Por Bruna de Pieri – Terça Livre
O “inquérito do fim do mundo” (ou das fake news), instaurado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, tinha como objetivo descobrir segredos da Operação Lava Jato. É o que apontou a Revista Crusoé em reportagem divulgada nesta sexta-feira (18).
O veículo afirma que o Alexandre tinha a intenção de averiguar se algum ministro da Corte estava sendo investigado.
Segundo a Crusoé, homens de Alexandre de Moraes se mobilizaram para descobrir o teor de depoimentos e documentos sobre Dias Toffoli, citado por Marcelo Odebrecht e Gilmar Mendes.
“Apesar dos evidentes excessos do inquérito, Toffoli conseguiu emplacar com sucesso a narrativa de que o inquérito foi e é um instrumento crucial para deter arroubos do governo de Jair Bolsonaro”, diz a revista.
E acrescenta a Crusoé:
“Sinais tresloucados do próprio presidente e de figuras de seu entorno alimentavam o fantasma de que o ex-capitão do Exército poderia intervir nos demais poderes. Falas como aquela de Eduardo Bolsonaro pregando que bastariam ‘um cabo e um soldado’ para fechar o Supremo, por exemplo, contribuíram para o temor. De fato, um dos propósitos do inquérito foi criar um mecanismo para averiguar em que medida o próprio governo vinha estimulando seus apoiadores a minar o STF. Mas havia outros objetivos, menos visíveis para aqueles formadores de opinião que dias atrás aplaudiam Toffoli em sua despedida (…). Documentos sigilosos do inquérito mostram que, logo após vir a público o documento em que Marcelo Odebrecht dizia ser Dias Toffoli o ‘amigo do amigo de meu pai’, os encarregados do inquérito, por ordem de Alexandre de Moraes, iniciaram uma corrida. Queriam descobrir o que mais tinha sobre Toffoli no material em poder da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que havia tido acesso a e-mails até então inéditos trocados por executivos da Odebrecht”, apontou.
Vale lembrar que em abril de 2019 uma reportagem da Crusoé foi censurada no mesmo inquérito após revelar que o ministro Dias Toffoli era tratado como “amigo do amigo de meu pai” em e-mails internos da empreiteira Odebrecht.
“O então presidente do Supremo e outros ministros acreditavam que, para além da barulheira da militância bolsonarista, estava em curso uma maquinação ainda mais complexa, com participação de integrantes da Operação Lava Jato, para minar uma parcela da corte. Mais do que isso, eles tinham certeza de existência de investigações ultrassecretas, realizadas à sorrelfa, destinadas a apanhá-los”, dizia a reportagem.
A Crusoé afirma que a investigação tocada pelo gabinete de Alexandre de Moraes, que fez com que a Polícia Federal investigasse a casa de bolsonaristas, tinha outro sentido: o de “mapear em que medida a Lava Jato estava buscando elementos desabonadores contra ministros do próprio Supremo”.
Depois da revelação de e-mails internos da Odebrecht, os encarregados do inquérito, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, queriam descobrir o que mais tinha sobre Toffoli no material em poder da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
A revista aponta que se iniciou uma corrida para colher o depoimento de Adriano Sá de Seixas Maia, ex-diretor jurídico da Odebrecht, que trocou e-mails com Marcelo Odebrecht sobre conversas com o “amigo do amigo de meu pai”.
“Ao ouvi-lo, por óbvio, seria possível dirimir dúvidas sobre o potencial de dano que a história representava para Toffoli. Estaria Adriano disposto a causar embaraços para o ministro? Ele poderia estar agindo em linha com Marcelo Odebrecht? Teria dito algo comprometedor à Lava Jato? As perguntas pairavam no ar”, afirma Crusoé.
A diz ainda que documentos mostram que Adriano Maia não foi a única testemunha ouvida no inquérito por ordem do gabinete de Alexandre de Moraes.
Em outubro passado, Alexandre determinou que fossem tomados os depoimentos de dois alvos da operação, o auditor da Receita Federal, Marco Aurélio Canal, ex-chefe de uma unidade do Fisco que fazia a interface com Lava jato e acabou preso sob suspeita de participar de um esquema de corrupção, e o empresário Jacob Barata Filho, conhecido como o “rei do ônibus”.
Nos dois casos, segundo mostram os depoimentos a que Crusoé teve acesso, a ideia era entender se os investigadores estavam interessados em avançar sobre ministros da corte. Canal e Barata foram ouvidos no mesmo dia, 30 de outubro, pelo mesmo desembargador Morales, o magistrado instrutor do gabinete do ministro Alexandre.
Barata, “que tem laços familiares com a advogada Guiomar Feitosa, mulher do ministro Gilmar Mendes, respondeu assim: ‘Nesses processos somente teve contato com membros do Ministério Público Federal durante as audiências; em nenhum momento recebeu, sob qualquer circunstância, pressão ou mesmo sugestão de qualquer autoridade no sentido de prestar declarações desfavoráveis a qualquer magistrado, inclusive da Suprema Corte’”, diz a revista.
“O auditor Marco Aurélio Canal, por sua vez, foi ouvido em razão de outra celeuma. Meses antes, tinha vindo a público a existência de uma apuração interna da Receita sobre a evolução patrimonial de familiares de ministros de tribunais superiores com atuação em escritórios de advocacia. Entre os alvos do levantamento estavam Guiomar Feitosa, a mulher de Gilmar, e Roberta Rangel, mulher de Dias Toffoli”.
Marco Aurélio também negou participação no levantamento e também disse que “em nenhum momento sofreu qualquer pressão para direcionar os trabalhos fiscalizatórios na Receita em relação a qualquer autoridade; tampouco tem conhecimento (de) que qualquer outro colega seu tenha recebido tal tipo de pressão ou mesmo sugestão de direcionamento dos trabalhos”.
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