No último dia 27, a Gerdau anunciou a paralisação da usina siderúrgica de Barão de Cocais (MG), Região Central de Minas Gerais. A unidade tem cerca de 500 funcionários. O Sindicato dos Metalúrgicos do município afirmou que seriam esperadas 487 demissões, e tem se mobilizado para evitar o fechamento da usina. Na segunda-feira (3), a categoria aprovou o estado de greve e, mesmo assim, cerca de 200 trabalhadores já teriam recebido sua carta de demissão.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais, Elizeu Santa Cruz, afirmou que houve uma reunião com a empresa, na qual ela teria prometido formalizar a proposta do plano de demissão incentivada. “A Gerdau pegou a gente de surpresa”, exclamou Eliseu. O prefeito da cidade, Décio dos Santos (PSB), também atribuiu culpa à empresa e, assim como o Sindicato, reclamou da postura da Gerdau, a qual chamou de “traição com o município”.
A Gerdau apresenta uma versão diferente dos fatos. Segundo a empresa, os custos elevados de matérias-primas, a insuficiência da produção de minério de ferro próprio em Minas Gerais e a estrutura com menor nível de atualização tecnológica da usina têm afetado diretamente a competitividade da unidade.
“A decisão é resultado de uma profunda análise da competitividade da planta, face às condições do mercado de aço no Brasil. A medida está em linha com o planejamento estratégico da companhia de otimização dos seus ativos”, afirmou a siderúrgica, em nota explicativa da paralisação.
Recorde de importação do aço chinês
Embora não tenha mencionado o aço chinês diretamente na nota, o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, vinha alertando para este problema em outras ocasiões. Em fevereiro deste ano, ele afirmou a jornalistas que a empresa começou 2024 “com a corda no pescoço”.
O motivo, de acordo com Werneck, não é a demanda, que segue estável. O entrave está mesmo na competição com o aço chinês, que chega a preços mais baixos em meio aos subsídios do governo local às exportações. Em dezembro de 2023, o CEO da Gerdau qualificou a situação como uma “competição predatória”.
“Estamos passando por um momento muito difícil de desindustrialização e ela é mais crítica num ano como este no qual temos um recorde de importação de aço chinês no Brasil. (…)
Temos uma penetração muito forte de veículos importados. Tem essa BYD, Build Your Dreams [montadora chinesa]. Talvez ela tenha construído o sonho de alguém, mas certamente não é o meu, porque para um veículo desse a gente não vende sequer um quilo de aço. (…)
Em um momento no qual precisamos criar condição para a camada da população brasileira entre 18 e 25 anos que tem um desemprego na faixa de 25%, eu estou na infelicidade de ter demitido 700 pessoas este ano”.
(Gustavo Werneck, em fala no evento do Movimento Brasil Competitivo, realizado em São Paulo, em dezembro de 2023).
Problema também atinge América Latina
Uma reportagem da BBC News Brasil, publicada em 21 de abril, detalhou que os prejuízos decorrentes da competição predatória do aço chinês não são exclusividade do Brasil, mas também nas nações próximas. Gráficos demonstram que a indústria siderúrgica latino-americana estagnou nos últimos 20 anos, enquanto a chinesa cresceu exponencialmente.
Na medida em que os governos, tanto o brasileiro quanto o dos países vizinhos, não adotam nenhuma medida de proteção às companhias nacionais, as empresas de aço subsidiadas pelo Partido Comunista Chinês (PCCh) continuam avançando.
Para o diretor-executivo da Associação Latino-americana do aço (Alacero), Alejandro Wagner, isso está causando a “desindustralização” da América Latina. Ele denunciou que Pequim exporta o aço a um preço abaixo do mercado, o que impossibilita a concorrência de outros produtores. “Entre 2000 e 2023, a China aumentou a sua produção de aço em quase 700%”, detalhou Wagner à BBC News Mundo.