Lockdowns na China podem piorar a crise nas redes de fornecimento e aumentar a inflação

Fabricantes já estão soando o alarme de que uma ampla gama de produtos pode sofrer atrasos no envio

18/03/2022 16:23 Atualizado: 18/03/2022 16:27

Por Andrew Moran 

Lockdowns estão se espalhando por toda a China à medida que as autoridades tentam conter novos surtos, apesar da estratégia zero COVID do país. Novas infecções por coronavírus estão aumentando no continente, superando 10.000 casos desde 1º de março.

As autoridades impuseram novas medidas duras a 51 milhões de pessoas em várias cidades importantes com centros robustos de manufatura e tecnologia, incluindo Shenzhen, Langfang e Changchun.

A situação que se desenrola na China está provocando preocupações econômicas em todo o mundo.

Especialistas alertam que novos bloqueios na segunda maior economia do mundo podem exacerbar a crise global nas redes de fornecimento, aumentando as pressões inflacionárias em todo o mercado internacional.

Os fabricantes já estão soando o alarme de que uma ampla gama de produtos, de chips de computador a vidro para o iPhone, pode sofrer atrasos no envio.

A Foxconn, empresa de eletrônicos de Taiwan que monta os iPhones da Apple, encerrou a produção em uma fábrica em Shenzhen. A Hon Hai Precision Industry Co., uma importante fornecedora da fabricante do iPhone, anunciou que suspenderia as atividades em sua fábrica em Shenzhen. A Lens Technology, fornecedora crucial de lentes e materiais de vidro para a Apple, confirmou que a produção e a entrega de seus produtos seriam afetadas em sua fábrica de Dongguan.

A Toyota Motor Corp e a Volkswagen interromperam as operações em Changchun. A Volkswagen confirmou que fecharia temporariamente três fábricas.

Os clientes fazem fila para obter seus telefones celulares iPhone 12 reservados em uma loja da Apple em Xangai em 23 de outubro de 2020 (STR / AFP via Getty Images)
Os clientes fazem fila para obter seus telefones celulares iPhone 12 reservados em uma loja da Apple em Xangai em 23 de outubro de 2020 (STR / AFP via Getty Images)

A Unimicron Technology Corp., produtora de placas de circuito impresso e grande fornecedora da Intel, está interrompendo a produção. A BYD Co. revelou que está tendo um impacto significativo em seus esforços de fabricação de automóveis e baterias.

A Netac Technology também confirmou que os atrasos nas remessas são muito possíveis porque sua fábrica em Shenzhen teve que interromper a produção. A empresa produz unidades flash USB e discos rígidos portáteis.

Em uma teleconferência de resultados na segunda-feira, a Yum, operadora das marcas KFC e Pizza Hut na China, confirmou que suas operações foram afetadas devido ao aumento de infecções. Nas duas primeiras semanas de março, as vendas nas mesmas lojas caíram 20% em relação ao ano anterior, confirmou a empresa.

A Huawei e a Tencent também mantêm escritórios em Shenzhen, e espera-se que essas empresas mantenham seus escritórios fechados até pelo menos 20 de março.

Ainda não se sabe quanto tempo durará o lockdown em Shenzhen.

Por enquanto, os principais portos de Xangai e Shenzhen estão funcionando normalmente, embora tenham ocorrido contratempos no transporte devido a bloqueios nas estradas e testes. No entanto, dados recentes da Refinitiv destacam o crescente congestionamento de contêineres em importantes centros de transporte. O número de navios esperando para atracar em vários portos, incluindo o Delta do Rio das Pérolas e o estuário do Yangtze, dobrou em relação ao mesmo período do ano passado.

O que acontecerá a seguir dependerá de como a China poderá conter a disseminação da variante Ômicron.

Analistas de mercado alertam que restrições de saúde pública podem pesar no crescimento econômico do país.

O Morgan Stanley reduziu suas previsões de PIB para a China para zero no primeiro trimestre e previu que Pequim não alcançaria sua meta de 2022.

Economistas liderados por Robin Xing antecipam que o PIB do ano inteiro chegará a 5,1%, abaixo da estimativa anterior de 5,3%.

“Os bloqueios duplos enviaram uma mensagem clara de que Pequim está priorizando a contenção da COVID sobre a economia, e uma recalibração de sua estratégia contra a COVID provavelmente será adiada”, disse o banco de Wall Street em uma nota. “Podem-se esperar maiores gastos com infraestrutura e uma flexibilização das políticas habitacionais, mas o problema maior continua sendo encontrar uma estratégia de saída da COVID”.

A liderança chinesa anunciou recentemente uma meta de 5,5%.

Por causa de dados econômicos robustos no período de janeiro a fevereiro, o Banco Popular da China (PBoC) possivelmente se absteve de afrouxar a política, com alguns chamando de pausa em vez de flexibilização. Economistas previam que o banco central cortaria a taxa de empréstimo de um ano em dez pontos.

A expectativa agora é que a instituição injete bilhões em liquidez no sistema financeiro para amortecer os impactos econômicos de novos lockdowns.

A produção industrial da China cresceu a uma taxa anualizada de 7,5 por cento em janeiro-fevereiro, superando a estimativa de mercado de 3,9 por cento, segundo dados do National Bureau of Statistics (NBS).

As vendas no varejo também avançaram 6,7 por cento ano a ano em janeiro-fevereiro, acima da previsão média de 3 por cento, mostram dados do NBS.

Como isso afetará a economia da América?

Nas próximas semanas e meses, a economia dos EUA pode sofrer as consequências da desaceleração da China, mas a gravidade pode depender de quanto tempo as restrições durarem, observou Ipek Ozkardeskaya, analista sênior do Swissquote Bank.

“Por enquanto, diz-se que o bloqueio durará sete dias, isso deveria estar bem. Mas um período prolongado de atividade mais lenta piorará a crise global nas redes de fornecimento, aumentará ainda mais os custos de transporte e refletirá nos preços ao consumidor final”, disse Ozkardeskaya ao Epoch Times.

O presidente da Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, depõe em uma audiência do Comitê de Bancos, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado no Capitólio, em Washington, no dia 3 de março de 2022 (Tom Williams-Pool/Getty Images)
O presidente da Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, depõe em uma audiência do Comitê de Bancos, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado no Capitólio, em Washington, no dia 3 de março de 2022 (Tom Williams-Pool/Getty Images)

Ao mesmo tempo, ela afirmou, que uma atividade mais lenta na economia chinesa poderia aliviar os preços da energia, acrescentando que “a correção negativa nos preços da energia pode atenuar o efeito impulsionador das medidas de lockdown”.

“Neste ponto, é quase uma certeza matemática que o Índice de Preços ao Consumidor dos EUA vai avançar além dos 8 por cento no próximo mês”, afirmou a analista de mercado.

No geral, especialistas financeiros afirmam que o número crescente de ameaças que se espalham pelo cenário internacional pode continuar a contribuir para a ampla gama de fatores que ameaçam o crescimento atualmente, incluindo inflação, preços altíssimos de energia e problemas nas redes de fornecimento.

A Federal Reserve já vinha monitorando o conflito militar Ucrânia-Rússia. No entanto, o banco central agora precisará ficar de olho nos desenvolvimentos na China durante sua reunião de política de dois dias do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) que terminará na quarta-feira.

“As saídas de capital do mercado de ações chinês se estenderam no pregão de hoje, agravadas pela expectativa de aumento da taxa do Fed de amanhã de 25bps”, disse Warren Venketas, analista do DailyFX, ao Epoch Times. “A divergência entre as políticas do banco central do Fed e do PBoC, respectivamente, é um indicativo das preocupações da China com o crescimento econômico, enquanto as tensões geopolíticas podem prejudicar a demanda por produtos chineses”.

O CEO da Marvell Technology, Matt Murphy, pode ter resumido as condições atuais em uma entrevista recente à CNBC: “Muitos desafios no mundo. Isso não vai embora tão cedo”.

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