Renomado advogado de direitos humanos, Gao Zhisheng, desapareceu na China

31/08/2017 23:56 Atualizado: 01/09/2017 00:54

O renomado advogado chinês Gao Zhisheng, que esteve sob prisão domiciliar nos últimos três anos, desapareceu de sua casa no dia 13 de agosto. A partir de 15 de agosto, não houve mais atualização sobre o seu paradeiro. A esposa de Gao, Geng He, que vive nos Estados Unidos, confirmou o desaparecimento de Gao à New Tang Dynasty Television (NTD).

Geng disse que tentou ligar para seu marido no dia 13 de agosto, mas que não conseguiu contatá-lo. Ela finalmente entrou em contato com seu irmão mais velho, Gao Zhiyi, que informou que Gao havia desaparecido naquela manhã.

“O irmão de Gao foi à casa dele por volta das 8 da manhã para convidá-lo para o café da manhã. Ele chamou Gao algumas vezes, mas Gao não saiu da sala. O irmão de Gao entrou no quarto e viu que ninguém estava lá. Ele informou o fato à polícia às 9 da manhã. A polícia local foi à montanha [próxima] e procurou Gao por todo lado”, disse Geng a um repórter da NTD.

Geng disse que não teve mais notícias de Gao até o momento. Ela informou que tentou falar com o irmão de Gao novamente, mas que não conseguiu contatá-lo.

“Fiquei muito angustiada desde que recebi esta notícia. Eu vivo nos Estados Unidos há mais de oito anos. Embora eu viva em um país livre, não me sinto em paz ou em liberdade. Desde a transferência de Gao para prisão domiciliar, há três anos, o Partido Comunista Chinês recusou-se a deixá-lo consultar um dentista para corrigir seus dentes. Agora, quase todos os seus dentes caíram. Sempre que vejo comida, lembro do estado em que seus dentes se encontram e me sinto muito angustiada”, disse ela.

Os dentes de Gao ficaram soltos e dolorosos após muitos anos de tortura.

Gao Zhisheng. Esquerda: 2 de novembro de 2005 em seu escritório em Pequim (Verna Yu/AFP/Getty Images); Direita: foto de 2017 (circulada por ativistas na China)
Gao Zhisheng. Esquerda: 2 de novembro de 2005 em seu escritório em Pequim (Verna Yu/AFP/Getty Images); Direita: foto de 2017 (circulada por ativistas na China)

Geng disse lembrava vagamente da última conversa que teve com Gao, em 11 de agosto.

Ela também informou que o Partido Comunista Chinês nunca parou de perseguir sua família na China. As autoridades chinesas confiscaram as identificações da família da sua irmã. Eles foram proibidos de deixar sua cidade natal. Ela tem medo de contatar sua família porque isso pode resultar em perseguição.

O desaparecimento de Gao ocorreu uma semana após ele ter concedido uma rara entrevista à NTD.

O advogado chinês de direitos humanos Gao Zhisheng (Arquivo/Epoch Times)
O advogado chinês de direitos humanos Gao Zhisheng (Arquivo/Epoch Times)

No dia 7 de agosto, ele disse por telefone à NTD que todos na China perderam sua liberdade e vivem como se estivessem na prisão.

“Na China, 1,3 bilhão de pessoas estão sob prisão domiciliar, e não apenas eu. De acordo com a natureza humana, os direitos humanos, a humanidade e a vontade dos Céus, esta é uma prisão. Meu maior desejo é mudar esse sistema maligno para que os chineses possam viver uma vida normal e a China volte a ser uma civilização normal”, disse ele.

Seu desaparecimento ocorreu justamente na proximidade do 19º Congresso do Partido, que ocorrerá neste outono e que é sempre um momento extrassensível para o partido.

Da proeminência à tortura

Gao já foi considerado pelo Ministério da Justiça chinês como um dos dez melhores advogados chineses. Gao, um cristão, afligiu o regime comunista quando começou a prestar assistência jurídica aos praticantes do Falun Gong, uma das maiores comunidades espirituais perseguidas na China.

As forças de segurança chinesas primeiro intensificaram a vigilância sobre Gao depois que ele escreveu cartas abertas para a liderança chinesa condenando a perseguição. Ele foi formalmente preso em 2006.

Gao passou os oito anos posteriores dentro e fora da prisão inúmeras vezes, onde foi torturado da mesma forma que os praticantes do Falun Gong, incluindo privação de sono, uso de violência brutal e choques com bastões elétricos.

Em 2014, Gao foi libertado, mas foi transferido para uma prisão domiciliar em sua província natal de Shaanxi.

Devido ao constante assédio, a esposa de Gao, Geng He, e seus dois filhos, fugiram da China em 2009 e foram para os Estados Unidos.

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