Colocando o cliente em primeiro lugar: entrevista com “O Lobo de Wall Street”

09/11/2017 22:44 Atualizado: 27/01/2018 18:28

A história de Jordan Belfort tem sido uma montanha-russa. Seu livro de memórias “O Lobo de Wall Street” e o filme de mesmo nome contam como sua busca por enriquecimento e prazer saiu dos trilhos e desembarcou-o na prisão. Agora, treinador de vendas e palestrante motivacional, ele está adicionando outro capítulo à história clássica do sonho americano (ou pesadelo).

Ele sempre teve um talento para vendas e admite que abusou disso quando dirigia sua própria empresa de investimentos, Stratton Oakmont, nas décadas de 1980 e 1990. Ele vendia títulos baratos aos investidores, causando milhões em perdas para seus clientes.

Eventualmente, ele foi pego, condenado à prisão por investimentos fraudulentos e lavagem de dinheiro, escreveu suas memórias e recomeçou como treinador de vendas e motivacional. Ele diz que a venda pode ser mutuamente benéfica se a intenção for correta, e ele quer beneficiar seus clientes atuais ensinando seu sistema de vendas. Estes, por sua vez, são aconselhados a beneficiar os próprios clientes vendendo produtos úteis.

De acordo com depoimentos públicos, seu esforço parece estar funcionando. Se a sociedade é boa juíza, Belfort recuperou completamente a sua notoriedade da década de 1990: ele foi inclusive incluído na programação do destacado Synergy Global Forum que ocorreu em outubro em Nova York, ao lado de pessoas como Richard Branson e Steve Forbes.

O Epoch Times falou com Belfort sobre sua reviravolta.

The Epoch Times: Você é um vendedor e instrutor de primeira classe. Depois do que aconteceu em sua vida, como você vê a profissão?

Jordan Belfort: As vendas podem ser benignas ou malévolas; depende de quem as está usando e de como estão sendo usadas. Pode ser uma coisa maravilhosa que leva as pessoas o que elas precisam, resolve seus problemas e as ajuda a ter uma vida mais gratificante. Ou pode ser usada para prejudicar as pessoas, vendendo coisas que elas não precisam ou que não funcionam, ou tomando seu dinheiro.

Jordan Belfort foi "O Lobo de Wall Street" nos anos de 1980 e 1990, antes de começar a ensinar técnicas de vendas éticas no final dos anos de 2000. (Jordan Belfort)
Jordan Belfort foi “O Lobo de Wall Street” nos anos de 1980 e 1990, antes de começar a ensinar técnicas de vendas éticas no final dos anos de 2000. (Jordan Belfort)

No começo, eu estava um pouco relutante em ensinar vendas, porque o sistema que criei é muito poderoso e pode ser mal utilizado. Mas é [sobre] a intenção de e como usá-lo para ajudar as pessoas. O sistema é legítimo. A distinção fundamental é que você só deve usar meu Sistema de Linha Direta (Straight Line System) ou qualquer sistema de persuasão para ajudar as pessoas a obterem o que precisam, coisas que as ajudarão.

Você não visa apresentar as pessoas o que elas não precisam e não vende coisas simplesmente para ganhar dinheiro. Você coloca o cliente em primeiro lugar. Se você fizer apenas isso, 99% de suas vendas serão éticas.

TET: Mas você abusou do sistema quando foi “O Lobo de Wall Street”.

Sr. Belfort: Sim, eu fiz isso. Eu sou o primeiro a admitir isso. No começo não foi tão mau, eu queria ganhar dinheiro e ajudar as pessoas. Mas então as coisas começaram a se desviar. Isso acontece com pessoas pelo mundo todo, não apenas em Wall Street. Wall Street é muito propenso a isso porque há muito dinheiro envolvido. Mas sim, eu perdi meu referencial ético naquela época.

Uma coisa que o filme não retrata bem é o conflito interno com o qual eu vivia. Todos os dias, eu me sentia mal e questionava o que estava fazendo, mas fui apanhado na ganância e no poder.

Eu acho que meu desvio para o lado negro da natureza humana foi uma aberração de quem eu sempre fui e de como vivo agora. Então, foi muito fácil para mim dar uma boa olhada para dentro e tornar-me a pessoa que meus pais originalmente educaram para o mundo.

Tudo mudou quando eu fiquei sóbrio em 1998, eu estivei viciado em drogas por cinco anos antes de ir para a prisão. Quando fiquei sóbrio, eu pensei: “O que eu fiz?” Eu não diria que as drogas provocaram meu desvio. Mas elas permitiram que ele prosseguisse sem a culpa ou remorso, elas abafam isso. Eu perdi muitos anos, mas depois voltei a um caminho reto e estreito.

A prisão me deu tempo para pensar sobre as coisas e foi nesse período que aprendi a escrever. Escrever meu livro foi uma coisa fundamental para mim. Eu tive a oportunidade de olhar para mim mesmo, meus pontos fortes, minhas fraquezas, minhas falhas, minhas deficiências, meus sucessos. Esta foi uma forma muito poderosa de autoterapia, examinar-me e ver o que me levou a certos comportamentos e como evitá-los no futuro.

No começo, quando eu saí da prisão e fui ensinar, tudo girava em torno de mim: “Eu serei ético. Eu seguirei os mais altos padrões éticos. Nunca mais avançarei a linha novamente.” Mas agora eu estou ensinando outras pessoas a ganharem dinheiro e fazerem vendas, então eu pensei que deveria aproveitar para que essa mensagem fosse incutida em outras pessoas também.

Quando eu desenvolvi o sistema e o elevei a um nível mais alto anos depois, eu removi algumas coisas que o tornaria propenso a abusos. Mas no final do dia, trata-se da intenção das pessoas que o estão usando.

Agora, quando eu vou ensinar as pessoas, é essencialmente sobre ética e integridade – e ganhar dinheiro. Eu sei por experiência que essas coisas não são autoexcludentes. Você pode manter sua ética e ainda ganhar muito dinheiro.

TET: Como o seu sistema beneficia seus clientes?

Sr. Belfort: O sistema Straight Line é, de longe, o sistema mais poderoso de influência, persuasão e venda. É tanto um sistema de vendas quanto um sistema de comunicação. Ele mostra como se comunicar com outras pessoas de forma a mantê-las interessadas, o que lhe permite transmitir sua mensagem.

Ao ensinar isso às pessoas, não importa o tipo de trabalho que eles façam, sejam por razões comerciais ou pessoais. Isso tem um enorme impacto em suas vidas.

Veja meu Facebook e leia os comentários. Eu recebo 50 e-mails por dia de pessoas que dizem como suas vidas mudaram.

TET: Você está ansioso para se reconectar com seu amigo Richard Branson no Synergy Global Forum esta semana em Nova York? (essa entrevista ocorreu antes do evento de outubro em Nova York)

Sr. Belfort: Richard, eu tenho sentimentos muito positivos por ele. Ele foi uma das pessoas instrumentais em me ajudar a lançar minha nova carreira. Eu dei uma palestra na Virgin na Austrália, sua empresa lá. E fomos até a casa dele depois e eu o conheci. [Isso foi] apenas quando eu estava recomeçando, antes do filme – meu tinha livro acabado de sair. Então, ele me convidou para sua casa, pegou minha apresentação, dividiu-a em 12 partes e publicou-as online no site da Virgin. Isso atraiu meus primeiros 50 alunos.