Milo Milfort,
A greve de três dias convocada no Haiti pelos sindicatos do transporte público contra o aumento dos preços dos combustíveis, que termina nesta quarta-feira(28), paralisou novamente a capital Porto Príncipe e outras cidades, que se tornaram palco de manifestações massivas.
Não só o transporte no Haiti está paralisado desde segunda-feira passada, mas também o restante das atividades, com instituições públicas e empresas privadas fechadas, o que transformou Porto Príncipe em uma cidade morta.
Embora estes três dias de greve terminem hoje, estão previstas manifestações em todo o país para quinta e sexta-feira, de acordo com o calendário anunciado pelos sindicatos dos transportes.
Já nesta quarta-feira, milhares de pessoas saíram às ruas em Porto Príncipe e outras cidades como Cabo Haitiano e Gonaives para exigir a renúncia do primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, a quem consideram incapaz de tirar o país da crise política sem precedentes em que está mergulhado desde o assassinato em julho de 2021 do presidente Jovenel Moise.
“Quem é Ariel Henry para não exigirmos sua renúncia?”, gritavam os manifestantes em Cabo Haitiano, a segunda maior cidade do Haiti, onde pelo menos um supermercado foi saqueado durante um protesto que a Polícia Nacional dissolveu com gás lacrimogêneo.
Em Gonaives, de acordo com a imprensa local, a marcha foi liderada pelo ex-dirigente rebelde dos movimentos antigovernamentais de 2004 Wilfort Ferdinand, vulgo “T-Will”, rodeado por seus apoiadores.
Enquanto isso, em Porto Príncipe, a Polícia Nacional disparou gás lacrimogêneo e tiros para o ar para pôr fim ao protesto.
Diante disso, alguns motociclistas, revoltados, ergueram barricadas com pneus em diversos pontos da cidade e atearam fogo.
Transporte sem gasolina e hospitais sem combustível
Embora tenha passado mais de uma semana desde que Henry prometeu que voltaria a ter gasolina nas bombas do país, esta ainda não está chegando devido ao bloqueio do principal terminal da capital pelo poderoso líder da quadrilha G9, o ex-policial Jimmy Cherisier, vulgo “Barbecue”, que está fazendo a região metropolitana refém diante da total indiferença das autoridades.
Uma indiferença que chega ao ponto em que o ministro das Relações Exteriores haitiano, Jean Victor Généus, assegurou recentemente ao Conselho de Segurança da ONU que “a situação está globalmente sob controle no Haiti”.
Essas declarações assombraram os cidadãos e a classe política, e várias patronais também se declararam “profundamente surpresas” com observações “irresponsáveis” que não refletem “em nada a realidade” do Haiti.
Além disso, vários hospitais em Porto Príncipe e algumas outras cidades estão paralisados devido à falta de combustível que o país mais pobre da América sofre há mais de três meses.
“A atual crise de combustíveis no país obrigou-nos a implementar um plano de emergência com redução do nosso pessoal e serviços disponíveis, em detrimento dos nossos pacientes”, anunciou o Hospital Bernard Mevs em nota.
Este centro de saúde espera “não chegar ao fechamento total” e, para isso, pede ajuda a todos, principalmente aos fornecedores de combustíveis.
O hospital da Universidade Estatal do Haiti também funciona em ritmo lento. Os pacientes estão em condições deploráveis, com pouquíssimos médicos para atendê-los e em meio a um cheiro nauseante que permeia tudo.
Se a situação persistir, a paralisação sofrida pela saúde poderá estender-se a outros setores, nas vésperas do início do ano letivo, cuja abertura foi adiada devido à situação prevalecente.
Esta escassez de combustível foi acompanhada por um aumento abismal do seu preço no mercado informal e também dos itens básicos, o que encarece ainda mais o custo de vida.
Tudo isso acompanhado pela violência que levou a embaixada dos Estados Unidos a aconselhar seus cidadãos a deixarem o Haiti.
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