O governo brasileiro enfrenta potencial crise diplomática com o Canadá, Gabão e Burkina Faso, após abordagem policial agressiva a filhos de diplomatas destes países no Rio de Janeiro. O incidente ocorreu na noite de quarta-feira (5), quando três jovens estrangeiros, acompanhados por dois adolescentes brasileiros brancos, foram parados por uma viatura da Polícia Militar enquanto retornavam para casa em Ipanema, por volta das 19h.
Segundo relatos, os policiais desembarcaram da viatura armados com fuzis e pistolas, intimidando os jovens e realizando revistas íntimas. Raiana Rondhon, mãe de um dos garotos brancos, descreveu o episódio como um ato de violência gratuita. Os adolescentes teriam sido obrigados a tirar seus casacos e submeter-se a revistas humilhantes antes mesmo de serem questionados sobre sua origem e motivo da presença no local.
Os jovens negros, que são filhos de diplomatas, não entenderam inicialmente o porquê da abordagem violenta. Eles explicaram posteriormente que estavam visitando o Rio de Janeiro como turistas.
Julie-Pascale Moudouté, mãe de um dos jovens do Gabão e diplomata, expressou indignação ao exigir uma resposta do Ministério das Relações Exteriores brasileiro (Itamaraty) sobre o incidente, que classificou como claramente racista. Ela enfatizou que a justiça deve prevalecer e que é inaceitável apontar armas para adolescentes sem uma justificativa clara e adequada.
De acordo com a diplomata, o Itamaraty e os consulados dos países no Rio de Janeiro já foram informados e estão apurando a ocorrência. Na manhã de sexta-feira (5), os embaixadores do Gabão e de Burkina Faso foram recebidos pelo Itamaraty, que lhes entregou um pedido formal de desculpas pelo lado brasileiro.
“E o anúncio de que o Ministério de Relações Exteriores acionará o governo do estado do Rio de Janeiro, solicitando apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem”, escreveu em nota Moudouté.
A Secretaria de Estado da Polícia Militar do Rio de Janeiro afirmou que as imagens das câmeras corporais dos policiais serão analisadas para verificar se houve abuso por parte dos agentes. A pasta destacou que a formação da corporação inclui cursos intensivos em Direitos Humanos, Ética, Direito Constitucional e outras áreas específicas, e que a Ouvidoria da Secretaria está disponível para receber denúncias de quem eventualmente se sinta prejudicado.