O perigo dos empréstimos online

05/04/2017 08:00 Atualizado: 03/04/2017 21:29

Jamar White não tinha ideia de onde ele estava se metendo quando pegou um empréstimo de quase 50 mil dólares com um credor online em 2013 para o seu restaurante Buffalo Boss, sediado em Nova York. “Como muitas pequenas empresas, tomamos uma má decisão ao obtermos empréstimos com juros altos”, disse ele.

O empréstimo foi aprovado em 48 horas e, num primeiro momento, parecia um bom negócio. “Você diz: ‘Oh, o credor está tomando apenas 100 dólares todos os dias.’ Mas, a medida que isso se acumula durante semanas e meses, você não percebe o quanto está sendo drenado do seu negócio lentamente”, disse ele.

Mais tarde, ele percebeu que a taxa de juros anual de seu empréstimo de fato estava entre 40 e 50%. “É como uma morte lenta”, refletiu White.

White é apenas um dos proprietários de pequenas empresas em todo os Estados Unidos que, não tendo conseguido obter um empréstimo tradicional de um banco, recorreu a credores alternativos online para manter seu negócio aberto. O que eles encontram são empréstimos sem termos claramente estipulados e uma escassez de regulamentação e supervisão. Os proprietários de negócios que não são cuidadosos podem encontrar-se em posições altamente desconfortáveis.

A indústria de empréstimos online começou a decolar após a crise econômica de 2008, quando os bancos reduziram dramaticamente seus empréstimos para pequenas empresas. A nova safra de credores oferece acesso fácil ao capital, foca-se em pequenas empresas e fornece empréstimos a taxas de juros extremamente altas.

“Obviamente, as pequenas empresas estão desesperadas”, disse White. “Então, eles nos atacaram injustamente num momento de necessidade. Conheço algumas empresas que saíram do negócio após pegarem esses empréstimos.”

Atraente mas predatório

Os credores alternativos oferecem uma miscelânea de opções: empréstimos de negócio, adiantamentos em dinheiro para comerciantes, empréstimos de pessoa para pessoa, e linhas de crédito.

Eles aprovam empréstimos em poucos dias, ou até mesmo horas, porque seus critérios de subscrição são bastante frouxos, de acordo com Bryan Doxford, vice-presidente sênior da Corporação de Desenvolvimento de Negócios de Nova York (NYBDC) e do Excelsior Growth Fund, ambos oferecem empréstimos a pequenas empresas com baixas taxas de juros.

White, por exemplo, conseguiu pagar sua dívida com um novo empréstimo da Excelsior.

De acordo com Doxford, muitos dos credores predatórios aprovam empréstimos com base no saldo médio do balanço bancário diário da empresa que estão emprestando.

O processo de aprovação de empréstimos em bancos tradicionais leva muito mais tempo, às vezes meses, e exige que os candidatos evidenciem um histórico financeiro sólido.

Embora credores online possam ser atrativos porque negociam com taxas mais elevadas mas com rapidez, eles não fornecem necessariamente os melhores tipos de crédito às empresas.

Alguns credores usam linguagem enganosa e termos ocultos. E porque eles são muito menos regulamentados do que os bancos, muitas vezes eles podem evitar regras que exigem clareza. Por exemplo, um adiantamento de dinheiro para comerciantes tem seu preço frequentemente fixado usando um “fator taxa” ou “múltiplo”, em vez da mais objetiva taxa percentual anual (TPA).

“Você não distingue claramente o que são os encargos e as taxas. … E se você não tem um QI financeiro alto, você pode ser embromado. E eles são muito bons nisso”, disse White.

No caso de White, o credor simplesmente retirava dinheiro da conta bancária de sua empresa todos os dias úteis.

Grandes taxas iniciais são outro problema. “É uma história comum em nosso escritório ouvir sobre pequenos empresários que obtiveram um empréstimo de 100 mil mas pagaram uma taxa de serviço inicial de 30 mil”, disse Doxford.

Outro problema são as taxas de juros anuais de mais de 40%. “Qualquer coisa com uma taxa de juros tão alta é predatória. É como a versão moderna de um agiota.”

O Opportunity Fund, baseado na Califórnia, o maior microcredor sem fins lucrativos do país, formou um conjunto de dados sobre as condições fornecidas por esses credores alternativos. Eles obtiveram os dados por meio de seus próprios clientes que refinanciaram.

Eles descobriram que a TPA média foi de 94%. Um empréstimo foi de 358%, que o Opportunity Fund considerou “chocante”.

Para credores sem fins lucrativos como o Excelsior Growth Fund e o Opportunity Fund, competir com credores alternativos é um desafio devido a seus pequenos orçamentos de marketing.

“Na maioria das vezes, [donos de empresas] não sabem que existimos”, disse Caitlin McShane, diretora de comunicações do Opportunity Fund. “Tentamos remediar isso todos os dias.”

Centenas de credores alternativos, em sua maioria online, surgiram nos últimos anos, incluindo OnDeck, Kabbage e BFS Capital. Inclusive a Amazon e o PayPal agora oferecem empréstimos para proprietários de pequenas empresas.

Algumas plataformas online, como Lending Club, Fundera e Funding Circle, não subscrevem empréstimos, mas servem como um mercado online.

Para atrair mais clientes, os credores online às vezes formam parcerias com bancos tradicionais. Eles também fazem marketing agressivamente, investindo em televisão, rádio, internet e publicidade direta.

Há alguns negócios que promovem empréstimos responsáveis, como aqueles que assinam a Declaração de Direitos dos Mutuários de Pequenas Empresas, uma iniciativa lançada pelo setor há dois anos para proteger os direitos dos mutuários que não estão protegidos por lei.

As empresas de empréstimo online, incluindo a BFS Capital e OnDeck, não responderam aos pedidos de comentários do Epoch Times.

Vazio regulamentário

Muitos credores alternativos tiram proveito de seu status não bancário, o que lhes permite contornar as leis federais contra usura que limitam as taxas de juros. Eles contornam os regulamentos destinados a proteger os proprietários de pequenas empresas, alegando que seu produto de crédito é um adiantamento em dinheiro, ao invés de um empréstimo.

Especialistas estão preocupados que esses empréstimos possam levar a uma crise de crédito, semelhante à crise de crédito de 2008.

“Estou preocupado porque existem muitos credores predatórios. Muitos empresários assumiram empréstimos de altas taxas de juros e colocaram seus negócios em risco”, disse Doxford.

Ele aconselha que os políticos ajam rapidamente, antes que a indústria se torne ainda mais difícil de controlar.

O setor das pequenas empresas é um pilar fundamental da economia e um importante motor do emprego. Metade de todos os estadunidenses possui ou trabalha em uma pequena empresa, segundo a Administração de Pequenas Empresas dos EUA.

“Quando credores predatórios atacam as pequenas e médias empresas, isso tem um efeito considerável em nossa economia maior”, disse McShane.