Quando se trata de energia eólica e solar, não há uma linha de fundo reta, ela é um tanto ondulada. Calcular os custos e benefícios econômicos das energias renováveis apresenta desafios não encontrados no setor de energia convencional.
Uma questão, por exemplo, é que a energia eólica e solar têm picos e depressões de produtividade, dependendo se o sol está brilhando ou se o vento está soprando. Construir infraestrutura de transmissão para lidar com isso está entre os custos incorridos pelas energias renováveis.
As estimativas desse custo variam de 5 centavos de dólar a 10 dólares por megawatt-hora (MWh), segundo Andrew Mills, um pesquisador do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, que liderou um estudo de 2016 sobre os vários processos de planejamento em todo o país para integrar a energia solar nas redes.
Isso ilustra o quão difícil é determinar o custo de até mesmo um único aspecto físico da criação de energias renováveis. Quando se trata de tentar calcular o valor monetário de aspectos mais qualitativos, como fatores sociais e ambientais, é ainda mais complicado.
Os economistas podem fazer a energia renovável parecer uma benção econômica ou um desastre, dependendo de quais fatores eles decidam incluir.
No entanto, a política pública depende dessas análises.
Mesmo uma ordem executiva presidencial só pode prosseguir nos Estados Unidos, por exemplo, se o Departamento de Gestão e Orçamento revisar as análises de custo-benefício e determinar que os benefícios justificam os custos.
Ambiguidade e política
Com a administração do presidente eleito Donald Trump (e particularmente a escolha de Trump para a chefia da Agência de Proteção Ambiental (EPA), Scott Pruitt) demandando reversões nas políticas ambientais relacionadas à energia, essas análises de custo-benefício podem desempenhar um papel importante nos próximos anos.
“Eu sei que haverá uma tentativa de Pruitt para dizer, ‘Bem, a única razão que todas estas políticas de mudança climática são justificáveis é que estão usando suposições econômicas questionáveis’”, disse Michael Kraft, professor emérito de ciência política e assuntos públicos e ambientais na Universidade de Wisconsin-Green Bay.
O custo social do carbono poderia ser o primeiro a sofrer um corte.
Jody Freeman, especialista em direito ambiental de Harvard, explicou num post no website da universidade: “Um único tribunal federal de apelações sustentou que todas as agências federais devem incluir um custo social de cálculo de carbono em suas avaliações de custo-benefício; uma administração Trump na Casa Branca poderia ignorar essa decisão como inaplicável a nível nacional.”
A Comissão de Serviço Público (CSP) de Nova York inclui um custo social em suas análises de custo-benefício para as energias renováveis.
A comissão emitiu uma ordem no início do ano passado que estabeleceu as regras para todas as futuras análises de custo-benefício para as energias renováveis. A ordem de 100 páginas descreve o debate entre os comentadores sobre os fatores, mostrando como cada um está aberto a várias interpretações.
Um dos comentaristas, referido na ordem como “Utilidades Conjuntas” (que inclui a Consolidated Edison Company de Nova York e outras empresas de utilidades públicas), sugeriu que as análises não deveriam incluir benefícios ambientais e outros não energéticos.
Somente após um projeto ter passado por uma análise de custo-benefício puramente financeira, disse a Utilidades Conjuntas, deveriam estes outros aspectos ser considerados. E que as análises deveriam garantir “condições de igualdade” para as energias renováveis e os combustíveis fósseis.
A Comissão rejeitou esta sugestão, dizendo que decidiu intencionalmente favorecer as energias renováveis em suas análises de custo-benefício.
Isso depende fortemente dos custos sociais de carbono (CSC) estabelecidos pela EPA. A EPA determina um valor-dólar para os danos que estima serem causados por mudanças climáticas, incluindo danos à saúde humana e agricultura. A estrutura da Comissão também leva em consideração o preço dos créditos de carbono regionais criados por um programa chamado “Iniciativa Regional de Gases de Efeito Estufa” (IRGEE), que é uma colaboração entre Nova York e outros oito estados.
Os estados que fazem parte da IRGEE estabeleceram um limite conjunto para as emissões de carbono provenientes da produção de eletricidade. Eles exigem que cada grande usina elétrica tenha um crédito por tonelada de dióxido de carbono que produzem. As usinas que usam menos do que sua cota podem vender seus créditos e as que usam mais do que sua cota podem comprá-los.
Outros fatores financeiros
Mesmo deixando de lado os custos sociais, alguns outros fatores mais particularmente financeiros estão muitas vezes abertos a debate.
Jim Lazar, consultor sênior do instituto de reflexão energética Projeto de Assistência Regulatória, analisou vários estudos nos Estados Unidos sobre o valor da energia solar. Ele disse que muitas companhias de utilidades públicas olham apenas alguns fatores, como a distribuição e custos operacionais.
Mas uma análise mais abrangente deve incluir outros fatores, como o risco de fornecimento do combustível, disse Lazar.
Ele explicou: “Agora os preços dos combustíveis estão bastante baixos. Eles não podem ir muito mais baixo, mas podem ir muito mais alto. … Há mais risco deles subirem do que baixarem.” Mas a energia solar não inclui esse tipo de risco. Seu preço está caindo e seu preço também não é tão volátil como os preços dos combustíveis fósseis.
As companhias de utilidades públicas não consideram isso, disse Lazar, porque eles repassam qualquer variação no preço dos combustíveis para o cliente. Mas incluir o risco do combustível numa análise de custo-benefício é importante para o contribuinte. Assim, disse Lazar, uma boa política pública deve certificar-se de que suas análises de custo-benefício das energias renováveis incluam isso.
Outro fator frequentemente discordado é como os subsídios são tratados nas análises.
A CSP de Nova York decidiu tratar o Crédito Tributário de Produção (CTP) federal para energia renovável como apenas um benefício, mas não como um custo. Em outras palavras, ela não considera esse uso do dinheiro do contribuinte como uma despesa.
“Um projeto de energia eólica geralmente pode ganhar dinheiro com preços de mercado de energia tão baixos quanto 35 dólares negativos por MWh”, escreveu o economista Michael Giberson, professor-associado da Universidade Texas Tech, em seu estudo de 2013, “Acessando as estimativas do custo da energia eólica“.
“Isso significa que as instalações eólicas podem pagar a rede elétrica para usar sua energia gerada, desde que sejam capazes de recolher o CTP”, continuou ele.
O economista Tyler McNeal, que estudou as análises de custo-benefício da energia eólica, disse: “Temos que lembrar que os modelos econômicos são semelhantes aos mapas: útil para ver onde desejamos ir. Mas claramente há uma diferença entre um mapa de Yellowstone e caminhar no próprio terreno.”
Com as energias renováveis em particular, estamos entrando em território inexplorado.
Larry Sherwood, presidente e CEO do Conselho Interestadual de Energia Renovável, disse: “Torna-se mais difícil projetar para o futuro, porque você não pode apenas usar um modelo do que aconteceu no passado e descobrir o que ocorrerá no futuro. É razoável ou esperado que pessoas diferentes tenham modelos amplamente variados do que acorrerá daqui a 10 ou 20 anos.”
McNeal sugeriu que os formuladores de políticas considerassem um amplo espectro de análises de custo-benefício, pesando cuidadosamente quais fatores estão incluídos ou excluídos em cada um deles.
Estudos de caso: subestimando o valor econômico da energia solar
Um benefício econômico da energia solar, que quase nunca é incluído nas análises de custo-benefício, é a energia que ajuda a economizar no uso de ares-condicionados, disse Lazar.
Quando o telhado é sombreado por painéis solares, isso diminui drasticamente a temperatura dentro de um edifício. Lazar descobriu a extensão deste benefício a partir de um hotel no Havaí. O hotel calculou suas necessidades de energia usuais e instalou painéis solares suficientes para atender a essas necessidades.
Mas surpreendentemente acabou com 20% a mais do que era necessário. Isto foi devido a temperaturas mais amenas no hotel, levando a menos uso de aparelhos de ar-condicionado.
“Por cada kWh [de energia solar] produzido, há três décimos de um kWh de ar-condicionado economizado”, disse Lazar.
Subsídios fazem toda a diferença no valor da energia eólica
McNeal, que esmiuçou as análises de custo-benefício da energia eólica em Minnesota como um colega no instituto de reflexão Centro do Experimento Americano, descobriu que a Agência Municipal de Energia do Sul de Minnesota perdeu mais de 14,5 milhões de dólares em um ano devido à energia eólica.
O vento é mais forte em Minnesota durante a primavera e o outono, e à noite quando a demanda de energia é mais baixa. A potência gerada, portanto, não tinha muito valor para o serviço de energia. Mas o governo regional continuou pagando pela energia por um preço relativamente alto devido à obrigação de um contrato de compra de energia (CCE). Os CCEs são frequentemente assinados para a produção de energia eólica e duram mais de uma década, porque incentiva as pessoas a construírem parques eólicos se há garantias de que se planeja ganhar dinheiro com eles.
O crédito fiscal federal para as energias renováveis tornou isso possível. McNeal explicou que a empresa de utilidades públicas sabia que ia perder dinheiro, mas que os subsídios compensariam a perda.