Uber está perdendo dinheiro mais rápido do que qualquer outra startup no Vale do Silício. A companhia, que presta serviços de “carona remunerada”, não tem carros ou outros ativos fixos, mas é mais valorizada do que a General Motors e a Ford.
Então, o que torna esta máquina de queimar dinheiro a empresa privada mais valiosa do mundo?
De acordo com Hubert Horan, um especialista na indústria de transportes, a valorização da Uber reflete a expectativa de que um dia todas as empresas de táxis e limusines serão afastadas dos negócios.
“[Eles] estão bem a caminho de atingir esse objetivo em muitos mercados”, disse Horan num relatório.
Mas a Uber não tem a vantagem competitiva e economia de escala que são necessárias para alcançar rentabilidade. Por isso, seu modelo de negócio é totalmente diferente de outros gigantes de tecnologia, como a Amazon.
Horan disse que o rápido crescimento da Uber e o domínio da indústria foram “inteiramente artificiais, impulsionados pelos subsídios predatórios de seus investidores”.
A empresa, que presta serviços eletrônicos na área do transporte privado urbano por meio de um aplicativo e-hailing que oferece um serviço semelhante ao táxi tradicional, já opera em quase 75 mercados. A Uber mais que dobrou suas reservas brutas e registrou 6,5 bilhões de dólares em receita no ano passado, de acordo com um artigo da Bloomberg.
No entanto, a Uber anunciou uma perda maciça de 3,8 bilhões de dólares em 2016, incluindo 1 bilhão de dólares na China, onde a Uber vendeu seu negócio para a rival Didi Chuxing.
A Uber perdeu pelo menos 8 bilhões de dólares desde o seu lançamento em 2009, de acordo com a Bloomberg.
A empresa perdeu quase 1 bilhão de dólares no último trimestre de 2016, um valor enorme para um trimestre e sem precedentes para uma startup, de acordo com especialistas.
Apesar das perdas recordes, a companhia conseguiu levantar 13 bilhões de dólares dos investidores e alcançou uma avaliação de 69 bilhões de dólares.
O modelo da Uber é simples e replicável, mas especialistas dizem que seu sucesso depende de sua capacidade de convencer o mundo de que é uma operadora altamente eficiente que rapidamente crescerá em rentabilidade.
Mas a empresa está longe de alcançar o equilíbrio, de acordo com Horan.
“Se você olhar para seu aspecto econômico, você não consegue encontrar qualquer base para esperar que os resultados financeiros melhorarem significativamente, muito menos atender a diferença de 3 bilhões de dólares necessária para equilibrar suas contas”, escreveu Horan via e-mail. “Eles já cortaram bastante o pagamento dos motoristas e não conseguem encontrar muito mais o que poupar lá.”
Os motoristas da Uber costumavam receber 80% da tarifa de cada carona, mas os dados financeiros recentes mostram uma queda significativa nesta parcela.
A Uber anunciou que ainda tem 7 bilhões de dólares em dinheiro à mão e uma facilidade de crédito inexplorada de 2,3 bilhões de dólares. A empresa não parece necessitar de novos capitais no curto prazo.
A busca de poder
Muitos usuários consideram a Uber melhor do que os táxis tradicionais quando se trata de qualidade de serviço, incluindo cortesia e profissionalismo do motorista, limpeza do carro e disponibilidade em horários de pico.
Mas essas vantagens de serviço são alcançadas por meio de fundos de investidores que subsidiam os motoristas.
O preço abaixo do custo da Uber é usado como uma ferramenta para derrotar seus concorrentes. A Uber corta drasticamente seus preços quando um concorrente entra no mercado, incorrendo perdas substanciais até que ela repele o rival do mercado, dizem os especialistas. Recentemente, motoristas de táxi e as empresas Yellow Cab e American Cab entraram com ações judiciais na Califórnia contra a Uber por preços predatórios.
Ao levantar fundos de investidores, a Uber insiste em termos especiais e restrições, de acordo com relatos da mídia. Por exemplo, a empresa não permite que os investidores coloquem dinheiro em concorrentes, como a Lyft.
Os investidores da Uber incluem a Kleiner Perkins Caufield & Byers (KPCB), uma grande empresa de capital de risco do Vale do Silício; o grupo financeiro multinacional Goldman Sachs; Jeff Bezos da Amazon; e a BlackRock, a maior empresa em gestão de ativos no mundo. A Uber também arrecadou 3,5 bilhões de dólares do Fundo de Investimentos Públicos da Arábia Saudita no ano passado.
A busca da Uber pela dominação da indústria é a única maneira de apresentar retornos decentes aos investidores, de acordo com Horan.
A comunidade de capital de risco do Vale do Silício pode não obter retornos sobre seus investimentos de 13 bilhões de dólares sem a “capacidade de explorar o poder de mercado anticompetitivo”, disse Horan em seu relatório.
“O objetivo da Uber não é meramente uma posição dominante no mercado, mas o controle total das leis e regulamentos que regem a indústria de serviços de carros urbanos”, observou ele.
Ele acredita que as táticas predatórias da Uber são uma grande preocupação para a indústria de transporte. No entanto, nada pode ser feito “até que haja uma maior conscientização de que o modelo de negócios da Uber se baseia em subsidiar os preços e os níveis de serviço para afastar as empresas mais eficientes do mercado, para que a Uber possa então alcançar um poder de mercado quase monopolista”, afirmou ele.
A Uber enfrentou muitas crises recentemente, incluindo alegações de assédio sexual, sabotagem de concorrentes, intimidação de jornalistas e uma cultura corporativa tóxica, o que resultou na saída de pelo menos nove altos executivos nos últimos meses.
A companhia também foi atacada em março por usar uma ferramenta chamada Greyball, que permite que a Uber evite as autoridades em mercados onde seu serviço é ilegal ou quando enfrenta resistência do policiamento local.
“A maioria das pessoas assume que a Uber é uma empresa altamente eficiente, forte e viável. Eles pensam incorretamente que essas ‘questões culturais’ são anomalias que podem ser corrigidas. Mas elas não podem ser corrigidas”, escreveu Horan num e-mail.