13,4% nas importações, interrompendo o ciclo de crescimento dos meses anteriores.
A indústria extrativa foi um dos setores mais afetados, com queda de 14,3% na margem e de 15,5% na comparação anual. A indústria de transformação recuou 3,3% no mês, mas ainda apresentou alta de 11,7% em relação ao mesmo mês de 2023.
Apesar dos recuos pontuais, a demanda por bens de capital e bens de consumo duráveis segue elevada. No acumulado de 12 meses, a demanda por bens de capital subiu 22,8%, enquanto por bens duráveis avançou 28,4%.
O desajuste entre oferta e demanda é preocupante em setores como o de veículos automotores, cuja demanda cresceu 32,1% em julho em relação ao ano anterior, mas a produção não acompanhou, elevando preços e pressionando a inflação.
Os dados do Ipea mostram que, dos 22 segmentos analisados, oito registraram crescimento da demanda em julho na comparação com junho. O setor de móveis e de máquinas e aparelhos elétricos tiveram altas de 6,7% e 1,0%, respectivamente. No acumulado trimestral, 19 segmentos registraram crescimento, com destaque para farmoquímicos (11,4%) e veículos automotores (7,7%).
O cenário geral sugere que, apesar do crescimento impulsionado pela alta demanda, a falta de expansão da oferta cria um ambiente de instabilidade econômica. Sem o aumento da capacidade produtiva, o crescimento atual não será sustentável, agravando os desafios econômicos já presentes.