A tensão entre administrar para o longo prazo e mostrar bons resultados no próximo trimestre é um dos maiores desafios que os executivos enfrentam. Enquanto os CEOs falam sobre o foco na criação de valor em longo prazo, eles muitas vezes não conseguem resistir à atração ou pressão do imediatismo.
O debate sobre como resolver o problema do imediatismo na América corporativa vem acontecendo há 30 anos. O imediatismo começou nos anos 80 com o conceito de “maximizar o valor para os acionistas”, ou o desempenho dos preços das ações e dividendos. E incentivou as empresas a se concentrarem nos ganhos imediatos.
O guru da administração Peter Drucker resumiu a causa do problema há 30 anos numa frase:
“A necessidade de satisfazer a ânsia de gestores de fundos de pensões por ganhos mais elevados no próximo trimestre, em conjunto com o medo de oportunistas [corporativos], impele constantemente os altos administradores a tomarem decisões que eles sabem serem dispendiosas, se é que não suicidas.”
Hoje, a pressão de Wall Street e dos investidores ainda leva muitos ao pensamento imediatista, que por sua vez se tornou uma desculpa para muitos executivos, de acordo com Gary Pisano, professor de administração da Harvard Business School.
“Muitos gerentes têm dificuldade em administrar para o longo prazo, então eles preferem culpar Wall Street. É um tipo de desculpa como ‘o diabo me fez fazer isso’”, disse Pisano.
Os gerentes de empresas cotadas em bolsas de valores culpam as pressões que enfrentam para se concentrarem no desempenho financeiro de curto prazo. No entanto, há muitos investidores sofisticados que trabalham pela criação de valor em longo prazo, mesmo à custa dos ganhos de curto prazo, e resistem a esforços artificiais para atingir metas de lucros, segundo um artigo coescrito por Tim Koller, um parceiro da empresa de consultoria McKinsey & Company.
“Vale a pena lembrar que os investidores de curto prazo são geralmente uma minoria dos acionistas de uma empresa. Em geral, eles possuem apenas cerca de 25% das ações detidas por empresas norte-americanas”, afirma o artigo.
Empresas voltadas para o longo prazo
Pesquisas conduzidas pela McKinsey e a organização sem fins lucrativos Focusing Capital on the Long Term (FCLT) descobriram que as empresas com foco de longo prazo têm melhor desempenho financeiro em relação a seus pares.
Para identificar um conjunto de empresas de longo prazo, a McKinsey avaliou uma amostra de 615 empresas sobre seus padrões de investimento, crescimento, qualidade de ganhos e gerenciamento de lucros ao longo de 15 anos. Usando esta metodologia, quase 27% da amostra foi classificada como empresas de longo prazo.
A pesquisa mostra que as empresas de longo prazo superaram seus pares em todas as métricas financeiras, incluindo receitas, ganhos e crescimento econômico. Elas apresentaram maiores retornos aos acionistas, ganhando em média 7 bilhões de dólares a mais em avaliação de mercado. E o mais importante, elas criaram quase mais de 12 mil empregos em média do que seus pares.
“Se todas as empresas nos Estados Unidos que são cotadas em bolsas de valores criassem tantos postos de trabalho quanto as empresas de longo prazo, a economia americana teria adicionado mais de 5 milhões de empregos durante este período”, afirmou o relatório da McKinsey.
No entanto, apesar de todos os resultados negativos, o imediatismo ainda está em ascensão.
Segundo uma pesquisa da McKinsey, 87% dos executivos e diretores disseram que se sentem mais pressionados a demonstrar um forte desempenho financeiro no curto prazo.
A pressão foi reavivada durante a crise financeira de 2008 e continua a aumentar desde então, segundo a McKinsey.
Comunicação efetiva
As empresas podem evitar a pressão do imediatismo por meio de uma comunicação eficaz.
CEOs e CFOs gastam tempo excessivo encontrando-se com investidores para explicar seus resultados trimestrais. No entanto, os investidores de longo prazo não se preocupam com os resultados de curto prazo. Em vez disso, eles buscam consistência e transparência dos gerentes na comunicação de sua estratégia de longo prazo.
“Os investidores querem saber como um CEO toma decisões, se a abordagem da empresa está alinhada com a criação de valor no longo prazo e se toda a equipe de administração está cantando a mesma música”, afirmou o relatório da McKinsey.
De acordo com uma pesquisa da McKinsey realizada com investidores, 23 de 24 investidores de longo prazo classificaram a credibilidade da administração como um dos fatores mais importantes na tomada de decisões de investimento.
De acordo com Pisano, uma comunicação eficaz com os investidores é vital, e há muitos bons exemplos.
“Olhe para a empresa Tesla. Ela perde dinheiro, mas há uma aposta no futuro. Os investidores têm muita paciência com a Tesla. … É uma questão de como as empresas se posicionam “, disse ele.
As empresas precisam trabalhar duro para moldar sua base de investidores e ajudar os investidores a entender qual é o seu modelo de negócio e por que é um jogo de longo prazo, disse Pisano.
Os capitalistas de risco, as empresas de capital privado e até mesmo os fundos de cobertura podem ter horizontes de tempo bastante longos, de acordo com Pisano.
Compensação baseada em ações
Outra razão que incentiva o imediatismo é a compensação baseada em ações, que está em desacordo com o crescimento de longo prazo.
Nos Estados Unidos, a compensação baseada em ações representa em média 81% do salário dos executivos, segundo uma pesquisa publicada em 2016 por William Lazonick e Matt Hopkins, da Academic-Industry Research Network.
Com tanta compensação dependente de ações, os executivos são incentivados a manipular os números trimestrais para promover os preços das ações.
“Dependendo do dia, [os executivos] apontam o dedo para uma série de culpados, incluindo a pressão do mercado, a incerteza econômica e os investidores”, afirma o artigo da McKinsey.
“Mas é hora de os executivos darem uma olhada mais séria em si mesmos.”