Por Dorothy Li
A videochamada da tenista chinesa, Peng Shuai, com o Comitê Olímpico Internacional (COI), não aborda ou alivia as preocupações com seu bem-estar pela WTA (Associação do tênis feminino), afirmou a WTA em 22 de novembro.
Preocupações globais com a ex-jogadora de tênis número um do mundo aumentaram após uma rara alegação pública de assédio sexual apresentada por ela contra um oficial aposentado do Partido Comunista Chinês (PCC), em 2 de novembro. A postagem de 1.500 caracteres não estava visível em sua conta do Weibo, plataforma equivalente ao Twitter, após cerca de meia hora, e a jogadora de 35 anos também desapareceu dos olhos do público por quase três semanas.
Jornalistas da mídia estatal chinesa Global Times, postaram fotos e vídeos em 21 de novembro, mostrando o rosto sorridente de Peng em um torneio de tênis infantil em Pequim. Um dia antes, Hu Xijin, o editor-chefe do tablóide, postou videoclipes no Twitter, afirmando que Peng estava jantando com seu treinador e amigos.
Mas esses esforços ainda não conseguiram suprimir as preocupações.
“Foi bom ver Peng Shuai em vídeos recentes, mas eles não aliviam ou abordam a preocupação da WTA sobre seu bem-estar e sua capacidade de se comunicar sem censura ou coerção”, afirmou uma porta-voz da WTA, por e-mail.
Questionada sobre a videochamada com o COI, a porta-voz declarou: “Este vídeo não muda nosso apelo por uma investigação completa, justa e transparente, sem censura, de sua alegação de assédio sexual, o qual é o problema que deu origem á nossa preocupação primária”.
O COI afirmou em um comunicado no domingo que Peng participou de uma ligação de 30 minutos com seu presidente, Thomas Bach, durante a qual Peng relatou que estava segura e bem em casa, em Pequim, e queria que sua privacidade fosse respeitada por enquanto.
A declaração não mencionou as alegações de assédio sexual de Peng. Em vez disso, contém uma foto da videochamada em andamento, que parecia mostrar o rosto sorridente de Peng.
Em seus comentários agora excluídos, Peng acusou o ex-vice-premiê, Zhang Gaoli, de forçá-la a ter relações sexuais há vários anos atrás, e que mais tarde eles tiveram um relacionamento consensual intermitente.
“Eu não poderia descrever o quão enojada eu estava … eu me sinto como um cadáver ambulante”, ela escreveu no post.
O contato do COI com Peng ocorreu durante os preparativos para sediar as Olimpíadas de Inverno em Pequim, em fevereiro. O órgão olímpico tem se destacado por impulsionar os Jogos em meio às preocupações de grupos dos direitos humanos e outros sobre as violações aos direitos humanos do regime comunista, inclusive contra os uigures e outras minorias étnicas em Xinjiang.
“O COI está entrando em águas perigosas”, afirmou o pesquisador da Anistia Internacional na China, Alkan Akad, na segunda-feira, segundo a Reuters. “Eles devem ser extremamente cuidadosos para não participar de qualquer contexto de possíveis violações aos direitos humanos”.
“No passado, vimos vários casos semelhantes em que as pessoas não tinham outra opção a não ser dizer o que lhes foi obrigado a dizer”, afirmou.
Em contraste com a posição do COI, a turnê profissional feminina decidiu enfrentar o regime, ameaçando retirar da China torneios no valor de dezenas de milhões de dólares por causa do assunto.
“Tenho sido claro sobre o que precisa acontecer e nosso relacionamento com a China está em uma encruzilhada”, declarou Steve Simon, CEO da WTA, em um comunicado no domingo.
Comunidades globais de tênis, incluindo Wimbledon (AELTC) e a Lawn Tennis Association (LTA), juntaram-se à campanha da WTA para pedir clareza sobre a segurança de Peng.
Mais recentemente, Nicolas Mahut, se juntou a um grupo de jogadores como Roger Federer, Rafael Nadal e Naomi Osaka, que expressou preocupação sob a hashtag #WhereIsPengShuai em plataformas de mídia social. O jogador de duplas francês escreveu “onde está Peng Shuai” nas lentes de uma câmera de TV após ele e seu parceiro vencerem as finais do ATP World Tour, em Torino, no domingo.
As Nações Unidas expressaram preocupação, em 19 de novembro, pedindo uma investigação completa das alegações de assédio sexual de Peng. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha também queriam uma prova real do paradeiro de Peng. O ministro das Relações Exteriores da França pediu no domingo que as autoridades chinesas deixem Peng falar publicamente.
O regime chinês não reconheceu ou comentou a alegação, mas as discussões sobre o assunto foram bloqueadas na internet fortemente censurada da China.
O partido comunista no poder tem um histórico de silenciar dissidentes em favor da chamada estabilidade social. Ativistas dos direitos humanos, advogados ou pessoas que revelam as vidas privadas dos principais líderes do PCC podem ser forçados a desaparecer.
A Reuters contribuiu para esta reportagem.
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