Zhou Yongkang, o chefe maior da segurança pública chinesa, deu ordem para “fechar o caso” de Li Wangyang dentro de três dias da morte deste último, segundo uma revista política de Hong Kong. O corpo do ativista foi logo cremado.
Li era um ativista da democracia que morreu em circunstâncias suspeitas no início deste mês, chamando a atenção internacional novamente para os abusos de direitos humanos na China.
O relato implicando Zhou Yongkang é a primeira vez que o caso foi associado diretamente ao Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), o poderoso órgão do Partido Comunista Chinês (PCC) chefiado por Zhou que supervisiona a repressão aos dissidentes.
Li Wangyang, que procurou organizar sindicatos independentes durante os protestos da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em 1989, foi encontrado “enforcado” num hospital da cidade de Shaoyang na província de Hunan em 6 de junho em circunstâncias suspeitas. Sua família tinha dito que Li era cego e praticamente surdo devido a 21 anos de tortura nas mãos de seus captores chineses, acrescentando que em sua condição teria sido difícil para ele se suicidar.
No incidente, que recebeu ampla cobertura da mídia internacional, Li foi encontrado pendurado numa barra da janela embora seus pés ainda estivessem plantados no chão. Especula-se que ele foi morto depois que deu uma entrevista a uma emissora de televisão de Hong Kong, dizendo que ele nunca se arrependeria de promover a democracia na China “mesmo se eu fosse decapitado”.
Segundo um artigo da revista Trend de Hong Kong, que recebe informações de pessoas que identifica como fontes políticas, Zhou Yongkang tem enfrentado crescente pressão sobre a morte do ativista, o que pode tê-lo forçado a ordenar a cremação de Li sem o consentimento de sua família. Não está claro se Zhou ou sua agência realmente ordenaram a morte, que foi oficialmente rotulada de suicídio.
Quando Zhou Yongkang proferiu a ordem, o secretário do Comitê Provincial do PCC de Hunan, Zhou Qiang, expressou preocupação, segundo o relatório. Qiang supostamente advertiu Zhou contra aumentar “os problemas e a pressão” sobre o Comitê Provincial de Hunan e o governo, pois isso fomentaria “indignação pública” e poderia ser usado como uma fonte de críticas “por organizações e poderes hostis no país e no exterior”.
No entanto, antes do corpo de Li ser cremado, Zhou ordenou uma investigação sobre sua morte e exigiu que um relatório fosse entregue no prazo de três dias, disse o artigo. Em 6 de junho, no mesmo dia que Li foi encontrado morto, Zhou disse numa reunião que os hospitais e departamentos de segurança pública relevantes deviam encerrar imediatamente relatórios investigativos.
Quando Meng Jianzhu, o diretor da Secretaria de Segurança Pública, telefonou para Zhou um dia após a reunião para obter os “resultados da investigação”, Zhou respondeu que “o caso é complexo, há pontos suspeitos, [e do corpo de Li] aguarda autópsia por um perito médico forense”, segundo a revista.
Em 8 de junho, o departamento de segurança pública da cidade de Shaoyang realizou uma autópsia sem o consentimento da família de Li e sem testemunhas de terceiros. Um dia depois, Yin Zhengan, um amigo de Li, disse à publicação que o corpo do ativista havia sido cremado.
Em 6 de junho, “Zhou Yongkang ordenou a conclusão do inquérito em três dias”, diz a análise da revista Trend. “Assim como esperado, o corpo foi destruído três dias depois, em 9 de junho. Nada foi deixado para ser verificado”, acrescentou o texto.
Paul Guo, um ativista pró-democracia no estrangeiro, divulgou no Twitter que os executivos no CAPL são suspeitos na morte misteriosa de Li.
Guo identificou três principais suspeitos na morte: Zhou Benshun, o secretário-geral da Comissão Central Político-Legal, que serve como chefe da Secretaria de Segurança Pública Municipal de Shaoyang; Zhou Luxiang, o chefe dos guardas de segurança da Secretaria de Segurança Pública da cidade de Shaoyang; e Li Xiaokui, o chefe da Secretaria de Segurança Pública Municipal de Shaoyang.
Essas três agências são todas controladas pelo CAPL de Zhou Yongkang.